Um dos candidatos eleitos da campanha "Vote LGBT", o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) cometeu uma gafe durante a abertura do "9º Encontro Regional Sudeste de Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans" e foi corrigido em coro pelo grupo na noite de terça-feira (16).
Durante o evento que ocorreu no prédio da ALESP – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo – ele tratou as travestis diversas vezes no masculino, utilizando o artigo "o". E gerou uma espontânea reação da sala, que pediu o respeito à identidade de gênero e artigos femininos no tratamento a uma travesti ou mulher transexual. Ou o tratamento masculino aos homens trans.
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Após um coro de "é 'a' travesti", o deputado ficou desconcertado e pediu desculpas, dizendo que é sempre tempo de aprender. "O (educador e filósofo) Paulo Freire pregou o fim da educação bancária, em que os professores colocavam o conhecimento na cabeça dos alunos. Ele inverteu a lógica e disse que professores aprendem. A Luciana Genro também aprendeu com vocês".
A abertura contou ainda, dentre muitos convidados eleitos e de secretarias do Estado de São Paulo, com a deputada estadual Leci Brandão, o deputado estadual Ramalho da Construção e a secretária da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, Eloisa de Sousa Arruda, Cássio Rodrigo, que parabenizaram pela conquista de promover o debate sobre o grupo de travestis e transexuais dentro da ALESP.
TELEVISÃO FAZ COISAS ESTEREOTIPADAS
Leci lembrou quando fez uma música à diversidade "Ombro Amigo" em 1978 – um grande escândalo para a época – e quando nos anos 70 o Teatro Rival, no Rio de Janeiro, mostrou que travestis como Rogéria e Valéria são grandes artistas. Ela frisou que é importante ocupar espaços conservadores e deu uma alfinetada na representatividade na televisão.
"A televisão brasileira sempre tenta evidenciar esse assunto, mas ele tem que ser feito com respeito e tem que ser feito com um recorte da legitimidade, da importância da qualidade de vocês quanto cidadãos. Porque às vezes as pessoas fazem umas coisas meio estereotipadas, meio capengas, que não tem legitimidade", disse, sendo aplaudida na sala.
EMPREGO PARA TRANS
Membros da comunidade T, bem como Luciano Palhano, coordenador do Instituto Brasileiro de TransMasculinidades, Janaina Lima, presidente do Conselho Municipal de Atenção a Diversidade Sexual, Agatha Lima, Secretária do Conselho dos Direitos da População LGBT, Nicolle Mahier, presidente do Fórum Municipal de TT, Gil Santos, do Fórum Paulista de Travestis e Transexuais também fizeram seus discursos.
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Janaina apontou para a responsabilidade de quem participa do evento e da própria militância nas estatísticas, preconceito e evoluções. "Depois de 10 anos de Encontro, ainda vemos um deputado falar 'o travesti'". Já a organizadora Fernanda de Moraes falou aos deputados e demais políticos sobre a importância de terem travestis e transexuais em seus gabinetes. "Eles e elas vão trabalhar tão bem quanto qualquer outra pessoa".
Neste momento, Ramalho da Construção declarou que já havia dois gays exercendo cargos. Fernanda respondeu: "Mas eu não estou falando de gays, estou falando de travestis, mulheres transexuais e homens trans". O silêncio frente à desinformação de políticos sobre o grupo T, mesmo aqueles que se dizem friendly, respondeu por si só.
O evento, que vai até a sexta-feira (19), contou ainda com o Hino Nacional cantado por Renata Peron e as performances do ícone Marcinha do Corinto, Taís Sousa e Rachel Shineyder.
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