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DASPU subverte conceito de moda e passarela com prostitutas e michês em SP

Com a Fashion Week acontecendo na cidade de São Paulo, boa parte das pessoas acabam por estar envolvidas ou serem atingidas por notícias sobre esse e aquele desfile. Porém dificilmente devem ter lido ou sabido do desfile das meninas da DASPU, grupo fundado por Gabriela Leite e outras meninas que foram, ou ainda são, profissionais do sexo.

"Todos os desfiles da DASPU a gente faz nos espaços mais improváveis possível. Por exemplo, no Rio de Janeiro a gente fez em uma escola de samba, no Unidos da Tijuca" explica Gabriela, fundadora da grife e da OngdaVida, pois a idéia de criar uma grife era justamente essa, um meio de levantar fundos para a ong que faz projetos e luta por direitos para as meninas que trabalham com prostituição.

"A marca é para sustentar a ONG, bancar os projetos sociais", conta Natalia A., do grupo de estilistas e designer da FUMEC, universidade de Belo Horizonte que fez parceria com a DASPU nesse desfile, "a história começou quando a DASPU foi fazer uma palestra na nossa universidade. No final da palestra fomos falar com eles sobre uma parceria. O tempo passou e a DASPU entrou em contato com a coordenadoria do curso e com isso montamos um coletivo dividido em dois núcleos: moda e estilo; Gráfico, que são os meninos do grafite da passarela".

Sobre a realização do desfile na Praça Roosevelt Gabriela explica, "aqui nós estamos trabalhando a história do teatro, toda a revitalização desse espaço sagrado para o teatro e para a prostituição, por isso resolvemos mostrar isso aqui". Quem estava por lá também era o ator Gero Camilo que faria uma intervenção baseada na peça "Navalha na carne" de Plínio Marcos, "esse evento é a subversão da estética da própria moda, você é capaz de dar corpo estético ao que, a principio, é marginalizado, com isso a estética rompe, vem a arte e faz a passarela brilhar".

Sobre o tema "As cruzadas – entre o botão e a espada", Natália, do coletivo de Profissionais do Ramo, explica que o tema surge da própria vida das prostitutas, "toda vez que a menina vai trabalhar ela fala que está indo pra batalha. Além da batalha do trabalho, ela também enfrenta a batalha cotidiana do preconceito. E aqui tudo tem duplo sentido: as cruzadas pode ser tanto a das batalhas quanto as cruzadas de pernas".

Em relação ao desfile acontecer na semana da Fashion Week, Gabriela conta que "é de propósito. Nós jamais seremos convidados pra lá, e também não sabemos se queremos e, de mais a mais a gente aproveita a semana da moda e assim mostramos a nossa moda que é da rua". Gero Camilo acha a idéia da contraposição a Fashion Week perfeita, "a questão está exatamente aí. Quantas vezes a burguesia se apropria do nosso criativo? A partir do momento que a gente dá essa resposta, revoluciona uma ótica fechada sobre o belo. A gente carnavaliza o belo".

Teatro e moda, Camilo revela um tanto da intervenção que faria com Paula Cohen, "eu vou cantar para a Paula Cohen que virá como Neusa Sueli, personagem que ela faz em "Navalha na carne" junto comigo e com o Gustavo Machado, ela vem como a Neusa e cria esse elo para o desfile da DASPU". E realmente foi visceral a intervenção da dupla. Pomba gira, cachaça arremessada e perversão marcaram a apresentação.

Quem também esteve por lá e desfilou foi a travesti Andréia Albertini que ficou famosa por conta da história envolvendo o jogador Ronaldo. "O convite surgiu graças a minha amiga Claudia Wonder, ela falou de mim para a DASPU e eles ligaram pra mim". Andréia fala da sua relação com a grife que assim como ela é carioca. "Eu tenho várias roupas da DASPU, eu já conhecia do Rio e já tinha ido a outros desfiles e achava os modelos maravilhosos", confidencia. A moça também fala sobre o desfile ser em um espaço público, "achei maravilhoso, não é fechado para aquele público seleto, é para quem estiver passando e quiser ver".

Momento antes de iniciar o desfile houve certa tensão com o produtor do Cultura Artística. Gabriela não mede palavras sobre o acontecido, "o que me deixa emputecida com essa história é que, essa rua aqui, que eu conheço muito bem por conta da minha juventude… Ninguém mais passava por aqui. Aí chegou o povo desse teatro (O Satyros) e revitalizou isso aqui. Hoje os móveis valem mais, e esse povo fica reclamando".

Na seqüência você pode conferir o desfile e outros momentos na galeria de fotos.

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