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Divã: Amigas de verdade traem?

Olá queridas leitoras! Como faz um tempinho que não escrevo quero deixar claro a vocês que é por pura falta de tempo e não por abandono, afinal, adoro vocês e para mim é extremamente compensador quando nos comunicamos e quando posso auxiliá-las de alguma forma. Assim acho que toda semana não nos encontraremos por aqui, mas isso não quer dizer que não possam me escrever, certo?

Quero falar sobre um tema que chegou a mim através de uma paciente e acredito que isso possa atingir ou mesmo já ter atingido algumas de vocês em algum momento: a traição entre amigas. Esta pessoa a que me referi pediu para não ser identificada, mas ela ficou realmente abalada com o que lhe aconteceu: uma amiga que ela considerava como sendo uma hiper companheira há anos atravessou o limite da amizade e a traiu, quando de forma obscura começou a assediar a namorada dela, que aqui vou chamar de R.

De forma obscura, pois, a princípio, ela não queria se identificar (ela ligava para R. e descrevia seus sentimentos e sensações e dizia não poder se identificar, pois só o faria quando tivesse certeza que era correspondida). R. começou a achar estranho, pois o seu próprio círculo de amizades não era grande e o de sua namorada M. também não, ambas não tinham muitas amigas e acabavam frequentando somente os mesmos lugares e as mesmas reuniões nas casas das amigas.

Tal situação se agravou à medida que M. começou a desconfiar de R. e isso consequentemente abalou a relação que se estabelecera há 5 anos. Como R. não queria sentir-se culpada numa história onde era vítima, propôs-se a descobrir quem era a tal admiradora misteriosa e decidiu, depois de muitos telefonemas, marcar um encontro.

Quando se encontraram a surpresa foi grande e ela, como me contou, sentiu-se penalizada pela pessoa ao invés de surpresa, pois era a melhor amiga de sua namorada. Penalizada porque percebeu no momento o que se passava pela cabeça de X. Ela era sozinha, não conseguia nunca estabelecer relacionamentos por mais de 3 meses com alguém e sempre, sempre ligava para M. para saber de sua vida…

Sem nos estendermos em maiores detalhes, o que penso é que é um caso confuso, uma vez que envolve amizade e amor. O que X. verdadeiramente sente por M. e por R.? Não será isso um caso de projeção?

O que quero dizer é que neste caso X. passou a almejar a vida de M. por não ter sua própria vida. São pessoas que geralmente invejam o outro por sentirem-se intimamente impotentes para realizarem seus próprios feitos, confundem amizade com identificação e acabam por anularem suas próprias personalidades almejando ser e ter o que o outro tem.

A dificuldade em serem não está somente em não conseguirem se relacionar com alguém, mas também naqueles comportamentos onde se vê uma apropriação do que é do outro, fazendo das amizades, da forma de viver ou mesmo do trabalho do amigo como sendo seu.

Como saber até que ponto uma pessoa é realmente sua amiga? E se a amizade confundiu-se com a questão projetiva? Como disse a ela, nós humanos somos bastante complexos à medida que não nos permitimos nos conhecer realmente.

Fica então a dúvida real: amigas de verdade traem?

Beijos e até a próxima!

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve quinzenalmente neste espaço. Participe com perguntas: claudia@dykerama.com.

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