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Dilma e os fundamentalistas

Em maio deste ano todos os sujeitos que acreditam numa sociedade progressista, aquela que de alguma maneira tenta romper com velhas normas, ficaram chocados com a postura da presidenta Dilma Rousseff ao vetar o Kit Escola Sem Homofobia diante de um lobby da bancada fundamentalista, que ameaçava convocar o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci para explicar o seu enriquecimento acima da média. Palocci caiu e não explicou e o Kit foi pro limbo, ou se preferir, pra gaveta e talvez pereça por lá.~

À época Dilma declarou que não seria permitido a propaganda/ incentivo de nenhuma “opção sexual”, mas que o governo é contra a homofobia. É mesmo? Quando candidata Rousseff disse que seria obsessiva em torno da questão dos Direitos Humanos, um branco parece que lhe acometeu. De lá pra cá o governo federal optou por dar as mãos à bancada fundamentalista e esta não se furtou e pressiona o governo por todos os lados, fazendo com que este governo que se elegeu sob a figura do feminino, da ex-guerrilheira torturada abandonasse tais símbolos e se enrolasse nos lençóis do conservadorismo.

Alem do claro apoio aos fundamentalistas, o governo federal se cala diante dos crimes homofóbicos, que cotidianamente ocupam os principais meios de comunicação. Dilma na ONU falou da mulher, dos índios, mas uma vírgula sequer  sobre o sexismo e sobre os LGBT. Este papel, por incrível que pareça, coube ao mandatário de uma das nações mais conservadoras do globo, Barack Obama, USA. Com todas as suas contradições Obama foi a campo bater de frente com os fundamentalistas do Tea Party, que, assim como os de cá, querem impor uma sociedade masculina e teocrática.

No silencio e na calada vários setores esperavam que o governo fosse mudar a sua postura, mas eis que nas ultimas semanas fato assombroso aconteceu nos corredores da Esplanada. Ficamos sabendo que o conselho da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) resolveram não renovar o contrato com Teresa Cruvinel, sua antiga diretora. O motivo divulgado seria a mudança de foco do canal. Ótimo, mas pena que não foi bem assim.

Longe das editorias dos jornais o que foi divulgado é que ao vetar os programas religiosos do canal estatal, Cruvinel despertou a ira dos setores religiosos. Em reunião do conselho do canal o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), foi atuar como porta voz da presidência, leia-se Dilma Rousseff, para defender a volta dos programas religiosos ao canal com a desculpa que a retirada destes do ar “estaria afetando a imagem do governo junto da população”. O que pega mal é rasgar a constituição que é Laica e privilegiar duas religiões: católica e a neo – pentecostal. O pior de tudo é que o discurso do senador PTista estava em consonância com Anthony Garotinho (PR-RJ) e Marcelo Crivella (PRB-RJ), ambos nunca tinham participado de nenhuma reunião do conselho.

Crise
É fato que nos dias atuais parte do Partido dos Trabalhadores tem se aliado ao que há de pior na política nacional para se manter no poder ou a ele chegar. Nada mais. Porém, esta crise se alastra para todos os outros partidos, infelizmente. Temos alguns personagens políticos que se destacam por um trabalho realmente transformador dentro do Congresso Nacional, mas estes são empurrados a se tornarem vozes no deserto, se quiserem ir adiante, tem de se adequar ao sistema operante desta velha máquina.

Ao analisarmos de perto os principais partidos do jogo nacional, PSDB X PT, pouca diferença há entre eles e hoje há municípios e estados que estas duas legendas caminham de mãos dadas. O que surge diante de nossos olhos é o abandono da política e do sujeito em prol da economia. As pessoas desaparecem diante da nova (ou velha?) postura de tais partidos. E sabe por que isso ocorre? Por que os sujeitos que se diziam “revolucionários” aderiram ao economês e esqueceram-se da crítica ao Capitalismo.

De críticos do capital a adoradores do sistema financeiro. De defensores do Estado Laico a adoradores dos partidos religiosos como meio de se manter no poder. O pior de tudo é que tal conjuntura tem feito surgir nos espaços legislativos uma força que o Brasil nunca conheceu e que só tende a crescer e pior de tudo, com o apoio político dos principais partidos políticos do Brasil.

A crise está na esfera da crítica. Esquerda e direita no Brasil atuam para manter o status, estão conservadores no sentido que apenas atuam para manter o Capitalismo e com a crença de que é possível humanizá-lo… Humanizá-lo? Mas como isso se os citados agrupamentos hoje alimentam idéias que partem de uma crença sexista, excludente e homofóbica? A crise é profunda e parece não ter saída, pelo menos não tão cedo.

Por um bom tempo continuaremos sob o conservadorismo da “direita” e da “esquerda”. Mas durante este tempo de crise é preciso repensar as formas e ideologias de representação/ participação. Necessário pensar a partir do prisma da destruição para talvez encontrar um caminho para além deste labirinto que aí está posto.

É preciso recuperar a política e o sujeito para além da democracia e da igualdade, termos que hoje estão esvaziados de significados.

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