Foi celebrada ontem à noite a 25a edição do Teddy Award, premiação oficial do Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) para os melhores filmes com temática LGBT nas categorias longa-metragem de ficção, documentário e curta-metragem. É um prêmio destinado a dar visibilidade e promover filmes com essa temática, mas a cerimônia de ontem deixou claro que ele é acima de tudo de um evento político que vai existir enquanto houver no mundo discriminação e perseguição com base na orientação sexual.
A mensagem política foi transmitida e reiterada em vários discursos durante cerimônia glamourosa, que ganhou destaque nos principais jornais do país e foi prestigiada pelo prefeito gay de Berlim, Klaus Wowereit, pela dupla de artistas franceses Pierre & Gilles, pelo diretor da Berlinale Dieter Kosslick e, claro, pelo diretor da seção Panorama e co-fundador do Teddy Award, Wieland Speck.
A locação não poderia ser mais perfeita: o aeroporto de Tempelhof, que foi desativado há alguns anos mas que tem uma importância histórica para a cidade. Era nesse aeroporto que chegavam os mantimentos para a população, quando a União Soviética isolou a cidade, localizada no centro da antiga Alemanha Oriental. Além de simbolizar resistência e liberdade, o aeroporto traduz com perfeição o charme de Berlim, uma cidade austera ao mesmo tempo que é sexy e louca.
Devo confessar que a cerimônia de duas horas é sempre bastante tediosa. As atrações deste ano deixaram muito a desejar e a mestre de cerimônia, Annette Gerlach, não ajuda. Mas o poder político que esse evento representa compensa cada segundo de tédio.
A entrega de prêmios e performances foram intercalados com os tradicionais discursos de Wowereit, Speck e Kosslick. Além deles, o cineasta Rosa Von Praunheim e o performer e ativista sul-africano Pieter-Dirk Uys, grande homenageado da noite, subiram ao palco para lembrar ao público que embora eventos como esse sejam possíveis em Berlim, eles não podem acontecer em várias partes do mundo, inclusive em localidades bem próximas da capital alemã.
De certa forma, as escolhas do júri desta edição refletiram essa vocação do Teddy Award para dar voz a segmentos marginalizados. Com exceção da menção honrosa conferida a um filme da seção Panorama ("Tomboy", de Céline Sciamma), todos os demais prêmios foram dados a filmes da seção Forum e Forum Expanded, que apresentam uma seleção de filmes mais experimentais e políticos.
Barbara Hammer levou mais uma vez o Teddy Award para melhor curta-metragem pelos curtas "Maya Deren’s Sink" e "Generations", esse último co-dirigido em parceria com Gina Carducci. O prêmio para melhor documentário foi entregue para Marie Loisier, "The Ballad of Genesis and Lady Jaye", um filme sobre o projeto de pandroginia levado a cabo por um casal que decidiu se tornar uma única pessoa por meio de cirurgias plásticas. Pode soar esquisito, mas esse é provavelmente o filme mais romântico que assisti durante a Berlinale.
A maior surpresa da noite ficou por conta do Teddy Award para melhor longa-metragem de ficção, para "Ausente", de Marco Berger. Despretensioso e de baixíssimo orçamento, o segundo longa do diretor argentino desbancou o favorito "The Mountain", produção norueguesa que provavelmente teria levado o troféu se não tivesse chegado aos ouvidos do júri que os produtores não querem que o filme seja "rotulado" como lésbico.
Bom, quem levou a melhor foi Berger, que recebeu o prêmio das mãos de Pierre & Gilles e estava feliz da vida ostentando o troféu na festa após a premiação, uma das mais animadas dos últimos anos.
* Suzy Capó é presidente da Festival Filmes, primeira distribuidora de filmes de temática LGBT no Brasil.