Ele já tocou em festas de 15 anos, bailes funks, festas de subúrbios e hoje é um dos principais DJs da cena GLS nacional. Residente da B.I.T.C.H.* e do Cine Ideal, Marcus Vinícius vem cada vez mais conquistando a cena. A popularidade do DJ é alta e muitos o classificam como DJ do povão. Talvez por ser tão querido na cena, talvez por atrair todo o tipo de público. Mas no momento, M-Vee vive um momento mágico na sua carreira: produções próprias sendo tocadas por grandes nomes internacionais e o lançamento de um CD duplo nas lojas pela Som Livre. Do início de sua carreira aos convites das residências. Da carreira meteórica da Space Club a sua volta ao Cine Ideal, tudo é falado nesta conversa. M-Vee solta o verbo e você confere agora em entrevista exclusiva ao site A Capa. A Capa – Você hoje é residente da mais populosa label party do país, a BITCH. Quando você assumiu tal posto e de que forma pintou o convite? M-Vee: Na verdade foi tudo muito rápido. Eu tocava em algumas festas no Cine Ideal e nesse meio tempo pintou o convite para reabrir a Freedom. Alguns meses depois de re-inaugurada, a Freedom estava bombando e virou meio que o point daquela época. Para um DJ recém-chegado à cena GLS foi muito bom e isso meu abriu portas e uma delas foi a da Bitch*. A Capa – Então veio a residência da boate The Place, que era também do produtor Orlando Capaluto (que hoje é produtor do clube Cine Ideal). Como foi que pintou o convite e onde você e o produtor se conheceram? M-Vee: Foi na mesma época da minha entrada na Bitch*. Téo me convidou para ser residente num dia e no dia seguinte me ligou o Orlando convidando para o novo projeto – a The Place. Conheci o Orlando durante as festas que eu tocava no Cine antes de entrar na Freedom, pois mesmo sendo residente da Freedom eu tocava uma vez por mês no Cine Ideal. Orlando é uma pessoa que agradeço muito por toda confiança depositada no meu trabalho. A Capa – O Cine Ideal reabriu em 2004 migrando toda a equipe que fazia o sucesso da The Place. Só que em junho, você largou a casa para assumir a residência da nova Space, de Anderson Lamarca. Muitos falam que você foi o grande responsável do sucesso da casa e do projeto. Até onde você contribuiu para isso? O que te levou a largar a residência do Cine para assumir o projeto? M-Vee: Sou ariano e como todo bom ariano eu gosto de novos desafios. Anderson era uma pessoa que freqüentava muito a noite e tinha um gosto ímpar, mas lhe faltava uma coisa muito importante para se montar um clube: experiência. Usei meus conhecimentos ao longo dos anos de carreira para montar a estrutura de som e luz da Space que, na minha humilde opinião, era muito boa. Na Space eu cuidava mais da parte artística, junto com o Anderson, enquanto os outros membros da equipe eram responsáveis pela parte operacional. O crédito do sucesso da Space não pode ser dado à uma única pessoa, era um time de pessoas novas mas com muita vontade de ver a coisa acontecer. E aconteceu. A Space deixou sua marca na noite do Rio de Janeiro mas infelizmente não basta você ter um som incrível, uma luz extraordinária, bons DJs e as melhores músicas. Tem que ter administração séria e responsável pois uma boate é como toda e qualquer empresa: se for mal administrada… Quebra. A Capa – A Space Club teve uma das trajetórias mais rápidas do mercado: abriu em junho de 2004, dominando as noites de sábado do Rio, e em janeiro de 2005 fechou suas portas. Em dezembro, você voltou a residir no Cine Ideal. Qual foi o motivo, de fato, que te vez voltar à casa de Orlando Capaluto? M-Vee: Como eu disse: gosto de trabalhar com uma equipe focada em objetivos, com planejamento e seriedade. Tudo na minha vida é planejado. Sem planejamento, nada funciona. No começo da Space, era tudo muito bem planejado, mas depois de um tempo a auto-confiança e até mesmo a empáfia fizeram com que as coisas perdessem um pouco do que eu havia idealizado para o clube. Deixamos de ser uma boate com objetivos para ser um playground de vaidades e isso me fazia muito infeliz. Quando algo esta me fazendo infeliz eu prefiro tirar meu time de campo. Acho que um profissional infeliz não rende nada e no caso de um DJ é pior ainda, porque as pessoas na pista sentem isso. O que me fez voltar ao Cine Ideal foram as propostas do Orlando, que eram ótimas e tinham muita a ver comigo. A Capa – E qual você acredita ter sido o motivo para a Space fechar em tão pouco tempo de existência? O que não deu certo no projeto? M-Vee: Acho que a palavra certa é despreparo para administrar um negócio. As pessoas confundiram um pouco diversão com negócio. Uma boate é um empreendimento como outro qualquer, tem que ser bem administrado, se não acaba. A Capa – No dia a dia, você trabalha dentro da Som Livre. Que tipo de trabalho você exerce dentro da empresa? M-Vee: Sou gerente de produto. Coordeno a área da Som Livre destinada à projetos especiais, cuido de todo o processo de gravação de um DVD/CD e de todo o planejamento de marketing, até a chegada às lojas. Trabalho na industria fonográfica há 12 anos. A Capa – E na rádio Transamérica? Como era fazer o programa “Detonando”? Você largou o projeto? M-Vee: Uma das fases mais felizes da minha vida! Era um prazer tocar na Transamérica. Já passei por quase todas as rádios jovens do Rio de Janeiro: RPC, FM O Dia, Jovem Pan, Rádio Cidade, Jovem Rio e, por fim, a Transamérica. Antes de ir pra Transa eu estava na Pan, fazia o programa Ritmo da Noite. Mas não estava contente, pois eu não estava sendo eu mesmo na rádio. Tocava o som que era pra ser tocado em rádio e eu detesto hip-hop. Foi quando a Transamérica me fez a proposta para assumir um programa aos sábados para tocar o que eu queria, então pintou o Detonando que era um programa que eu fazia com a minha cara… Adoravaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Eu resolvi largar o Detonando mais por respeito aos ouvintes pois a coisa estava ficando complicada por causa da minha agenda e eu estava faltando demais. Cheguei a ficar quase 1 mês sem fazer o programa, e eu penso assim: ou faz bem feito ou não faz. O ouvinte merece respeito e você ligar uma rádio pra ouvir um cara e o cara não estar lá, eu acho falta de respeito. Mas meu namoro com a Transamérica continua, eu tenho portas abertas para ir tocar o dia que eu quiser (bom isso né? risos). O Detonando especial de fim de ano fui eu quem fiz, a convite da direção da rádio, e matei um pouco das saudades. A Capa – Seu projeto musical, Love Groove, foi um sucesso. Músicas de sua produção foram parar em Sets de DJs internacionais como Offer Nissim. Conte-nos um pouco mais desse projeto e da sua repercussão. M-Vee: Eu produzo há pouco menos de 4 anos. Investi pesado em equipamento, perdi horas estudando softwares, mas valeu a pena. O futuro de todo DJ esta na produção. Ouvi do Peter Rauhofer e do Chus a seguinte frase: DJ que não produz não evolui. É a mais pura verdade, todos os maiores DJs do mundo são DJs e produtores. A sua produção carrega a sua identidade e é isso que chama a atenção das pessoas. Fico muito feliz de ver minhas produções sendo tocadas por grandes nomes internacionais com Tracy Young, Offer Nissim, Deep Influence, Alyson Calagna, Paulo, Hector Fonseca, etc. Nada é mais gratificante para um produtor do que ver suas referências tocando as suas coisas. É um bom sinal. A Capa – Falando em projeto, seu CD está sendo lançado pela Som Livre, o “Sensation”. Onde poderemos adquiri-lo? Como foi essa idéia e o que podemos encontrar neste CD? M-Vee: A idéia surgiu lá atrás com o lançamento do álbum Love Groove (2003). O sucesso do CD fez com que a Som Livre investisse novamente nesse seguimento. Será um CD duplo com os grandes sucessos da noite GLS. O CD White é bem comercial, com bastante vocais e bem tribal. O CD Black já é um pouco mais de conceito, tem muito groove e boas pitadas de electro. Acho que é um CD para todos os gostos. O Sensation chega nas lojas de todo Brasil no final de Janeiro e a festa oficial de lançamento será no Cine Ideal, dia 10 de Fevereiro. A Capa – Como é sua relação com os outros dois residentes do Cine Ideal? M-Vee: São meus irmãos. Toda boa família discute, diverge em algumas opiniões, conversam e fica tudo bem. É assim a minha relação com Fernando e Robix. Pessoas do bem que pensam em conjunto e não se preocupam com mesquinharias. Somos um time. A Capa – E com os demais DJs do circuito, algum tipo de intriga? M-Vee: Essa frase é velha, mas tenho que usa-la: “Nem Jesus Cristo conseguiu agradar à todos” [risos]. Não odeio ninguém mas eu acho que o fato de um DJ hétero chegar onde eu cheguei na Cena GLS incomoda um pouco algumas pessoas. Sou de falar o que penso e muitas vezes sou mal interpretado, mas … Sou assim. Ralei muito sem ajuda de ninguém. Nunca tive produtor para me pegar no colo e fazer a minha carreira, nem muito menos um site que me colocasse sempre no “spotlight”, por mais que eu fizesse um set de merda. Isso eu nunca tive nem precisei… Apanhei muito, mas estou aqui firme e seguindo em frente. Sou um DJ que sempre abro espaço para quem quiser tocar comigo, seja numa festa, seja no meu próprio clube de residência. Acho que cada um tem seu espaço, seu valor… Essa história de não deixar fulano tocar por razões pessoais é coisa de DJ inseguro, com medo de perder seu espaço. Na boa, isso é ridículo. A Capa – O DJ Marcus Vinícius, com anos de experiência, já tocou em diversas festas. Vemos em seu passado milhares de casas héteros e estilos musicais que chegam ao funk. Como você lida com o fato de ser um DJ que toca na principal casa de house tribal do Rio mas que ao mesmo tempo tem outros gêneros musicais? M-Vee: Não renego meu passado de maneira nenhuma. Já fiz baile, festa de 15 anos, baile funk, festas de subúrbio… Até para desfile de cavalo uma vez no jóquei [risos]. Tudo que eu toquei, cada lugar, cada público, tudo isso me trouxe um aprendizado. Tenho uma bagagem musical que vai da soul music até o trance, passando pelos mais variados estilos. Conheço de tudo um pouco e é essa bagagem que deixa bem posicionado na indústria fonográfica. Conhecimento é tudo. A vida é uma eterna busca, você tem que encontrar a sua realização interior e hoje me realizo por completo com o que eu toco e acredito no que faço. A Capa – E como é ser visto como DJ do povo? Aquele que toca para todo tipo de público, conquista todo tipo de festas e casas? M-Vee: Sou movido a energia e o contato com o povo é o que me faz feliz. Se eu não fosse DJ, sinceramente não sei o que eu seria [risos]. A Capa – Para 2007, o que podemos esperar da noite? O que você acredita que esteja faltando na cena do Rio? M-Vee: Tenho certeza que 2007 vai ser o ano da música eletrônica no Rio e em todo o Brasil. Teremos vários eventos poderosos ao longo do ano, com toda certeza. Acho que na cena GLS falta um pouco mais de consciência das pessoas que fazem a noite do Rio. Tratar melhor o público, dar mais conforto, mais opções, investir mais… Fico triste ao ver os produtores brigando entre si e tirando o brilho da noite do Rio. Por que fazer festa no mesmo dia? Porque não sentar e conversar e montar uma agenda onde todo mundo possa se dar bem? Porque querer derrubar uns aos outros? Realmente, não entendo. A Capa – Já sabemos que Offer Nissim vem para a B.I.T.C.H* de carnaval. Alguma novidade a mais que pode nos adiantar? M-Vee: Infelizmente não estou autorizado a revelar tais segredos [risos]. A Capa – Na época de glória da The Place, músicas como Cha Cha Heels, Love Comanders, entre outras, eram sucesso de pista. A galera ia à loucura nas noites de sábado da casa com esses hits. Porém hoje, os sábados do Cine Ideal têm um som mais pesado, tribal, onde as Drag-musics foram cortadas e desvalorizadas. Lembrando que são os mesmos DJs e produção que agitavam as noites de sábado da The Place. Por que essa mudança na cena? Você como DJ se adapta chegando a mudar seu estilo musical de acordo com o que o público vem querendo ouvir? M-Vee: Na verdade não foi uma mudança minha, foi uma mudança mundial. Os DJs precisam acompanhar a tendência mundial, e as pistas de hoje tem uma outra atmosfera. Na época da The Place, as músicas com vocais estavam em alta, hoje não mais. A maioria das músicas lançadas no exterior tem poucos vocais ou são totalmente instrumentais. O público também se reciclou e acompanhou essa mudança, hoje eles buscam o groove, as viradas, as batidas, as linhas de baixo pesadas. Eles querem sentir a pressão da música com uma harmonia que faça viajar. Continuo sempre preferindo músicas com vocais, mas não com vocais gritados como se tocava antes. Isso já foi, acabou e praticamente não sai nada mais nessa linha lá fora, e quando sai, não emplaca. Odeio barulho. Na minha opinião, a boa música tem que ter os seguintes ingredientes: uma boa melodia, grooves empolgantes e viradas poderosas. Essa é a receita da música que ferve a minha pista. A Capa – Como foi a experiência de ir tocar no Nordeste e na Argentina? M-Vee: PERFEITO! Nossos hermanos argentinos sabem como fazer uma gig.