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Divã do Dykerama: A traição

Olá mulheres, que esta semana seja ótima para todas nós! Semana passada, aconteceu algo que Jung chamaria de sincronicidade; eu tenho que concordar com o mestre, pois alguns pacientes e e-mails de leitoras que eu recebi trataram de um tema que muitas vezes é doloroso falar: a traição.

Pois bem, somos humanos, não é? Nosso papel neste mundo é também o de nos compreendermos, seja quando somos amáveis, seja quando somos detestáveis ou quando somos as duas coisas ao mesmo tempo.

Quando traidoras ou traídas somos tanto boas quanto más. Na posição de traidoras somos ótimas pessoas para a amante, a ficante ou o nome que nos convém dar; e péssimas pessoas para nossas companheiras de casamento ou namoro. É bom estar com alguém diferente, que tem novas ideias e que novamente nos faz acreditar que somos belas e “gostosas”. Assim, sem pensar muito nas consequências, nos entregamos à aventura. Entretanto, nos esquecemos momentaneamente que temos alguém na outra ponta da situação a quem dizemos que amamos e que queremos viver eternamente.

Por que traímos? Há tantas discussões a cerca disso, não é? Podemos dizer que é pela sensação de novidade e aventura que um novo romance traz. Podemos dizer que é porque o casamento ou o namoro já não nos inspira como antes ou, ainda, porque não resistimos.
Enquanto traídas, porém, diríamos que todos esses motivos são aceitáveis e que, realmente com o tempo, qualquer casamento ou namoro acaba se desgastando e a rotina traz uma sensação de mesmice à vida. Ah! Se fosse tudo tão simples assim, mas não é.

Ficamos em casa a espera de quem amamos e essa pessoa não aparece, some sem dar sinais de vida, e quando chega já não te olha mais como antes. Quando descobrimos depois que fomos enganadas pela pessoa, não sabemos ao certo o porquê e o que aconteceu para que fosse assim. É muito ruim e triste, nos faz sentir as piores pessoas do mundo.

A traição não é simplesmente transar com alguém diferente, é também deixar de dizer que não está feliz ao lado de alguém, é mentir sobre uma situação, é enganar. Estando no papel de traidoras somos covardes e não temos coragem de assumir a nós mesmas o que desejamos, assim precisamos ter alguém que nos dê segurança nos momentos que “caímos na real” ou mesmo precisamos ter a sensação de que somos capazes de enganar a outra pessoa sem que ela nem ao menos imagine o que fazemos. É uma posição sádica.

No papel de traídas ficamos ali, na expectativa de entender o que se passa com a pessoa que amamos. Não fazemos muita coisa, esperamos, observamos e nos colocamos, mesmo sem notar, na situação da vítima. Quase sempre começamos a reclamar da vida, do amor e de tudo que já não temos mais. É uma posição masoquista.

Portanto, a conclusão que chego é que sádicos e masoquistas não vivem separados e o que transforma a traição em traição é a necessidade que um tem do outro para se manterem vivos. No íntimo de cada uma de nós, tanto traídas quanto traidoras sabemos que algo está errado na relação que construímos com quem amamos, ou não amamos, entendem?

A grande questão é sabermos ao certo o que nos segura nas relações, e não digo somente nas relações amorosas que envolvem intimidade sexual, mas nas relações de um modo geral. Nestas queixas que recebo de meus pacientes, e agora de muitas leitoras, percebo que muitos vivenciam situações semelhantes de sadismomasoquismo com amigos, familiares ou no trabalho. Por conta disso passamos a “existir” de forma limitada, exercendo posições na vida que não nos fazem bem. Este não fazer bem é muito mais profundo do que imaginamos: ele causa impacto principalmente na nossa saúde. Uma vez que não queremos ver o que somos, passamos a acreditar em uma mentira que pode nos levar a desenvolver doenças como, por exemplo, a depressão, comentada na semana passada.

Ouço lamentos do tipo: minha mulher me trata mal e eu simplesmente a aceito como ela é; ou meu chefe muitas vezes me rebaixa perante meus colegas de trabalho, mas eu não digo nada com medo de perder o emprego; ou ainda, meu pai me diz que sou uma inútil por não fazer o que ele quer… E assim, inúmeras situações onde existe sempre um padrão semelhante: uma pessoa na posição de mais forte e outra na posição de humilhada. Pois bem, o que se mostra mais forte sofre (sem ter exata consciência disso) por ser muitas vezes odiado, e o mais fraco (também sem consciência absoluta) por não se rebelar.

Devemos ficar atentas até que ponto esse ser odiado nos faz felizes e até que ponto ser rebaixada nos coloca numa posição de vítima que poderia ser gratificadora. O fato é: A quem queremos enganar? A quem estamos traindo?

Encontrar gratificações no fato de subjugar outras pessoas ou encontrar sendo subjugada nos limita em nossas imensas possibilidades enquanto humanos. Sei que é difícil essa compreensão, mas é por isso que aos poucos vamos retomando todos os assuntos levantados e com essa retomada nos compreendemos devagarzinho, porém com precisão.

Voltando então ao começo de tudo, deixo para finalizar com uma simples pergunta: traída ou traidora, onde está a finalidade disso?

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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