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Divã: Adianta remoer um passado ruim?

Neste feriado estava fazendo uma arrumação em casa e me peguei vendo velhas fotos de um passado não tão remoto assim, e fiquei pensando: o que aprendemos com todas as pessoas que já passaram em nossas vidas?

Às vezes, olhamos para “aquela” pessoa e sem pensar muito, jogamos sua foto fora, querendo não lembrar nem do que foi bom. Às vezes também, quase sem querer, voltamos ao pensamento: será que poderia ter sido diferente?

Nunca saberemos se poderia ter sido diferente, mas acho que o importante mesmo é sabermos se o que ficou, o que vivemos, nos trouxe crescimento sadio ou aquele amargor sofrido.

Eu, no meu trabalho, procuro sempre buscar junto a meus “clientes” (acho que prefiro usar este termo, uma vez que “paciente” parece que a pessoa em questão tem uma doença e estou lá para curá-la) o que de melhor ficou ou restou de um passado; quando o “melhor” fica difícil de ser recordado e a pessoa está fixada no “pior”, tento mostrar que mesmo nesses momentos aprendemos algo, ou seja, aprendemos na alegria e na dor, inevitavelmente.

Se as recordações não servissem realmente para nos mostrar o que poderíamos ter tirado de bom de tal ou qual situação, talvez minha profissão não existisse, pois o que faço é estar no meio do caminho entre essa ponte que é o presente e o passado da pessoa, e neste meio do caminho meu papel é apontar que sempre existe uma nova forma de visualizar o que já foi vivido.

Quantas pessoas não passam anos remoendo uma situação vivida com alguém e simplesmente não conseguem ver ou sentir aquilo vivenciado de outra forma, ver sob outro ângulo, e são amarguradas com a vida de um modo geral e com o que de bom ela pode nos trazer, pois neste amargor fixam-se apenas neste sentir. Sabem que um sentimento pode nos consumir?

Aquele relacionamento mal resolvido, aquele amigo que te traiu, um parente que foi embora, um cachorro que morreu, são tantas as situações, são tantas as possibilidades e são tantos os momentos que passamos, que prefiro ver o passado como uma história que deve ser sempre retomada, como um bom livro, cada vez que o lemos novamente, aprendemos a ver aquela cena com um novo olhar e assim, em nossa mente, o sentimento já é outro.

Então, meu recadinho hoje é para os que não conseguem se livrar dos pensamentos ruins quando se deparam com a lembrança de um passado que os atemoriza. O presente traz em si as possibilidades infinitas contidas no que chamamos de vida, se paralisamos nossa história atual em prol de um sentimento a respeito de algo já vivido, ficamos estagnados e acabamos por desperdiçar momentos que, a meu ver, são únicos e até mesmo sagrados uma vez que não podemos controlar o que acontecerá no futuro.

Sei que cada um de nós tem um tempo e um processo interno para elaboração de seus conflitos, mas acredito que haja um limite, senão a vida para, e acabamos por sobreviver sem darmos a chance para que novas experiências e novos sentimentos possam surgir.

Portanto, quando forem olhar para suas fotinhos antigas ou mesmo se lembrarem do que não foi tão bom, lembrem que mesmo que possa ter tido tanta dor, existiram também momentos de felicidade. Os outros, deixem no passado o quanto antes. Afinal, ninguém quer sair nas próximas fotos posando de perdedor, não é?

Beijos e até a próxima!

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e psicoterapeuta. Email: claudia@dykerama.com.

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