Na sexta-feira (11/04) aconteceu a 1ª Conferência Estadual GLBT de São Paulo. Era por volta das 20h30 quando as autoridades presentes foram convocadas para a mesa de abertura, enquanto alguns delegados ainda se credenciavam. Apesar do grande número de participantes, as inscrições foram suficientes para todos e nenhum confusão, mesmo com as longas filas, foi notada.
Compuseram a mesa de abertura o Secretário da Justiça do Estado, Luiz Antonio Marrey; os deputados Paulo Teixera, Simon Pedro, Carlos Giannazi; o subsecretário de Direitos Humanos, Perly Cipriano e Irina Bacci, coordenadora da organização da Conferência.
“É preciso concentrar os esforços para acabar com a homofobia e oferecer plenitude de direitos aos GLBT”, destacou em sua fala o Secretário de Justiça do Estado, Luiz Marrey, que foi representado o governador do estado, José Serra. Disse ainda, em entrevista exclusiva ao site A Capa, que “as portas do Estado estão abertas”. Leia entrevista completa aqui.
Na mesma linha, os outros discursos também defendiam o combate a homofobia e a luta para igualdade de direitos aos homossexuais. “É impossível pensar em democracia plena se não erradicarmos a homofobia no Brasil”, afirmou Perly Cipriano, que posteriormente conversou com exclusividade ao site.
Já o deputo Giannazi cumprimentou os delegados representantes do interior do estado e ainda disparou: “O interior é extremamente homofóbico”. O deputado federal Paulo Texeira disse que “considero os GLBTs superiores, pois eles lutam o cotidiano, apesar do preconceito”.
No entanto, veio de Irina Bacci o discurso mais aplaudido. Além de ser enfática a respeito do deputado Waldir Agnelo por ter apresentado PL para que revogue a lei anti-discriminatória, "não é possível uma pessoa homofóbica como ele ter tanto poder", foi além: "o estado defende a heteronormatividade, como se fosse a genitália que definisse quem somos".
Entre o público estava Berenice Bento, convidada para participar da mesa de abertura e lançar o seu livro, "O que é transexualidade?". Alegre e muito assediada, a pesquisadora revelou aquele encontro ser "histórico, primeiro por que foi convocado pelo estado, um reconhecimento fundamental, e já podemos ver aqui vários segmentos reunidos". Sobre as políticas de gênero do estado, afirmou que "o estado maquia: agora temos políticas de gênero, mentira. É tudo muito abstrato".
Paulo Teixera, deputado federal, que também compunha a mesa afirmou antes da abertura que "esse acontecimento [conferência] é a afirmação da omissão do estado. Quem fez isso acontecer foi a militância e pode resultar numa exigência para que o estado saia da omissão, fazer com que o legislativo se mova".
O deputado ainda falou sobre como é necessário transcender o governo. "É preciso que as políticas voltadas para os GLBT não sejam mais de governos, e sim políticas de estado, quando transformadas em políticas de estado elas transcendem os governos".
Quem também estava ali para a abertura, marcada para as 20h30, era o Deputado Estadual Simon Pedro (PT-SP). "A conferência é a possibilidade real da construção de políticas públicas GLBT. Temos muita discriminação e o estado tem dado passos pequenos, é preciso dar mais visibilidade". Sobre a união civil disse que "ainda é difícil, a sociedade ainda é muito conservadora, nós poderíamos ter avançado, por isso a luta é importante, sem ela não há conquista e a conferência é um exemplo disso".
A mesa se desfez e o deputado Simon Pedro ainda disparou contra a ausência do governador do Estado. "Olha, ele não foi à conferência da juventude, dos negros e do meio ambiente. Por que viria nessa? Na verdade ele tem desprezo pela participação pública, fez por que foi obrigado".
Eduardo Santarella, do programa Brasil Sem Homofobia, lançado em 2004 pelo governo federal, enfatizou algumas das conquistas do programa. “De concreto, nós temos os centros de referências, a idéia é que as principais capitais tenham. E agora esperamos que com a conferência nacional, após enviarmos uma carta ao congresso e ao governo federal eles [deputados e senadores] assumam isso, pois é uma necessidade, não temos amparo legal. E ainda temos que resistir a bancada evangélica. No dia 22 de abril eles farão uma marcha contra a conferência nacional e contra o PLC 122".
Por fim, a abertura da Conferência terminou com Leci Brandão no Hall Monumental. Sambista, negra, feminista e libertária assumida, Leci cantou em frente a uma imagem imensa de Cristo crucificado.
"Estar aqui é um privilégio, me sinto lisonjeada. Imaginem no começo da minha carreira: sambista, negra e feminista. Fui isolada muitas vezes. Mas, quando me tornei artista assumi essa causa, assumi as minorias. Eu gosto é de pessoas!", disse Leci. Sim, todos nós gostamos de pessoas.