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Divã: A Violência Doméstica

Hoje vou falar sobre um tema que surgiu para mim de forma bastante clara e sentida, através de uma pessoa muito querida que já sofreu muito por conta disso. Sei que muitas vezes é melhor falar sobre as coisas belas da vida, porém, muitas vezes a vida passa de bela a triste quando menos esperamos.

O tema que me refiro é a violência doméstica entre mulheres. Por mais que imaginemos que a violência doméstica quase sempre seja praticada por homens, já que é o que vemos na mídia, é bastante recorrente queixas de mulheres que sofrem algum tipo de violência, seja física ou psicológica por parte de suas parceiras.

Talvez pela pouca visibilidade que a mulher homossexual tem na sociedade, seja por conta da sua opção de não se assumir ou mesmo porque basicamente vivemos num mundo onde não somos vistas como “reais”, muitas sofrem caladas e com medo de, além de sofrerem com o abuso dentro de suas próprias casas, sofrerem com algum tipo de discriminação por conta da orientação sexual.

Quando imaginamos um relacionamento entre duas mulheres, quase sempre pensamos que impera o respeito mútuo e a compreensão, pelo simples fato de serem duas pessoas do mesmo sexo. Acreditamos que por serem semelhantes sabem, portanto, por natureza como gostam de ser tratadas. O fato é que não é bem assim que acontece.

A violência doméstica se dá muitas vezes por uma repetição de comportamentos aprendidos, ou seja, na maioria das vezes quem bate já viu alguém batendo e quem apanha já viu alguém apanhando. Muitas vezes os modelos são pessoas de suma importância na vida das pessoas, como a mãe, o pai ou mesmo outros que foram constantes na vida da pessoa, geralmente em sua infância. Que fique claro que este esquema analítico não é uma regra, pois não existem fórmulas prontas para a análise dos seres humanos. Podem existir pessoas que batem por descontrole emocional momentâneo ou mesmo por um desajuste social e pessoas que apanham por possuírem, por diversos motivos, uma auto estima afetada. No entanto, o mais comum é que tais comportamentos sejam, como num círculo, vivenciados várias vezes durante a vida da pessoa, caso ela não se trate.

Num relacionamento entre duas mulheres onde uma bate e a outra apanha existe uma grande prisão mútua de sentimentos mal compreendidos, que são canalizados para atos de violência. Quase sempre são relacionamentos doentios onde o ciúme é fator comum e a desconfiança ganha o lugar do carinho e da cumplicidade.

O mais terrível disto tudo é que a violência tanto física quanto psicológica (quando digo psicológica quero falar sobre aquelas pessoas que atormentam a vida da outra com ameaças e jogos de poder, às vezes se utilizando de armas como: “eu ganho mais dinheiro que você e te sustento!” Ou: “se você falar sobre isso eu conto pra todo mundo quem você é”, fazendo referência direta à sexualidade) deixa marcas profundas na vida de um indivíduo. Geralmente a pessoa passa a viver sob constante medo e não consegue se sentir bem em nenhum contexto social.

Para não me estender muito sobre a questão, vou apenas dizer que podemos nos aprofundar muito na psique de tais indivíduos e nos perdermos em elaborações e soluções para tais situações, porém quero que cada uma de nós pense sobre esta questão com carinho e nos imaginemos como estas mulheres, colocando-nos em seus lugares e imaginando um pouco do que seria viver um relacionamento desses.

É triste pensar que entre mulheres possa existir tamanha incompreensão. Precisamos tanto umas das outras nessa nossa luta pessoal para conseguir nosso devido respeito na sociedade que penso que tais comportamentos poderiam ser devidamente tratados em nome de um bem maior, mas sei o quanto é difícil pensarmos em nós, quando o próprio Eu está abalado.

Para as mulheres que sofrem de algum abuso violento deixo a dica da lei, que atualmente nos ampara que é a Lei Maria da Penha, número 11.340. A lei Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.

Espero que não precisemos utilizar a Lei Maria da Penha muitas vezes e que impere o amor entre nós mulheres.


* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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