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Do amante ao amado, peça O Banquete trata do amor libertário e sem gênero

O Teatro Oficina Uzyna Uzona estreou na quarta-feira (24/06) peça baseada no livro O Banquete, de Platão (248 AC). A experiência é única. Primeiro porque estamos diante de uma obra escrita há mais de 2.000 anos adaptada por um dramaturgo e ator que dispensa apresentações. Outra porque o grupo comandado por José Celso Martinez Correa se entrega e faz valer a máxima de que é um grupo teatral e orgiástico.

Com o crescimento do conservadorismo no seio da sociedade, no que diz respeito a diferentes formas de amor e sexo, o texto de Platão nunca esteve tão atual como forma de contestação. Não a toa ele é um imortal da filosofia. O mestre trata do amor entre homens, mas não apenas da relação sexual e sim do afeto, da amizade e da troca. Até que ponto pessoas são capazes de se sacrificar pelo próximo?

Pode parecer cafona, mas não é. O amor para Platão é andrógino e, segundo a sua leitura a sociedade veio pra normatizá-lo, dividi-lo e torná-lo mesquinho. E já que falamos de pessoas que se relacionam e não de órgãos genitais, é fundamental entender a lógica platônica. Como uma matemática, os amantes sempre estão na condição de amante e amado. Um sempre irá ocupar o papel de passivo e outro de ativo (sem levar para o sentido sexual de quem "dá" e quem "come" ou penetra e é penetrado). O primeiro é aquele que provoca, o segundo que recebe. Juntos controem o que chamamos de amor.

São dois mundos que se encontram, já completos. Não existe aqui complemento, pois esse não é amor, é dependência. E, dentro dessa lógica o grupo do Oficina leva essa máxima ao extremo. O mais interessante é que eles fazem uma releitura e questionam as formas de amor atuais, que na visão deles, está muito mercantilista e pra lá de careta.

Peça satiriza conservadores cristãos fundamentalistas

O espetáculo apresentado pela companhia de Zé Celso mais uma vez inova no conteúdo e na forma. A peça não é apresentada em um palco convencial arena ou italiano. Toda a ação se dá em cima de um corredor que funciona como tablado, coberto por um tapete vermelho, que funciona como a mesa do banquete.

Os atores, são os comensais do evento, mas o público interage com a peça na medida em que tem a opção de assitir às cenas sentados ou deitados em colchões que circundam o palco/mesa. A peça é regada a vinho e em algumas horas frutas e até ostras são oferecidas aos espectadores.

Um trecho da peça evoca a homofobia e conservadorismo dos dias atuais, quando um personagem interrompe uma cena para moralizar o que se passa em cena. O ator se proclama um cristão fundamentalista enquanto carrega nas mãos um exemplar de O Banquete como se fosse uma Bílbia. O religioso então ameaça acabar com a farra disparando uma bomba que tira do terno, oportunamente representada por uma lata de Coca-Cola.

A adaptação e montagem da peça foram concebidos por Zé Celso após receber um convite do Queer Festival da Croácia, um país do leste europeu um tanto quanto conservador na questão da homossexualidade. Daí, ficar evidente em todo o espetáculo um ode à Eros, o deus do amor, na mitologia grega, embora a peça seja marcantemente dominada por "comportamentos" dionisíacos, em homenagem ao deus do vinho e da orgia.

A peça resgata ainda uma lenda antiga a respeito da origem da homossexualidade a partir da qual andróginos masculinos, femininos e híbridos que habitavam a terra queriam ocpar o lugar dos deuses. A vingança dos poderosos deu-se com a separação na metade de cada ser e desde então cada pessoa, resultado dessa separação, passaria a vida tentando se curar da dor da solidão a procura da sua outra parte. Que isso é história todos sabem, mas que a peça de Zé Celso tem a façanha de fazer com que acreditemos nela é indiscutível. Evoeros! 

Serviço:
"O Banquete"
Reapresentação: Sábado (27/06) às 21h e Domingo (28) às 19h.
Preço: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia entrada);
Endereço: Rua Jaceguay, 520 – Bixiga
Censura: 16 anos
Estacionamento no local: R$ 10,00
Chapelaria: Sim
Lotação 300 pessoas
Mais informações e compra antecipadas de ingressos: www.teatroficina.com.br

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