A polícia investiga a suspeita de que um garoto de programa é o assassino de um médico, em um crime com requintes de crueldade, no centro de São Paulo. O corpo do cirurgião da Santa Casa de Santo Amaro foi enterrado no último sábado(17/01), em Diadema (Grande São Paulo). Ele foi encontrado com sinais de estrangulamento, só de cueca, de bruços, com as mãos amarradas com fios de telefone, no chão da sala do seu apartamento, situado no número 643 da rua Marquês de Itu, na Vila Buarque (região central da capital). Daniel de Miranda tinha apenas 30 anos, morava sozinho e já foi médico-tenente da Marinha.
Na tarde desta segunda-feira, a polícia voltou ao edifício Isola Di Capri, que fica ao lado da Santa Casa de Misericórdia, como acompanhou Destaques GLS. Fitas de vídeo do sistema de segurança podem ajudar a identificar o assassino. Daniel morava no segundo andar –a janela continuava aberta, com a cortina azul para fora, devido ao mau cheiro no local. O corpo foi encontrado quase três dias depois do assassinato. Os policiais não quiseram dar detalhes sobre as investigações. A família não quis falar com a imprensa durante o enterro.
Destaques GLS conversou com vizinhos e conhecidos de Daniel. No restaurante Sabor e Arte, points de médicos e enfermeiros, no mesmo quarteirão do edifício do cirurgião, a morte de Daniel foi o principal assunto na hora do almoço. Colegas comentavam que ficaram chocados com a notícia. No salão onde costumava cortar o cabelo, na Marquês de Itu, conta-se que ele era bastante discreto, não falava muito e sempre pedia que seu cabelo fosse cortado com lâmina 1 da máquina. Uma amiga disse que a polícia falou já ter pistas sobre o assassino.
Moradores do edifício Isola Di Capri contatados por telefone por Destaques GLS contam que nem a faxineira suspeitou do desaparecimento de Daniel. Foi o porteiro que, ao distribuir a correspondência, percebeu o mau cheio exalado do apartamento de Daniel. O prédio tem outros profissionais de saúde como moradores. A rua Marquês de Itu é bastante freqüentada pelo público GLS, pois abriga clubes como Ultradiesel e ABC Bailão, além de ser um point de prostituição masculina, embora o trecho onde fica o Isola Di Capri (na fronteira com o bairro de Higienópolis) seja mais residencial.
O envolvimento de garotos de programa em mortes de clientes serve de alerta para os gays que levam estranhos para encontros em suas residências. O perigo não pode ser minimizado, pois é a vida que está em jogo. Atualmente, na região central de São Paulo, é comum encontrar michês viciados em crack que, por causa da droga, fazem qualquer negócio para conseguir uns trocados para comprar a pedra.
* Sérgio Ripardo é jornalista e autor do "Guia GLS SP" (Publifolha). A coluna Destaques GLS é publicada semanalmente às quartas-feiras e ocasionalmente terá edições extraordinárias.