Imagine um conto de fadas em que a rainha fosse lésbica. É assim que começa a história da peça “Cypriano e Chan-ta-lan”, de Luiz Antônio Martinez Corrêa e Analu Prestes, em cartaz no Teatro Oficina, em São Paulo. Misto de fábula com teatro de revista, o espetáculo conta a história do rei Cypriano em busca de sua amada, a camponesa Chan-ta-lan, seqüestrada nos Jardins Suspensos da Babilônia.
Delirante e precursora do desbunde do teatro brasileiro dos anos 70/80, a peça foi escrita no período mais duro da ditadura militar. O universo onírico, mais do que uma fuga, era um ato de resistência. Por isso, desfilam durante o espetáculos personagens que não se adequam aos padrões vigentes – muitos deles que perduram até hoje.
Assim, além da Rainha Mab (interpretada por Camila Mota), lésbica que faz de tudo para conseguir um beijo da borboleta, tem também um Sol (Guilherme Calzavara) gay e kitsch e sua consorte, a Lua (Naomy Scholling), é feminista, ensina artes de sedução e entre seus súditos estão um homem afeminado e uma mulher masculinizada.
Subvertendo todos os códigos, Cypriano e Chan-ta-lan é um espetáculo difícil de ser classificado. Pode ser entendido como infantil – e muitas mães e pais efetivamente levam seus filhos para ver. Mas é do Teatro Oficina, com direção do Marcelo Drummond. Ousado, o diretor colocou os viadinhos da floresta todos nus.
Vale lembrar que Luiz Antônio Martinez Corrêa, um dos nossos mais talentosos e criativos dramaturgos e diretor, morreu assassinado a punhaladas por um garoto de programa, um crime ainda não esclarecido cuja história consta no clássico Dias de ira, de Roldão Arruda, livro que narra as mais cruéis mortes de gays no Brasil.
Serviço:
Cypriano e Chan-ta-lan
Teatro Oficina
Rua Jaceguay, 520 – Bixiga.
Sábados, às 21h; domingos, às 19h
Informações pelo tel.: (11) 3106-2818
Ingressos: R$ 30 (R$ 5 para moradores do Bixiga, com apresentação de comprovante de residência)