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Diva transexual Phedra D. Córdoba estreia espetáculo musical nos Satyros

A diva transexual cubana Phedra D. Córdoba é a estrela do espetáculo musical "Stranger – Estranho?", que fica em cartaz até novembro no Espaço dos Satyros Um, em São Paulo.

Em aproximadamente 1h30 de espetáculo, a atriz canta clássicos latinos e versões em castelhano de hits recentes, como "I Still Haven’t Found What I’m Looking For", de U2, acompanhada dos músicos Frederico Godoy, Bruno Balan e Franco Lorenzon, respectivamente, no teclado, percussão e baixo acústico.

"Stranger – Estranho?" comemora os 20 anos da Cia. de Teatro Os Satyros e teve origem na viagem do grupo a Cuba, no ano passado, para apresentar a peça "LIZ". Por esse motivo, o show é emblemático, uma que vez Phedra não retorna ao seu país de origem desde que resolveu se fixar no Brasil, há 50 anos.

A diva começou a carreira em Havana como ator e bailarino, ainda sob o nome artístico de Felipe de Córdoba. Foi apenas mais tarde, já no Brasil, que ela começou seu processo de adequação sexual. No país, Phedra se apresentou em casas gays históricas, como Medieval e Homo Sapiens e, desde 2003, integra o elenco dos Satyros.

Nesta entrevista, Phedra D. Córdoba fala de seu espetáculo, relembra momentos inesquecíveis de sua carreira e enche de elogios o país que a acolheu: "Amo o Brasil, é minha segunda terra". Confira:

Como foi enveredar pela música depois de atuar como atriz por tanto tempo? Foi um desafio? Teve que se preparar muito?
Não tive uma preparação especial. Já em Cuba eu estudava na escola de artes cênicas Rosélia de Castro. Ali não só estudei artes cênicas como também danças folclóricas de diversos países, como Espanha. É por isso que neste show não tive que me preparar, somente escolher o repertório de canções que agradassem.

O musical mistura sucessos de artistas nacionais e internacionais. De que forma foi escolhido esse repertório?
 Na própria Havana, no ano passado, quando estivemos lá, uma das diretoras de cultura do governo cubano me deu um CD de músicos cubanos cantando canções internacionais, tanto em inglês quanto em castelhano. Ela me disse que somente eu poderia fazer aquelas interpretações. Entre as músicas estão algumas canções famosas cubanas, como da cantora La Lupe, a predileta do Almodóvar, e "I still haven’t found what I’m looking for", do U2, que eu canto em castelhano.

De onde vem essa sua paixão pela arte de cantar? Alguma referência em especial?
Sempre cantei, desde o princípio de minha carreira. Porque em Havana se fazia muito musical, e como atriz eu tinha que cantar e dançar.
 
Você é considerada "diva" dos Satyros. Esse título te incomoda?
Nunca me incomodou. Pelo contrário. Agradeço muito,  apesar de que essa "divindade" me persegue há 20 anos.

O espetáculo revisita a época em que você atuava como vedete do Teatro de Revista. O que tem mais saudade desse tempo?
Saudade de um tempo memorável quando o público brasileiro ia assistir aos musicais, como de Walter Pinto, com quem trabalhei por mais de três anos.

Você trabalhou em casas noturnas gays históricas, como Medieval e Homo Sapiens. A noite gay de hoje é muito diferente da de antigamente? Em que sentido?
Muito diferente no sentido de que antigamente os shows eram produzidos e dirigidos por diretores de teatro, que escolhiam repertório, músicas e figurinos. Não quero menosprezar as casas gays atuais, mas será difícil hoje em dia fazer aqueles espetáculos com produções caras.

No ano passado, você esteve em sua terra natal, Cuba, país que não visitava desde que veio para o Brasil. Como foi esse retorno?
Inesperado. Eu estava um pouco ansiosa de como iria ser meu retorno. Não sabia, porque politicamente estou por fora, e me trataram como se nunca tivesse saído de lá. Me trataram como uma diva que acabava de chegar de uma pequena e curta viagem. Me convidaram para tudo quanto era evento e faziam questão que eu estivesse entre os convidados. Levei uns playbacks e cantei para o público cubano que vibrou em tudo que eu fiz. Um fato interessante foi que um panamenho que estava de passagem por Havana falou que me tinha conhecido do programa de Jô Soares, foi ótimo.

Em Cuba, a homossexualidade ainda é considerada tabu, mas o trabalho pró-gay de Mariela Castro tem se destacado no país. Você chegou a sofrer muito preconceito quando ainda morava lá?
Sofri bastante nos anos 50. Foi terrível. Por isso quis sair de Cuba e me fazer fora da minha própria terra. Agora voltar para lá e ser tratada como uma grande diva foi o que mais me admirou dessa vez.

Se tivesse que expressar sua gratidão pelo Brasil, que a acolheu, o que diria?
Moro aqui há mais de 50 anos, vivo aqui, moro aqui. Já viajei por toda América Latina, Alemanha, Espanha, França, Chile. Por que fiquei no Brasil? Amo o Brasil, é minha segunda terra. Inclusive no show eu falo isso, foi aqui que me fiz.

Quando acontecerá seu retorno ao teatro? Está preparando alguma nova peça?
Eu, junto com os Satyros, estamos fazendo Liz, texto do cubano Reinaldo Montero, e temos um novo projeto de Rodolfo [García Vázquez], que estrearemos em novembro. Se chama "Hipóteses para o Amor e a Verdade". Obrigada e beijos a todos.

Serviço:
Stranger – Estranho?
Segundas, às 21h
Espaço dos Satyros Um, pça Roosevelt, 214, tel. 11 3258-6345
Quanto: R$ 20,00; R$ 10,00 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); R$ 5,00 (Oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt)
Temporada até 2 de novembro

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