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Disparatada: Dilma, você usa camisinha? Qual a sua fantasia?

Não temos mais dúvida quanto ao retrocesso do governo de Dilma Rousseff em relação aos direitos sexuais e reprodutivos. Nos últimos dias, mais um material educativo que abordava a temática da diversidade sexual não agradou a presidenta. Depois de ser divulgado como vídeo carro-chefe da campanha de prevenção às DST/Aids para o Carnaval, as imagens voltadas aos jovens gays foram retiradas do site do Ministério da Saúde com a justificativa de que agora, em vez de ser exibido na TV aberta, só vai poder ser usado nos lugares fechados frequentados por este público.

Poderíamos imaginar que o que se produziu foi um vídeo com uma sequência de cenas típicas da pós-pornografia, que provoca escândalo na maior parte das pessoas que o assistisse. Ou que não seria apropriado para a imagem dos gays que está cada vez mais higienizada. Mas, não. É absolutamente careta e institucional. Infelizmente, está longe de ser um material erotizado. A erotização da camisinha se faz necessária para a abordagem preventiva porque para ampliar o seu uso é urgente torná-la mais sedutora e menos brochante.

As reações contrárias a censura presidencial merecem todo o nosso apoio, evidentemente. Mas, cabe-nos refletir sobre alguns pontos que me parecem bastante reveladores do atual momento político-moral-sexual que vivemos no Brasil. Por exemplo, é fundamental perceber como em uma realidade de escassez corremos atrás das migalhas. Porque a luta é pela exibição de um vídeo água com açúcar e não por outra coisa com a cara da maioria das bichas que vão trepar durante o Carnaval, com camisinha ou não.

Imaginem se o vídeo do ministério for mesmo exibido dentro dos espaços fechados dos animados bailes de Carnaval? Vai quebrar o clima! É contraproducente. Ele só serve mesmo para a conservadora TV brasileira, afinal, nem beijo tem! Por isso, o seu veto absurdo nos revela o quanto à realidade em nosso entorno é absolutamente conservadora, moralista e preconceituosa.

Imaginem se as bichas, como os demais jovens, precisassem mesmo destas campanhas para ser convencidas a usarem o preservativo, iriam continuar vulneráveis à infecção. É preciso apostar em campanhas mais polêmicas, que dialoguem com outras juventudes, não somente com aquela que segue um estilo gay norte-americano burguês e, sob a proteção dos DJ das boates, está em busca do seu par romântico. Isso não significa que o romantismo não seja um ameaça à saúde e não deva ser abordado nas campanhas, afinal, não podemos esquecer o caso dos vulneráveis amantes apaixonados sob a proteção de Deus, que são orientados pelo Papa a não usarem camisinha. Mas, temos que fazer apostas políticas educacionais na área da saúde que sejam mais ousadas.

No entanto, mesmo com a injustiça de mais este veto, há aqueles que defendem o não enfoque nos gays quando se trata de Aids. Como se o estigma pudesse ser apagado. Não podemos negar a nossa história, nem reproduzir o que há de pior nela. Esconder os dados da epidemia, tentar driblar os moralismos e achar que estaremos mais seguros se não desconfiarem da gente, além de ser covarde, só aumenta a suspeita que gera a violência. Mais do que fugir do estigma que a imagem do portador do virus HIV ainda carrega, é preciso enfrentá-lo, trazê-lo para a luz. Assumi-lo. Assim, poderemos entender os mecanismos que o gera e buscar superá-lo.

As eleições estão aí e o que a Dilma também nos ensina é que não basta só eleger mais mulheres, mais negros, mais viados (são tão poucos concorrendo a cargos públicos) ou gordos para que os mais discriminados tenham a chance de sobreviverem com mais dignidade neste país. Ainda que seja preciso olhar, valorizar e reconhecer todas estas características, Dilma é um bom exemplo de que não necessariamente as características pouco valorizadas garantem que se vá governar em prol da sua própria história de exclusão e violência. Se assim o fosse, temas como o aborto e a responsabilização pelas torturas e mortes durante a ditadura já teriam sido resolvidos, afinal ela é mulher e foi presa política.

Em relação à presidenta, fiquei muito curioso para perguntar se ela usa camisinha, ou se pensa, como muitos, que isso é coisa só de viado, que não merece defesa e investimento. Esta semana ouvi de um pastor aos gritos em uma praça que era uma vergonha distribuir camisinha de graça enquanto falta remédio no centro de saúde. Como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. Como se o SUS também não tivesse que fazer promoção da saúde. Como se ele tivesse apenas que tratar das doenças.

Espero que a resposta da presidenta a minha dúvida não seja grosseira como foi a dada para um jornalista, ainda na campanha eleitoral, que lhe perguntou sobre sua sexualidade. Questionada sobre os boatos de campanha que dizia que ela era homossexual, negou de forma frágil e preconceituosa, como se ser lésbica fosse uma ofensa e o fato de ter constituído família fosse uma prova inquestionável de que é hetero. "Ah, meu querido, não vou responder a isso, eu tenho filho e sou avó, pelo amor de Deus. Esse tipo de discussão eu não vou ter aqui", disse Dilma (veja abaixo).

Outra pergunta que faço é sobre a sua fantasia. Presidenta, qual é o seu desejo para o Carnaval? Como se apresentará? Com que roupa irá? Se me permite sugestões, vista a mais discreta, delicada. Não use nada agressivo nem que te diferencie muito no salão. Porque a de revolucionária e guerrilheira já não te cai tão bem.

 

*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de rua. Milita no Identidade – Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro mundo possível.

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