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“Despertamos a libido dos machões”, diz Ciro Barcelos, do Dzi Croquettes

Ciro Barcelos está matando a saudade. Aos 61 anos, o ator, coreógrafo e diretor brasileiro revive como figura experiente o antigo e icônico grupo que um dia foi caçula, o Dzi Croquettes. Um marco da cultura brasileira. 

+ Dzi Croquettes retorna a SP com duas únicas apresentações

 
Sucesso nacional e internacional e agraciado por Liza Minelli, o grupo transgrediu as normas de gênero, os papeis sociais e questionou com batom e peito peludo e salto alto a sociedade dos anos 70. Sim, em plena ditadura militar! 
 
Após 40 anos, Ciro traz uma nova formação – que conta com o ator Bruno Gissoni no elenco – e mostra que o espírito Dzi continua atual e transgressor

Em São Paulo, duas únicas apresentações, nos dias 11 de 12 de julho, vão movimentar e surpreender a plateia do HSBC Brasil. E você não pode perder!
 

O A CAPA conversou com exclusividade com o artista: 
 
– Há 40 anos, o Dzi Croquettes revolucionou chocou a sociedade e transgrediu o cenário artístico do Brasil e do mundo. Não acha no mínimo curioso que hoje, com a nova montagem, ele ainda seja sinônimo de “transgressão”?
 
Diferente da primeira formação do grupo, que era uma resposta à ditadura militar, a  decisão e inspiração de fazer esse novo espetáculo sugiram depois que observei o interesse da nova geração em cima do documentário Dzi Croquettes (de Tatiana Issa e Raphael Alvarez). Depois pensei que constataria a transgressão em cima do palco e com a reação da plateia. Parece mentira, mas o Dzi Croquettes continua transgressor, subvertendo os valores morais da sociedade. E a gente percebe isso não só com as pessoas que aplaudem em pé, mas também com quem vai embora no meio do espetáculo. 
 
– Você acha que isso se deve porque, depois do fim da ditadura, houve um encaretamento, o fim da busca por liberdade? 
 
Acho que a sociedade vive um momento de cultura de massa, que chega a se tornar opressora. Então, o transvanguardismo cultural estagnou. Nós tivemos um movimento forte nos anos 70, de transgressão, subversão, em meio a um regime militar, que tornava a coisa mais difícil. Depois, tivemos os anos oitenta com um movimento bacana na música e no teatro. Mas dos anos 90 pra cá foi desandando. Daí já entra o processo da arte virtual, da vida virtual e percebo que a geração ficou sem rumo. Não há mais sinalizadores e encorajadores, como o Caetano (Veloso), Martins Correa, que nos estimulava a transgredir. Hoje, há uma acomodação, que a mim me incomoda muito e que me fazia insatisfeito com o que assistia. 
 
– No Brasil há várias montagens de musicais. Como avalia? 
 
Há uma invasão da estética americana de se montar espetáculos, que acho lindo, respeito e acho importante estar aí. Até porque dá uma formação aos nosso bailarinos. Mas, por outro lado, acho que há uma radicalização na linguagem do teatro musical brasileiro. E é nesse resgate, da tropicalidade cênica, que trazemos a nossa forma de transgredir, num processo antropofágico cultural, que joga todos os ingredientes, mistura e faz um sabor totalmente diferenciado. Com sabor de rebeldia. E é por isso que trazemos esse espetáculo forte, com humor, com muita dança, com corpos nus, que lida com a libido de uma forma contundente. E, é claro, com um texto forte, transgressor, que questiona e faz a plateia pensar e refletir sobre a vida e o processo de moralidade. 
 
– Sempre quis saber: o que os gays falavam para vocês nos anos 70?  
 
Foi a primeira plateia a amar o espetáculo, embora nunca levantamos bandeira gay, pois nem a palavra existia. Nos anos 70, estávamos na liberdade sexual, todo mundo transava com todo mundo: meninos com meninos, meninas com meninas. Era bem mais livre do que é hoje, que estamos confinados a guetos e a um tipo de comportamento. Naquela época, existia um clima de androginia, onde o cara não precisava se assumir homossexual para transar com outro garoto. O prazer contava em primeiro lugar. Eu fui surfista, os meus amigos surfistas (héteros) iam assistir. De certa forma, a gente misturava todo mundo, pois abrimos a cabeça das pessoas. Estávamos além dessa classificação. 
 
– Outra dúvida. Vocês foram censurados por transgredir as questões de gênero e tiveram que ir à Portugal. Mas shows de travestis e transformistas continuavam em clubes, certo? Por que houve essa busca em cima específica de vocês? 
 
O transformista ou a travesti não comprometiam o cidadão. As pessoas viam um cara vestido de mulher, agindo com mulher, dentro de uma forma. Mas quando o cara machão hétero ia com a esposa assistir ao Dzi e se sentia atraído por aqueles corpos masculinos dançando, aí comprometia, ameaça. A gente despertava a libido desses caras. A censura disse que era o texto, o nu, as cores amarelas usadas. Mas a gente sabia que começou haver uma transformação do público e atingiu profundamente essa sociedade. As pessoas voltavam questionando os valores, a garotada começou a sair usando batom, vestido meio homem e meio mulher. 
 
– Você tinha 17 anos quando entrou no Dzi. Como foi viver essa experiência tendo que sair do Brasil? 
 
Foi uma experiência inenarrável. De repente, a gente se vê em Portugal. Depois, a Liza Minelli nos leva a Paris. E, quando abre a cortina, está Mick Jagger, David Bowie todos esses grandes nomes sentados para assistir ao espetáculo. Éramos a grande atração da temporada, então foi tudo muito forte. Mas eu estava amparado. Éramos em 13 e eu era o caçula, o mais mimado. Pude lidar de uma forma tranquila. 
 
– Como lida com a saudade? É tranquilo mexer nessas memórias? 
 
Neste momento, eu estou matando a saudade. Eu tô vivendo isso de novo, de certa forma. É engraçado porque eu não sabia dessa saudade até assistir ao documentário. Fui perceber ela depois do filme. E senti mais amor pelos anos, admiração pelo que fizemos quanto grupo. 
 
– E como está sendo matar a saudade? 
 
Hoje é mais gostoso, porque tem maturidade cênica. Na época, eu era um garoto e não tinha muita consciência do que estava fazendo. Além disso, os meninos são super queridos, amigos, estamos juntos há seis anos e há o espírito Dzi no ar. É bacana porque eu fui o caçula e, hoje, eu faço o papel do pai. Para mim, é como exercer tudo o que aprendi com muito amor e muita paixão. É o fechamento de um ciclo, que ficou aberto e que ficou para eu fechar. 
 
– Lembro que antes do Bruno Gissoni entrar, você havia convidado o Rodrigo Simas, que é irmão dele. Não rolou com o Rodrigo? 
 
O Rodrigo foi uma história parecida com a do Bruno. Eu estava sendo jurado do Dança dos Famosos, gostei da apresentação e o convidei para fazer. Mas ele estava sem tempo por conta das novelas. O incrível ocorreu que no ano passado eu voltei como jurado e estava o Bruno. Só que a história foi o contrário. Ele me ligou e disse que gostaria de entrar para o Dzi, que seria um desafio para a carreira… Fiz um teste e vi que ele teria que ralar muito. Mas ele arregaçou as mangas, com muita dedicação e coragem – porque precisa de coragem para um galã da Globo usar salto alto e ficar de bunda de fora – e entrou. Isso é muito bacana porque descobri que ele não é só ator, ele é artista. 
 
– O espírito do grupo hoje é parecido com o que vocês tiveram? 
 
Eles se relacionam como irmãos, sem briga, com afetividade. Eles também tem muita liberdade em cena. É claro que eles tem a base técnica, mas eles também podem criar, inventar piadas… Quando eu vejo, estou morrendo de rir de uma piada nova no palco. Só não moramos juntos como morávamos na época, pois os tempos são outros, mas nada impede no futuro. 

 
– Quem assistiu ao documentário e leu a entrevista, o que pode esperar do Dzi Croquettes nas apresentações do dia 11 e 12? 
 
Muita surpresas. É um espetáculo muito dinâmico, com beleza plástica, figurinos extraordinários, performances quase no limite da resistência física. Temos um número de flamenco, que é uma pauleira, que levanta o púbico, que aplaude em pé no meio do espetáculo. Quem vier vai se divertir muito e vai voltar para casa satisfeito.
 
– Tem algo que gostaria de acrescentar?
 
Somente que se no Rio nós temos público, em São Paulo nós temos plateia. Que venham todos. 

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