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Divã: Os rótulos

Queridas leitoras. Estava caminhando pela avenida Paulista na semana passada e um grupinho de garotos gritou “E aí sapatas!” para duas garotas que estavam andando de mãos dadas bem na minha frente. Aquilo me chamou a atenção, pois elas ficaram sem graça com o tom pejorativo do chamamento, e eu me coloquei na situação – poderia ter sido para mim também, que estava a menos de 10 metros delas!

Fiquei então pensando nessa atitude de parcela da sociedade. Como imagino que a maioria de vocês está inserida no “rótulo” de lésbicas e imagino que a outra parte esteja inserida socialmente no “rótulo” de heterossexuais, quero refletir exatamente sobre a necessidade que temos de nos intitularmos alguma coisa. Por que fazemos isso? Não basta sermos mulheres e nos respeitarmos mutuamente por conta desta condição? Ou mesmo somente humanas? Por que o humano tem essa necessidade de se segregar?

Sei que não basta, afinal, nos dividimos em grupos para nos unir a nossos semelhantes; resumidamente nos vejo como animais que andam em bandos para de alguma forma demarcarem seus territórios e não serem usurpados deles por outros bandos e assim vai. Penso tudo isso porque fico imaginando essas rotulações que nos dão na vida, uma hora somos isso, outra hora aquilo e como compramos facilmente essas ideias e nos utilizamos delas como se fossem práticas e normais.

O que não percebemos, porém, é que estamos sendo rotulados para que possamos fazer parte de uma estatística maior, que quase sempre é mentirosa, por que afinal de contas não somos somente um rótulo, ou somos? Aí, dentro do rótulo de lésbicas, tem os outros ainda: machinho, bofinho, feminina, ativa, passiva, blá, blá… Desculpem, meninas, mas estou cansada disso, acho que gostaria de nos vermos num mundo onde pudéssemos não ser rotuladas de forma alguma, afinal, é por conta da aparência que isso ocorre?

Me digam, por favor, por que vejo tanta gente que chega até a mim, equivocada com sua própria identidade, que penso: aonde está a identidade além de tudo isso? Olhar nos olhos e entender verdadeiramente o que o outro é ou deseja ser é difícil, afinal, nos apegamos tanto ao que o exterior-estereotipado mostra que nos basta ver o que uma pessoa veste para a colocarmos neste ou naquele grupinho.

Hoje estou um tanto filosófica porque sinto que a distância do que realmente importa está ficando grande a cada dia que passa neste mundo louco que vivemos. Quanta gente que vejo que está perdida, deprimida, simplesmente por uma questão de não conseguir se enquadrar ao proposto por essa nossa sociedade rotulante, ou seja, se a pessoa não é de tal jeito, ou não se identifica com esse ou aquele grupo ela fica à margem, à deriva. Triste.

Por que não posso andar de mãos dadas com minha namorada e não ser rotulada de nada? Por que não posso ser somente alguém que tem um outro alguém para amar? Bom, se é assim que somos tratadas, deveríamos então andarmos todas de mãos dadas para que seja aprovada logo neste país retrógrado que vivemos, a lei da união civil, a lei para a adoção pelos casais homossexuais e uma lei que seja cumprida contra a discriminação de qualquer espécie, pois não basta estar no papel, temos que brigar por isso.

Deveria ter falado alguma coisa então para os tontos, babacas preconceituosos, mas seria como eles, certo?

Eu penso que não, mas gostaria que vocês opinassem…

Beijos, queridas!

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve quinzenalmente neste espaço. Participe enviando perguntas para o e-mail claudia@dykerama.com.

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