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Curta que será exibido na 33ª Mostra de SP aborda relação entre família e homossexualidade

Com estreia prevista para a 33ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece entre os dias 23 de outubro e 5 de novembro na capital paulista, o curta "A mais forte", de Ricky Mastro, une dois temas sensíveis – família e homossexualidade -, para contar a história de amor entre dois homens.

No filme, Alberto (Joaquim de Castro) e Rafael (Rodrigo Dorado) dividem um apartamento juntos. Quando Alberto sofre um acidente de carro e morre, as mães dos jovens, Raquel (Nyrce Levin) e Mariana (Imara Reis), têm que absorver o impacto da perda e tratar da divisão de bens. É nesse ponto que "A mais forte" revela o embate de personalidade entre as duas mães, que até então viviam distantes das vidas dos filhos.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro revelação na Latino Screenplay Competition, em Los Angeles, no último mês de janeiro, "A mais forte" foi produzido pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e escolhido entre 12 roteiros em uma banca de 10 professores, composta pelos cineastas Djalma Limongi Batista e Suzana Amaral.

Nesta entrevista exclusiva, o diretor Ricky Mastro comenta sobre a temática de seu curta, fala da expectativa de estrear em um festival tão importante como a Mostra e diz que seu único objetivo com o filme era "desconstruir preconceitos". "A sociedade nos desumaniza e adoramos isso", critica. Confira a seguir.

De que forma você pensou o roteiro do filme?
Eu sempre lido com uma palavra para começar o brainstorm de um roteiro – a primeira foi a palavra perda, depois foi incompreensão. Na minha concepção o que eu mais achava que incomodava os gays era a falta de compreensão das mães em relação a sua sexualidade e como isso era um fator de distanciamento entre mãe e filho.

O filme trata de uma questão complicada: o direito de um gay receber herança deixada pelo companheiro morto. Como você se aproximou dessa temática em seu curta?
O curta tem duração de 17 minutos. O ponto central do filme vai além disso: Raquel percebe que seu filho foi se afastando dela porque ela quis. Logo, como voltar atrás no tempo e recuperar essa aliança? É muito simplista achar que o filme é só uma questão de espólio – é bem mais profundo. Raquel, a mãe de Alberto, não é uma vilã, é uma senhora com valores bem arraizados que tem como único vínculo o apartamento do filho – deixar o apartamento, vendê-lo ou dividi-lo seria deixar o filho realmente ir embora. O filho morre no outono, ela só vai ao apartamento na primavera e lá acontece uma série de descobertas. É muito complicado e fácil falar sobre um preconceito que está encravado nas nossas mentes há mais de 2 mil anos. Não basta querer tirá-lo, tem que desconstrui-lo.

Você acha que seu filme tem essa função? Derrubar preconceitos?
Acho que mudar uma pessoa já é uma grande coisa. Também acho que derrubar preconceitos é uma palavra forte demais, não é? Desconstruí-los eu acho melhor – deixar nós gays mais humanos. Acho que o estereótipo está aí – gostamos da "perfumaria" gay, cultivamos esse mito, sofremos na hora de sair do armário e fazemos questão de sermos os melhores, os mais criativos, os mais belos – tudo na base do exagero. A sociedade nos desumaniza e adoramos isso. Se você notar, Stonewall aconteceu em 68, quando estava surgindo a cultura pop. Será que não podemos lançar um questionamento em relação a isso? Será que não queremos ser superstars? O filme apresenta de maneira humana um casal – não importando se ele é gay ou não – a história poderia ser a mesma, exatamente a mesma se o menino fosse rico e a menina pobre. Preconceito social, sabe, a mãe achando que a menina estava tirando vantagem do filho morto. Desconstruir é a melhor palavra, mostrar que somos iguais. E o melhor: deixar registrada a nossa história, por que se não a contarmos, quem irá contar?

O filme vai estrear na 33ª Mostra de SP. A expectativa é muito grande?
O filme já tinha ganho o prêmio de roteiro revelação na Latino Screenplay Competition em Los Angeles, em janeiro desse ano. Estou bastante ansioso para saber a reação do público.

É muito diferente o filme ser exibido em uma mostra mais ampla do que em um festival de temática homossexual, por exemplo?
Não faço esse critério. Acho que exibir um filme já é muito difícil – principalmente com uma temática que foge aos padrões normais de um filme comercial. Muita gente reclama da temática, até os próprios gays, mas mais uma vez repito: se não contarmos a nossa história, quem contará? Iremos achar que os direitos que adquirimos hoje são novidade, mas eles foram adquiridos há muito tempo, perdidos e reconquistados.

Como aconteceu a escolha do elenco? As atrizes já haviam trabalhado com você em outro curta, não?
Escrevi o roteiro pensando nas duas – eu já tinha trabalhado com a Nyrce [a atriz Nyrce Levin] e a tinha na cabeça. A Imara [a atriz Imara Reis] já "namorava" com ela, e os meninos foi uma escolha perfeita porque acho que os dois são excelente atores, faltava uma oportunidade para trabalhar com eles. O [Rodrigo] Dorado fez uma ponta no "Cinco minutos", meu último curta em 35 mm…

Algum outro projeto para o futuro?
Sim. Um chamado "O moletom azul" e outro chamado "Pássaro negro". Estou mega empolgado com os dois.

E o do que falam os filmes?
Em "O moletom azul", após uma noite pelas ruas desertas de São Paulo, um jovem estrangeiro se encontra com um velho agasalho azul e sua maior descoberta. Já em "Pássaro negro", uma mulher de traços indígenas atrai pessoas de todas as idades para um lugar desconhecido. Durante esse dia, ela descansa em uma velha e abandonada casa no bairro de Campos Elíseos, que contém apenas uma cadeira de balanço, um grande espelho e uma foto que a atormenta. Depois de encaminhar cada uma de suas vítimas para uma viagem desconhecida e definitiva, ela é atraída pelo menino da foto de cabelos ruivos ardentes para uma jornada sem volta.

:: Assista abaixo ao trailer de "A Mais Forte":

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