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Divã: Nós e nossos ídolos

Nas últimas semanas, com a morte do ídolo pop Michael Jackson, ficou difícil não notar o quanto nós humanos somos movidos por emoções inexplicáveis. Por mais que quiséssemos ficar imunes ao bombardeamento da mídia, inevitavelmente, a cada segundo que olhávamos para a TV ou ligávamos o rádio éramos acometidos por notícias e pelo passado do ídolo. Muitas pessoas sentiram empatia por aquele que foi tão criticado em vida e que, pela demonstração de sua fragilidade ao morrer, comoveu quem nem ao menos o notava.

Muito se falou sobre o que causou sua morte e por que ele passou a vida tentando a todo custo modificar sua aparência. Pelo fato de não expressar com exatidão uma personalidade que demonstrasse claramente por onde enveredava sua sexualidade, causou em muitos incômodo e em outros, admiração. Mostrou o quanto precisamos de modelos hiper idealizados para, de certa forma, imaginarmos que estamos realizando fantasiosamente o que o outro realiza.

Falando claramente ao mundo homossexual feminino, temos o L Word para provar que não estou equivocada. Que mulher não assiste aos episódios e não se identifica com Shane, Beth Potter, ou qualquer outra delas, idealizando aquelas vidas extraordinárias?
Quem na infância não tinha um modelo e não se imaginava como tal? O meu era a Kelly de As Panteras, boazinha, quase ingênua e altamente sexuada. E na adolescência, quem não tinha aquele ídolo máximo que mostrava o que e como fazer.

Pois bem, que assim seja então, nossa evolução talvez dependa disso, somos milhões que necessitam de poucos para se espelharem, e “assim caminha a humanidade”… é título de filme, aliás, antigo e hollywoodiano, que não deixou de ser na época um modelo para os jovens, mostrando uma Elizabeth Taylor louca para “pular a cerca” e um James Dean rebelde e eternamente sem causa.

Particularmente espero que as novas gerações criem seus ícones baseados em imagens que representem cada vez mais modelos que lutem contra preconceitos, que deliberadamente sejam a favor da não discriminação e que mais do que nunca demonstrem com beleza o porquê vale a pena sermos humanos e lutarmos por nossa humanidade futura. E que a humanidade seja ao menos crítica com sua própria pequenez diante do universo e faça de tudo para preservá-lo.

Que nunca mais precisemos de ídolos que preguem algo que seja contrário à vida, como aconteceu com os lideres totalitários fascistas, nazistas e ditadores de um passado não tão distante. Que tenham sido suficientes para nos mostrar nossos erros.

Olhando minha filha de 8 anos, que está bastante envolvida com o acontecido da morte de Michael Jackson, percebo que talvez nosso papel, agora, neste momento e em tantos outros que virão, seja o de informar e educar, mostrando através destes ícones o que é importante e o que não é, valores que ficarão e que farão a construção do futuro.

Neste sentido fica apenas como ilustração a música do mesmo Michael: “Earth Song”, para lembrarmos que só depende de nós mudarmos o rumo da nossa jornada por aqui.


* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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