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Depois de O Segundo Sexo, nunca mais fomos as mesmas

Tá certo que os primeiros grupos feministas datam do período trotskista, no inicio da revolução comunista da Rússia. Porém, com o advento do stalinismo, as mulheres subversivas e libertárias foram caladas pela ditadura. Nessa época, os movimentos feministas desenvolveram muitas teses a respeito do gênero.

O caldo ficaria ainda mais denso quando no ano de 1939 Simone De Beauvoir escreveria a ultima linha de sua obra fundamental, O Segundo Sexo, que foi dividida em duas parte e publicada entre os anos de 1941 e 1943. Beauvoir iniciou um debate que até hoje divide corações a respeito da condição feminina: a mulher não existe e não passa de uma criação da cultura masculinista, portanto, o sujeito feminino ainda não libertado.

Depois da publicação de seu livro, a escritora foi proibida de entrar em vários lugares, os conservadores da época a consideravam imoral, afinal, além de sua obra, Beauvoir vivia um casamento aberto com o também filósofo Jean Paul Sartre. Por sorte, “O Segundo Sexo” atravessou oceanos e chegou aos Estados Unidos. Lá, a escritora foi recebida por inúmeras faculdades e obteve o grande reconhecimento acadêmico. Suas idéias também influenciariam profundamente os movimentos feministas, que até então se pautavam pelo debate essencialista, baseado na questão biológica.

A mulher então começaria a romper com o espaço em que a sociedade masculina queria lhe encerrar: o lar. Unidas, as mulheres decidem que é hora de ir à política, lutam pelo direito ao divórcio, mesmo sabendo que serão discriminadas e também levantam o debate a respeito de quem seria a mulher?

Muitas podem afirmar que desejam igualdade de direitos e acesso perante aos homens; outras que querem simplesmente viver como amélias (essas mulheres acredito que estão em extinção). Afinal de contas, a mulher, provocada pela famosa frase de Beauvoir – a gente não nasce mulher, torna-se mulher – foi construir a sua identidade. Fácil não foi e ainda não é. O sujeito feminino ainda está ligado, em boa parte das mentalidades, ao que há de abjeto e fraco.

Uma recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo só confirma isso: a cada dois minutos uma mulher é agredida. O estudo ainda revela que há homens que justificam as agressões dizendo que na segunda vez elas aprendem. Infelizmente, o dia 8 de março ainda tem esse lado macabro: o sexismo, mal que afeta mulheres e homens fora do padrão imposto pelos masculinistas.

Os debates em torno do gênero e sexualidade é a grande prioridade deste inicio de século. É necessário trabalhar o legado deixado por Simone De Beauvoir e pelas feministas. Precisamos fortalecer cada vez mais a ideia da liberdade feminina na casa, no trabalho, no cotidiano e principalmente na política. Vale lembrar que a participação da mulher na política ainda é baixa e isso se dá por motivos óbvios: machismo e misoginia, dois males que ainda assolam, inclusive, espaços gays. Homossexuais masculinos, em boa parte, padecem de um triste machismo com lésbicas e gays afeminados. Mais uma vez o feminino é rejeitado.

Quando a presidenta Dilma Rousseff tomou posse afirmou que “sim, a mulher também pode” Em um país onde ainda se morre por ser mulher, ter a mandatária mor uma parceira do gênero deveria ser motivo de orgulho para todas nós. Mas, a unanimidade não existe. Hoje o Brasil é governado pelo gênero que incomoda e que está, aos poucos, dando o tom na política brasileira e construindo a sua identidade, não a partir do prisma masculinista, mas sim do feminino. A mulher feita a partir do olhar da mulher. Deixaremos de ser, aos poucos, uma criação fetichistas dos homens.

Feliz dia da mulher!

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