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Destaques GLS: Ficou apaixonada pelo gogo boy? Confira 7 micos pós-parada

Assassinato de um turista francês (2007), um homem teve a perna amputada após cair de trio elétrico (2008), uma bomba feriu dezenas numa esquina do Arouche (2009)…A Parada Gay de São Paulo “morreu” mesmo simbolicamente, como se comentou aqui na semana passada.

O que era para ser um capítulo de direitos humanos virou de novo assunto para as páginas policiais mais sangrentas. Quem perde tempo chutando cachorro morto já se assanha com investigações sobre a caixa-preta das tesourarias do movimento homossexual brasileiro.

Atualmente, há mais de cem paradas e eventos similares no país. No próximo ano, será um relevante palanque eleitoral. De boas intenções, sabemos, o inferno está cheio. Foi só burrice gastar R$ 50 mil para fazer uma rampa temporária na Paulista com Consolação só para manter o fetiche de que “ocupamos a avenida mais famosa da cidade”?

Enquanto o mundo lá fora encena, pela enésima vez, essa farsa grotesca de “preocupação sincera” com as vítimas da intolerância, prefiro perder meu tempo com o microcosmo daquelas pessoas que conseguiram adicionar uma novidade real em suas vidas após a semana de eventos sob o pretexto da Parada Gay.

Das histórias que ouvi, observei e acompanhei nos últimos anos, eis uma compilação de sete micos que costumam explodir depois da 
temporada do Carnaval gay.

1- “Não era amor, mas só uma transa acidental”

Matar o cio é a prioridade de muitos durante a Parada. São Paulo é um paraíso. Com o olhar ou gesto certeiro, arranja-se fácil um sexo casual nas ruas, bares e clubes. É como um zoo: homens de todos os tipos, olhos de todas as cores, corpos de todas as alturas e formatos. Naquele cantinho do inconsciente, escondidinho, há quem sonhe em transformar uma transa rápida e animalesca em um relacionamento ou até um grande amor. Idealização demais, frustração na certa. Não morra por isso.

2- “Me apaixonei por um gogo boy ou michê”

Na cidade com mais gogo boys e garotos de programa no país, os corpos musculosos e sarados marcam a memória de quem se inicia na noite gay ou está na fase de descoberta de seus desejos homoeróticos. Com os hormônios à flor da pele, não é raro ficar hipnotizado por algum dançarino a ponto de pedir seu telefone ou sentir que aquele michê é o homem de sua vida. Se estatística e empirismo valem para alguma coisa, fuja dessa roubada. As histórias de amor envolvendo a categoria são exceções.

3- “Estou amando alguém de outra cidade”

O melhor da Parada é encontrar gente de outras cidades. Esse choque de percepções enriquece o repertório de ambos os lados. O problema é o drama de se apaixonar por alguém que mora distante. Se o sentimento se torna sério, alguém terá de ceder, mudar, enfim, uma solução para os encontros terá de surgir a contento. Se há muito ciúme, mentira ou interesse financeiro de uma das partes, é uma dor de cabeça. Não se precipite em se jogar nessas aventuras drásticas de trocar tudo por um bofe.

4- “Fui roubada após um beijo de amor”

Beijar na boca é um dos esportes da micareta gay. Há chupões de boca de horas. Nem se impressione. Há casos que tanta “paixão” no beijo é só efeito de algumas drogas. Para os românticos, pode ser o início de uma história de amor. Quem curte “boy” sofre mais. A carência acumulada confunde a razão, minimiza os perigos e, pimba!, rolam golpes como “boa noite cinderela”. Reconstrua a autoestima, esqueça a vergonha, converse com alguém experiente e confiável. Há sempre uma pulsão de morte ao brincar com “boys do mal”.

 5- “A primeira overdose ninguém esquece”

Com o domingo frio, houve abusos na avenida. A indústria, muito esperta, botou o sangue de boi em garrafinhas de plástico. É no Carnaval mesmo que se toma o primeiro ou pior porre. Isso nem é mais um problema, já que drogas detonam um vexame bem assustador. Ecstasy, GHB, Special K, cocaína, enfim, muita gente experimenta sua “bad trip” durante a folia gay. A ressaca moral é braba. Se rolar blitz e prisão, é queima filme na certa. Prometa uma reabilitação, limpe sua imagem, monte um projeto de caridade ou uma ONG.

6- “Peguei HIV no barebacking”

Se sua fantasia era protagonizar “Calígula”, não havia lugar melhor: novas saunas, orgias e encontros reais de comunidades de sexo do Orkut…Um slogan da época do terror da Aids ainda está atualíssimo: quem vê cara não vê Aids. Ele é um deus grego, mas tem o vírus. Se está revoltado com sua situação e o mundo, pode até te infectar intencionalmente. Sem falsos moralismos: você tem o direito também de querer ser infectado, de receber o “presente”, no seu momento “Crepúsculo” (“te amo, não tenho medo, quero morrer com você”) ou no pior caso de depressão suicida (“barebacking” é uma roleta russa para quem já desistiu da vida, mas não quer sair de cena bruscamente). Se foi só acidente, irresponsabilidade sua de dispensar a camisinha, corra para fazer o teste, trate-se e busque um grupo de apoio.

7- “Estou atolada em dívidas”

O ano parece ser dividido entre antes e depois da Parada, como se fosse o nosso Réveillon. Fizemos investimentos, perdemos dinheiro com decisões erradas (nunca escolha uma festa pela boniteza do flyer ou mantras da mídia), detonamos no cartão de crédito, seja no delírio consumista do “eu mereço, eu posso, eu não vou ser tombada pelas outras”, seja pela fantasia do “dia de princesa”, gastando mais do que suas posses nas ruas 25 de Março, Oscar Freire ou Daslu, ou nos bares e restaurantes badalados. Não adianta reclamar que a cerveja custa 3 vezes mais do que em outros lugares do país. São Paulo tem as melhores opções para tudo, mas apenas para quem tem muito dinheiro. Aprendeu a lição? Não, nunca aprendemos, somos imperfeitos movidos à atenção, à carinho e ao toque. Quem gozou, gozou. Quem não gozou, talvez não tenha perdido grande coisa. Bom ano para todos.

*Sérgio Ripardo é jornalista e autor do “Guia GLS SP” (Publifolha). Fale com ele: http://sergio.ripardo.blog.uol.com.br/.

Foto: Daia Oliver

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