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Divã do Dykerama: A depressão

Olá queridas leitoras que acompanham tão ativamente a coluna! Semana passada, eu falei sobre o caso de uma paciente e do quanto podemos ser tolhidas de nossa liberdade e individualidade por questões de grupo e sociedade. Este texto causou forte impacto, talvez pelo fato da protagonista principal não ter tomado uma atitude mais incisiva com relação a quem era e o que a faria feliz. Quanto a isso, só posso dizer que ela optou por ficar com os filhos, o que a mim pareceu justíssimo, dada a sua situação.

Nesta semana falo sobre notícia que li aqui no Dykerama.com e que me chamou a atenção: “Pesquisa revela que lésbicas sofrem de depressão”. Mesmo não tendo feito um estudo detalhado sobre o assunto ou que a pesquisa tenha contado com uma amostragem de 2000 pessoas, posso dizer que isso é um fato verídico, constatado por mim nestes anos de consultório.

A depressão é uma doença “do organismo como um todo”, que compromete o físico, o humor e, em consequência, o pensamento (vocês podem encontrar mais no meu blog). A pergunta é: por que a depressão atinge mais as lésbicas e bissexuais?

Como vemos na pesquisa, um país evoluído com relação a direitos dos homossexuais como é a Holanda, não pode ser considerado evoluído no que concerne à aceitação social dos mesmos homossexuais, uma vez que as lésbicas e as bissexuais são alvo de insinuações e ataques explícitos de preconceito contra elas. O Brasil não fica atrás disso, aliás, fica um pouco mais atrás, já que não temos quase nenhum direito enquanto cidadãs.

Além de outros fatores, a depressão é desencadeada em nosso organismo pela falta de apoio social ou do grupo que estamos inseridas, vide o caso da minha paciente relatado na semana passada. Como já foi mostrado, muitas de nós, que sofreram e sofrem com a não aceitação familiar ou do grupo, são acometidas pelos sintomas depressivos. Além de sofrerem com a discriminação social existente em decorrência da orientação sexual, sofrem internamente com o abalo psicológico causado pela falta de segurança que encontram.

Nem todas nós estamos preparadas para lidar bem com uma rejeição familiar, um ataque público preconceituoso ou insinuações maldosas de cunho pejorativo por conta da orientação sexual. Nem todas nós fomos preparadas para o combate, uma vez que fomos criadas para cumprirmos papéis estabelecidos por uma sociedade que vê a mulher como secundária no que diz respeito à sua essência enquanto indivíduo.

Podemos notar exemplos claros disso quando olhamos para o mercado de trabalho e verificamos claramente que as mulheres, mesmo tendo o mesmo cargo ou exercendo as mesmas funções que os homens, ganham bem menos. Existem ainda casos familiares onde os filhos homens são tratados com grande diferença, podendo exercer suas individualidades com apoio da família, ao contrário das filhas mulheres que devem cumprir o que lhes é determinado de antemão.

Pois bem, com tamanha diferenciação fica difícil não somatizarmos e desenvolvermos doenças: para isso basta sermos mulheres e quando somos mulheres e lésbicas ou bissexuais, a situação piora um pouco porque, além de sofrermos somente pelo fato de sermos mulheres, sofremos pelo preconceito e discriminação por termos orientação sexual diferente da maioria.

Mas a depressão tem cura e pode ser tratada com o apoio de médicos e terapeutas, assim não estamos de todo abandonadas à deriva neste mundo seletivo. Temos um grande papel a cumprir enquanto mulheres, enquanto mulheres e lésbicas, enquanto mulheres e bissexuais, enquanto mulheres e assexuadas: não importa o rótulo que nos dão, nosso papel é educar os mal educados que ainda olham o outro com preconceito, é nos fortalecer enquanto indivíduos para, então, termos orgulho de nosso sexo e podermos entrar no combate para que um dia não haja mais combate.

Devemos tomar como exemplo nossas antepassadas Amazonas, guerreiras que unidas lutaram por seus direitos. Não podemos deixar que nos façam de bobas ou inúteis, somente a nossa união nos fará cada vez mais fortes e quem sabe, num futuro próximo, podemos ser as responsáveis por um mundo novo, onde a individualidade seja respeitada, o preconceito extinguido e no lugar de “lésbicas sofrem muito mais de depressão” possamos ler “lésbicas gozam muito mais de felicidade contagiante”.

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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