Na semana passada o mundo do futebol foi palco de uma pequena polêmica. Uma série de matérias do jornalista Ricardo Gonzáles publicadas no globoesporte.com, com o título princial “Projeto de lei joga luz sobre homossexualismo no esporte” circulou pela internet em sites sobre esportes. A matéria dizia que com a aprovação da lei 5003/01 de autoria da deputada Iara Bernardi (PT-SP) pela câmara dos deputados, os jogadores que utilizarem “os termos ‘veado’ e ‘bicha’, comuns no futebol e ditos no calor da disputa, poderão levar quem os diz a ter de se explicar na Justiça”, como aconteceu no caso do jogador argentino acusado de racismo ao chamar um adversário de “macaco”. Claro que na matéria não foi citada o nome da deputada autora da lei e nem sua importância na conquista dos direitos GLBT. Em outra matéria abordando a relação dos jogadores com o preconceito, foi perguntado a alguns jogadores o que eles achavam da aprovação do projeto. De acordo com a matéria Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, sequer sabia da aprovação da lei. Já Souza, lateral do São Paulo chegou a dizer: “Vou te contar… Tantos problemas para os caras (políticos) resolverem e eles fazem um projeto desses. É brincadeira!” É brincadeira digo eu. Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro alguns pontos. Palavras como “gay”, “veado” e “bicha” não são ofensivas, pelo menos não na minha opinião. Independente da forma em que são ditas ou por quem são ditas. Elas podem até carregar uma grande carga pejorativa e uma intenção de ofender ou agredir a moral de alguém, principalmente para aqueles que sentem sua heterossexualidade e masculinidade ameaçadas. Como vivemos numa sociedade em que ser macho e viril é tido como a norma, acabamos, sem ter consciência, por reproduzir valores machistas e até homofóbicos. Como eu não gosto de partilhar desses valores, essas palavras não são ofensivas para mim. Além do que, existe muita informação errada sobre o estilo de vida gay, o que faz que as pessoas tenham uma visão distorcida do que é ser gay. Problemas dela, não meu. Por isso que eu costumo dizer e com muito orgulho que sou veado sim, e daí? Claro que muitos gays sofrem por conta dessas palavras. Quando se é criança, por exemplo, pode ser traumatizante ser chamado de “bichinha” na escola. Mas depois que se sai do armário e que se vive bem com sua orientação sexual, isso não deveria mais ocorrer. Depois, os jogadores não precisam temer uma “caça as bruxas”. O projeto de lei em questão não prevê isso. Pelo contrário. Esta lei propõe que atitudes discriminatórias em decorrência da orientação sexual ou identidade de gênero sejam consideradas crime. Acredito e espero que, em primeira instância, a lei ajude a diminuir o número de agressões físicas aos homossexuais e, em seguida, resolva questões desagradáveis que ainda fazem parte do nosso cotidiano, como alguns comércios expulsarem gays de seus estabelecimentos. Acredito que para deixar de ser considerado ofensiva, palavras como veado ou bicha, a mudança de postura em relação a isso dever vir primeiro da gente que é gay. Quem sabe um dia um jogador de futebol deixe de chamar outro de veado simplesmente por que ser homossexual não é uma coisa ruim.