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Dicas de como manter uma relação segura e saudável com um sorodiscordante

O número de relacionamentos entre pessoas sorodiscordantes – quando um dos parceiros (as) tem HIV e o outro (a) não -, têm crescido nos últimos anos. Entretanto, muitas pessoas ainda têm dúvidas de como lidar com essa situação.

Namorar alguém que seja portador do vírus, mesmo que esse seja indetectável, é motivo de pavor para muita gente. As dúvidas não obstante aparecem. Questionamentos de "como manter uma relação saudável" e "quais os riscos que o soronegativo corre e quais cuidados devem ser tomados para evitar uma infecção" acabam, inexoravelmente, surgindo. Pensando nisso, conversamos com um casal sorodiscordante para saber como é o relacionamento dos dois e quais cuidados devem ser tomados para manter uma relação segura e saudável.

*Os entrevistados serão identificados como Lucas e Manoel (L&M).

L&M iniciam a conversa enfatizando a importância do diálogo e da compreensão. Para eles "em uma relação sorodiscordante, é imprescindível que haja muito diálogo entre ambos/ambas. Afinal, estamos lidando não só com saúde física, mas com a saúde mental e social. Seja o motivo que for, sejam claros e transparentes em suas pontuações. Em relação ao medo, ao sexo, às DST´s, à prevenção, ao relacionamento em si, as intenções da relação."

A preocupação com o bem-estar de ambos é imprescindível. O casal salienta a importância do conhecimento da saúde tanto de um quanto do outro (a).

– Acompanhar de perto, à risca, como anda a saúde do seu cônjuge é essencial para ter um relacionamento sorodiscordante saudável.

Em relação ao soropositivo, é importante que o soronegativo tenha conhecimento sobre como anda a carga viral de seu cônjuge, como o mesmo lida com a doença, quais os impactos sociais que o mesmo está sentindo, como a relação está ou pode estar sendo afetada em relação à doença, se o cônjuge está fazendo tratamento à risca, qual a importância que o mesmo dá para o tratamento, se existem outros fatores que impossibilitam o tratamento de seu/sua parceir@. É importante também que ambos tenham conhecimento dos efeitos colaterais da medicação, para que ambos possam dialogar sobre uma vida saudável.

Em relação ao soronegativo, é importante que o soropositivo acompanhe de perto se seu/sua parceira faz exames constantes (o essencial é que seja de três em três meses) para DST´s e AIDS. É importante que o soropositivo tenha consciência de que eventualmente o soronegativo possa sentir medo ou crise em relação ao HIV. Portanto, é muito importante que o soropositivo tenha muito diálogo e transparência em relação ao seu estado de saúde, e o modo como o/a parceiro/a encara a doença.

Assim como o soronegativo tenha clareza e conhecimento sobre seu quadro de saúde, afinal não é só a AIDS ou DST que existem como doenças. Para eles, o segredo de uma boa relação é livrar-se do medo constante de se infectar o que não significa deixar de se prevenir.

– Um dos principais erros das relações sorodiscordantes é a perda do medo da doença, e, devido a isso, pararem de se cuidar – talvez pela indetectabilidade da pessoa sorodiscordante, ou então, pela falsa impressão de que a doença, nos dias atuais, não mata e/ou não é séria. É preciso o uso de preservativos, lubrificante ou saliva – tipo, muita, se for anal, ( ou lubrificação). Entretanto, não é preciso viver às custas do medo. Transem à vontade, gozem muito e sejam muito felizes. Sexo protegido, principalmente se a pessoa soropositiva é indetectável, anula em cerca de 96% da chance de contágio. Por isso ressalto a importância de seguir o tratamento à risca e ambos fazerem exames constantemente.

Importante: Não façam sorologia apenas para HIV. Façam todos os exames para DST´s possíveis, indicados. 

Aos soropositivos: Hemograma, CD4 e CD8 (linfócitos – responsáveis pelo sistema imunológico), outras DST´s, carga viral, etc. Aos soronegativos, é importante que façam os exames de todas as DST´s disponíveis.

O diálogo e a informação deve fluir de forma natural; se necessário procurem ajuda de especialistas, ressalta Manoel.

– É importante que o casal tente não trazer para a relação o peso que o HIV pode trazer, tanto de cunho social como individual. E nisso eu ressalto a importância do acompanhamento, principalmente psicoterápico, no CTA. Conversando, tirando dúvidas, "abrindo o jogo" em relação à doença com o/a outro, de modo simples e que tenha como intuito resolver os questionamentos é imprescindível. Dialogar como uma conversa comum, como de fato é – ou deveria ser, ajuda muito a naturalizar a doença, sem banalizá-la. Afinal, não dá pra viver com medo o tempo todo. É importante que esse diálogo parta dos dois. E não unicamente de uma das partes.

O respeito, assim como em qualquer relação, deve ser mútuo.

– Existem, em um relacionamento sorodiscordante abusivo, formas muito cruéis de relação de poder. Portanto, o respeito mútuo é essencial.

– Jamais usar, em brigas, discussões, termos pejorativos contra o soropositivo – como Aidético, sujo.

– Jamais culpabilizar o outro pela infecção – numa relação sexual consensual em que ambos optaram por não se proteger. (Mesmo que para o soropositivo o peso da infecção seja mais para ele, do que para o soronegativo).

– Ao soropositivo, nunca pense que não haverá outra pessoa que te aceitará por sua condição.

– NUNCA se submeta às ofensas e ataques, e jamais aceite que o/a parceir@ te diminua ou te reduza por sua sorologia.

– Ao soronegativo, jamais pense que você esteja em privilégio em relação ao soronegativo. São condições distintas e não existe hierarquia na relação, apenas cuidados distintos que precisam ser tomados, tanto do ponto de vista individual, como social e na própria relação.

Para finalizar, Lucas, que é o criador da página no Facebook Eu e Ele, que conta com mais de sete mil seguidores, dá dicas de cuidados essenciais que devem haver em todas relações.

– Estes métodos são importantes em qualquer relação amorosa, seja discordante ou soroconcordante negativa ( – Emoticon heart – ), ou positivamente (+ Emoticon heart +). Afinal, não existe apenas o HIV como doença sexualmente transmissível, apesar de, em termos de cura, ela ser a mais perigosa e exigir mais cautela.

Graças aos medicamentos que atenuam bastante o agravamento do HIV e a informação cada vez maior ao alcance de todos, ser soropositivo não é motivo para se envergonhar. Tirem todas as dúvidas possíveis e se permitam amar e ser amado. HIV é uma doença séria, mas com um tratamento eficaz, que não só prolonga a vida do portador, como permite uma qualidade de vida saudável e perfeitamente normal; de forma alguma ela tem que ser encarada como um fardo, ou mesmo como se fosse o fim. Permita-se ser feliz e Boa sorte!

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