O dia começou mais tarde neste sábado ensolarado em Berlim, ainda sob os efeitos da festa de apresentação do júri do Teddy Award, no Schwuz, em Kreuzberg. O júri composto por nove curadores de festivais de cinema LGBT, incluindo uma brasileira (Beth Sá Freire, diretora do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo), vai eleger os melhores filmes de temática LGBT apresentados no Festival Internacional de Cinema de Berlim, nesta 25ª edição do Teddy Award.
Até o final dos anos 70, os filmes gays apareciam aqui e ali, esporadicamente. Manfred Salzgeber era dono de um cinema de arte que exibia todos esses filmes. Quando ele começou a trabalhar no Festival de Berlim, em 1982, ele sonhava em criar uma espécie de Nouvelle Vague do cinema gay, mais ou menos como aconteceu uma década depois nos EUA, com o New Queer Cinema. Com esse objetivo, ele e Wieland Speck, atual diretor da seção Panorama, na época assistente de Salzgeber, criaram em 1987 o Teddy Awards, prêmio oficial do festival.
A iniciativa não poderia ter sido mais bem sucedida. Naquele ano, levaram o prêmio pra casa dois jovens cineastas ainda pouco conhecidos: Pedro Almodóvar (na foto, ao centro, ao lado de Antonio Banderas e Victoria Abril, em 1990) e Gus Van Sant. O prêmio, na época ainda um ursinho de pelúcia, foi colocado num envelope e enviado pelos correios para os dois diretores.
O ursinho ainda representa o maior prêmio para filmes de temática LGBT, mas hoje em dia ele é de bronze e vem acompanhado de um cheque com alguns milhares de euros. A cerimônia de premiação é prestigiada pelo prefeito gay de Berlim, Klaus Wowereit, e às vezes por astros como Javier Bardem e Nina Hagen. A festa que vem a seguir é bafo.
Este ano 32 filmes concorrem ao Teddy Award nas categorias melhor longa-metragem de ficção, melhor documentário e melhor curta. Como acontece todo ano, será conferido um prêmio especial pelo conjunto da obra, desta vez para o artista e ativista sul-africano Pieter-Dirk Uys. O local escolhido para celebrar os 25 anos vai ser um hangar do aeroporto desativado de Tempelhof. Nem precisa dizer que vai ser bafo, né?
* Suzy Capó é presidente da Festival Filmes, primeira distribuidora de filmes de temática LGBT no Brasil.