Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

Divã: O ciúme

Hoje quero falar sobre um tema que é bastante recorrente
na clínica e que acomete muitas de nós em diversos momentos
de nossas vidas: o ciúme.

Na semana passada, fomos bombardeadas pela mídia com o julgamento do casal Nardoni, que cometeu aquele crime terrível contra a menina Isabella. Revendo os fatos e as posturas de ambos, me pareceu claro que foi um crime cometido por ciúme. A mulher, Ana Carolina Jatobá, não consegue conviver com a possibilidade de “dividir”, “compartilhar” o amor do marido com quem quer que seja. O fato de a menina ser filha de outra mulher, o que é por si uma grande ameaça, talvez tenha suscitado o ato.

O ciúme, como diria Freud, é aquela sensação que surge quando somos pequenas e temos que dividir nossa mãe, nosso pai, com o outro que vem tomar o nosso lugar. É aquela sensação de não ser única e de não ser tudo para aqueles que amamos. A pessoa se vê tomada por um medo excessivo de perder o amor do outro para uma terceira pessoa, que é vista como ameaçadora e cruel. Há uma clara desconfiança de que o ser amado a “trai” com uma terceira pessoa, e há o descontrole em meio à falta de confiança no outro e em si mesma.

No caso dos Nardoni, vemos como o ciúme se transforma numa patologia grave, chegando inclusive a provocar a destruição literal da terceira pessoa ameaçadora (uma menina de 5 anos de idade). Este caso é extremo e serve para ilustrar de forma também extrema o que a falta de autoconceito e tratamento pode causar a qualquer uma de nós. Digo isso porque já presenciei casos de ciúme entre casais e, se não fosse a ajuda psicológica, provavelmente muitos deles passariam por tragédias em suas relações, como a agressão física e moral, humilhação e total perda de razão.

Temos uma tendência a achar que o ciúme é saudável e até mesmo funciona como uma forma de demonstração de que somos amadas pelo outro. É por esse motivo que trabalho para que as pessoas se compreendam melhor. É muito triste quando nos deparamos com casos que parecem sem solução. Se você quiser saber mais a respeito, tem um livro bastante didático e interessante de um psiquiatra, Eduardo Ferreira dos Santos, que fala sobre o tema: “Ciúme, o lado amargo do amor”.

Ah! Eu tinha falado que não iria mais gastar meus neurônios com isso, mas é que li que a novelista Glória Perez apoiava 100% o jogador do BBB Dourado, dizendo que ele está sendo mal interpretado e que ele não é homofóbico ou nazista. Agora, como devemos encarar o fato de Dourado dizer que, se Angélica não fosse mulher, quebraria o dedo dela? Ou então dizer para Dicesar que sua família deveria ter vergonha dele?

Me admira uma novelista como a Gloria Perez, que passou por uma tragédia pessoal tão grande, falar uma coisa dessas. Se eu estiver equivocada – que me perdoem os brutamontes -, mas eu realmente gostaria que nosso país, que na semana passada deu uma lição de justiça ao condenar o casal Nardoni, continuasse perseguindo a tolerância e a igualdade.

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e psicoterapeuta. Email: claudia@dykerama.com.

Sair da versão mobile