Nunca um casal gay esteve em tanta evidência no cotidiano político internacional como o formado pelo brasileiro David Miranda e o jornalista americano Glenn Greenwald.
Tudo começou quando Miranda foi detido em uma escala no aeroporto de Londres, em agosto, e interrogado pelas autoridades britânicas durante nove horas.
Na ocasião, o brasileiro foi acusado de transportar documentos do ex-agente de inteligência americano Edward Snowden. Após a liberação, Miranda chegou ao Rio de Janeiro e resolveu entrar com uma ação contra o governo britânico exigindo a devolução dos materiais apreendidos com ele e uma revisão judicial da legalidade de sua detenção.
Agora, durante uma audiência ocorrida semana passada sobre à ação de Miranda, um documento chamado Folha de Circulação de Portos, elaborado pela Scotland Yard em consulta com a agência britânica de contra-espionagem MI5, afirmava que o brasileiro estava envolvido com terrorismo e por isso sua detenção no aeroporto foi legítima.
David Miranda ao lado de Greenwald após 9h de interrogatório
"A inteligência indica que Miranda provavelmente está envolvido em atividades de espionagem, com potencial para agir contra os interesses da segurança nacional do Reino Unido. Nós avaliamos que Miranda transportava conscientemente material cuja divulgação colocaria em risco a vida das pessoas", diz trecho do documento.
"Além disso, a divulgação, ou a ameaça de divulgação, pretende influenciar um governo e é feito com a finalidade de promover uma causa política ou ideológica. Isso, portanto, corresponde à definição de terrorismo”, finaliza o texto.
Apenas das afirmações do governo britânico, David Miranda não foi acusado de nenhum crime. Os novos detalhes de como e por que as autoridades britânicas decidiram agir contra ele, incluindo trechos dos documentos da polícia e da agência MI5, serão divulgados em uma importante audiência marcada para ocorrer ainda nesta semana.
Segundo as autoridades britânicas, os itens apreendidos com Miranda incluíam mídia eletrônica contendo 58 mil documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e da agência britânica de monitoramento eletrônico GCHQ.
Glenn Greenwald, namorado do brasileiro, é responsável por divulgar em matérias publicadas na imprensa documentos sigilosos da NSA (Agencia de Segurança Nacional dos Estados Unidos). Em um e-mail à agência Reuters, Greenwald condenou o governo britânico por rotular as ações de David como "terrorismo". "Eles estão absolutamente e explicitamente igualando o terrorismo ao jornalismo", declarou o americano.
O casal durante depoimento no Senado brasileiro
Ainda de acordo com as autoridades britânicas, o brasileiro segue em investigação por seu “papel de mensageiro” ao transportar documentos que podem facilitar à ação de Greenwald em revelar mais material sobre a NSA.
"Nossos principais objetivos contra David Miranda são compreender a natureza de qualquer material que ele esteja transportando e mistigar os riscos para a segurança nacional que este material representa", declarou o governo britânico em comunicado.
Indignado com a detenção do namorado no aeroporto e sobre o desenrolar do caso, o jornalista chegou a declarar que as atitudes do governo não passam de ações opressoras à liberdade de expressão.
"Este é, obviamente, um profundo ataque sobre o processo de coleta de informações para o jornalismo. Já é bastante ruim perseguir e prender fontes. Pior ainda é tentar prender jornalistas que relatam a verdade, sem falar a detenção de membros da família e entes queridos dos jornalistas: isso é simplesmente despótico, opressor", desabafou Glenn Greenwald.
David Miranda e Glenn Greenwald estão juntos há 9 anos e moram no Rio de Janeiro