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Disputa entre gays e lésbicas marca eleição do Conselho da Diversidade

Aconteceu nesta terça-feira (10/03), às 16h, a eleição para o novo presidente do Conselho Municipal de Atenção a Diversidade Sexual. Irina Bacci, ativista lésbica do Coletivo de Feministas Lésbicas (CFL) e coordenadora do Centro de Diversidade (CRD) foi eleita com 6 votos da sociedade civil e 5 do poder executivo, que votou em bloco na candidata. Seu adversário, Lula Ramirez, fundador do grupo Corsa e um dos fundadores da Parada Gay de São Paulo, obteve 4 votos, todos da sociedade civil.

A presidência do órgão funciona de forma rotativa: por um ano o cargo fica com o poder executivo e, no seguinte, com a sociedade civil. O Conselho tem o papel de ser interlocutor da sociedade com representantes do governo.

Avaliação
Após Dimitri Sales, ex-presidente do Conselho, apresentar os conselheiros presentes, ele fez um breve comentário do significado do conselho para o mundo LGBT. Para o advogado, o órgão "começou com muito gás, mas teve uma parada substancial". Também ressaltou que durante a sua gestão foi bom pensar "para que serve o conselho?" e finalizou dizendo que hoje o Conselho é "referência nacional". 

Em seguida foi a vez de Marisa Fernandes, ativista do CFL, dizer que "há um ano foi um acerto ter colocado o Dimitri como presidente". Depois criticou aqueles que se fizeram ausentes nas reuniões do Conselho. Sobre a disputa que estava acontecendo nos bastidores e práticas utilizadas para se conquistar a cadeira de presidente, ela revelou ter "vergonha dessa prática". A partir daí, o clima de tensão e disputa desnudou-se.

Posterior a fala e a constatação de Marisa, Julian Rodrigues, do Instituto Edson Neris, disse que o problema que ela se referia estava "do seu lado", se referindo a militante Marcia Cabral, que alguns ativista acusam de estar ausente do Conselho e do Fórum Paulista. Um clima pesado criou-se. Marcia Cabral e Julian iniciaram um possível bate boca, interrompido por Dimitri que chamou atenção e fez um sorteio para escolher qual dos candidatos seria o primeiro a falar.

Gênero e portfólio
Irina Bacci foi sorteada para ser a primeira a discursar. Ela contou um pouco de sua história militante que se iniciou "há cinco anos". Para ela, "mesmo com ‘pouco tempo’ de ativismo", seu trabalho "é reconhecido". Relatou também sobre a sua experiência de estar à frente do CRD e que "nunca tinha visto a marginalidade das travestis de perto", depois constatou que é fácil "ser ativista de dentro de uma sala, difícil é encarar essa realidade, ainda quando muito deles/delas, por viverem na rua, acabam envolvidos com drogas". Por fim, ressaltou a importância de se ter uma mulher, lésbica e feminista, na presidência do Conselho.

Em sua fala, Lula Ramirez ironizou o fato da candidata Irina Bacci ter dito que há pouco tempo esteve em contato com a realidade. "Fico feliz em saber que a Irina está tendo essa experiência, mas eu, há vinte anos, fiz trabalhos no sertão". Depois criticou a questão de gênero posta por Irina e disse que "ser mulher não que dizer nada. Basta lembrar de Margaret Thatcher, que era conhecida como Dama de ferro e da Condoleezza Rice, secretaria de Estado do governo Bush, que além de mulher era negra e foi responsável pela guerra do Iraque". Por fim, criticou o fato de Irina estar atrelada a um órgão que mantém parceria com a prefeitura e alegou ter a "independência necessária para presidir o Conselho".

Após as exposições dos candidatos, foi a vez dos conselheiros falarem e o clima voltou a pesar. As falas não se limitaram ao Conselho e a eleição, mas se estenderam a acusações, comparações de currículos (como se fosse uma dinâmica de empresa) e disputa de gênero entre gays e lésbicas. Dário Neto, do grupo Corsa, disse que "da forma como Irina coloca parece que Lula é um machista". A travesti Márcia Lima atentou para o fato de que na "ABGLT o presidente é um gay, na CADS só tem gay e, provavelmente na CADS estadual, será um gay. Temos que equilibrar isso".

Rick Ferreira, do Instituto Edson Néris (IEN), disse ter ali um debate rico, mas que era preciso ficar atento, pois Lula representa "a voz do povo e a Irina do governo". Julian Rodrigues, também do IEN, voltou ao assunto de Irina ser uma gestora pública e avisou que, caso ela ganhasse, a leitura feita seria de que houve "intervenção do poder público". A sua fala foi questionada por Dimitri Sales que garantiu em momento algum ter sido cerceado pelo governo municipal. 

Beto Sato refutou partes da fala de Lula, que disse ter apoio da maioria. "Lula, me desculpa, mas você não tem apoio da maioria e nós temos que dar espaço às novas lideranças, como você mesmo falou". Marisa Fernandes acusou a chapa de Lula e afirmou que ser mulher "faz diferença", e que a desqualificação do gênero faz parte do "patriarcado que não cede o poder". Marisa também negou que Irina seja voz do governo. "A Irina deu a cara tapa, diferente do Lula, que pediu para nós deixarmos para esse ano a criação do plano municipal de combate a homofobia acreditando que dona Marta iria se eleger. O Lula sim, sucumbiu ao governo". 

Após as falas, Dimitri abriu a votação. Irina foi eleita com a maioria dos votos da Sociedade Civil e com a totalidade de votos do Poder Executivo. Ao final da votação, Lula Ramirez afirmou que "o poder executivo elegeu o presidente do Conselho". Questionada se após um debate pesado como este as relações iriam continuar saudáveis, Irina disse que sim. "Esse clima é normal entre disputas. Depois que passa, tudo volta ao normal", finalizou a nova presidente do Conselho da Diversidade.

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A eleição de Irina