O português coloquial é rico em expressões populares para a masturbação, uma das necessidades vitais do homem: pecar na mão, empinar pipa, descascar a banana, descabelar o palhaço, tocar uma bronha, espancar o careca, bater castanhola, esfolar a cabeça do galo, socar pilão, tocar umazinha…
Muitos garotos descobrem sua homossexualidade na masturbação (solitária, acompanhada de um amiguinho ou em grupo), teste infalível para se investigar a própria orientação sexual.
Para muitos, as gírias de masturbação citadas no primeiro parágrafo chocam a sensibilidade por serem classificadas como "termos chulos". Aprendemos, na família, na escola, na igreja e no trabalho, que a nudez e o sexo são motivos de vergonha, de censura, apesar do consumo crescente de fotos e vídeos do gênero, principalmente na internet.
Em São Paulo, prolifera uma nova modalidade dessa "indústria da punheta". No centro, "lan houses" prometem "privacidade" aos seus usuários. Como? O micro fica em uma cabine fechada e livre para acessar qualquer conteúdo adulto, sem restrição. O serviço é ideal para homens no armário, que não podem deixar rastros da pornografia gay em seus micros pessoais, atualmente um dos principais alvos de mulheres desconfiadas.
O que rola nas cabines?
Visitei dois estabelecimentos e percebi que os gays (assumidos e discretos) ajudam a alavancar esse negócio, que desponta em uma região de decadência dos cinemas pornôs, antigos redutos de "quem faz justiça com as próprias mãos".
Os mais jovens, que nasceram com o mouse na mão, parecem preferir a objetividade dos cliques e a variedade de opções de conteúdos eróticos na internet.
Ninguém quer perder tempo nem dinheiro. A "lan house do sexo" cobra R$ 3,50 por uma hora. Há cinemão com ingresso de R$ 18. Nas "lan houses do sexo", o cliente pode usar a webcam para espiar cenas reais de sexo e, entre as quatro paredes de plástico de sua cabine, pode se masturbar tranquilamente.
A maioria tenta se controlar na respiração, nos gemidos, nas fricções. Em cada estação, há fones de ouvido, ou seja, os outros usuários não precisam ouvir o som do vídeo que você acabou de baixar.
Nos lugares visitados, só entra uma pessoa por cabine, que tem espaço para uma única cadeira, o micro e um cestinho de lixo, algo providencial para recolher camisinhas (assim não suja a roupa) e lenços de papel.
Em São Paulo, a lei nº 12.228, de janeiro de 2006, obriga a lan house a criar e manter cadastro atualizado de usuários. São cinco dados que o cliente tem a obrigação de fornecer: nome, data de nascimento, endereço completo, telefone e número do documento de identidade, que precisa ser apresentado. Esse procedimento visa ajudar a polícia a investigar crimes virtuais cometidos na rede.
Em uma das lan houses, encontrei no histórico de buscas do Google termos como "fotos de pedofilia" e também diversos sites (héteros) de "teens". Também vi gente procurando "sexo com cachorros" e até "sexo com anões".
Nicks são expostos
Nomes de nicks usados em sites de relacionamento e de comunidades virtuais são exibidos na tela. Nas "lan houses do sexo", encontrei páginas e perfis de garotos de programa visitadas por usuários anteriores, além de galerias de fotos e vídeos. Não deixe a cabine sem fechar o MSN nem deslogar o Orkut. Não seja uma vítima de roubos de dados pessoais nem deixe seu armário ser escancarado em uma "lan house".
Também não encane com esses riscos na hora de afiar o lápis, do cinco contra um. Em uma época de prazes e amores efêmeros, de desejos cronometrados e cheios de rótulos e tags, nada melhor do que o conselho daquela ex-ministra: relaxa e goza!
Serviço
Rua Conselheiro Crispiniano, em frente à loja Kalunga (atrás do Teatro Municipal), acesso por escada, em cima do estacionamento
Avenida Vieira de Carvalho, esquina com rua Aurora, acesso por escada, ao lado do bar Habeas Corpus
*Sérgio Ripardo é jornalista e autor do "Guia GLS SP" (Publifolha). Fale com ele: sergio.ripardo@uol.com.br