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“Do Começo ao Fim” é uma linda e delicada história sobre o amor (im)possível

O tão aguardado novo trabalho do diretor Aluizio Abranches, "Do Começo ao Fim", poderá chocar muita gente quando finalmente chegar aos cinemas no próximo dia 27 de novembro. Não porque trata de incesto e homossexualidade, temas que prevalecem em segundo plano no filme, mas porque será difícil – especialmente para os gays – se reconhecerem na história.

Mas quem disse, por exemplo, que toda trama envolvendo o amor entre iguais deve ser cheia de conflitos e situações impossíveis? E como no cinema, assim como na vida, tudo é uma questão de escolha, Aluizio Abranches optou por caminhos mais fáceis – mas nem por isso menos densos -, quando decidiu não focar no incesto. Para o diretor, seu terceiro longa-metragem não é "gay", e ele tem razão: "Do Começo ao Fim" é uma história de amor como qualquer outra que, apenas por acaso, tem como protagonistas dois irmãos que se envolvem emocional e sexualmente.

A trama de "Do Começo ao Fim" – cuja produção ficou a cargo da Pequena Central, de Marco Nanini e Fernando Libonati – é dividida em duas partes. Na primeira, ainda crianças, os irmãos Thomás (Gabriel Kaufman) e Francisco (Lucas Cotrim) desenvolvem o carinho que, na fase adulta, transforma-se em amor. Filhos de pais diferentes, eles são criados por uma mãe zelosa e onipresente, a médica Julieta, personagem de Julia Lemmertz (em interpretação arrebatadora), e por uma avó de espírito jovem e divertido, Rosa (a sempre convincente Louise Cardoso).

Ao longo dessa primeira parte, a intimidade entre os dois irmãos toma forma nas pequenas coisas, como quando Thomás e Francisco se envolvem em uma briga na escola – na ocasião, Francisco quebra a tíbia e vai parar no hospital. Em uma cena emocionante, Julieta observa os filhos através do vidro do quarto e percebe que entre eles há mais do que simples afeto.

A segunda parte mostra a redenção de Thomás e Francisco, agora interpretados, respectivamente, pelos lindos Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcelos. Somente após a morte dos pais é que os irmãos podem, enfim, assumir o que sentem um pelo outro. Uma trilha sonora marcante mas repetitiva conta, em câmera lenta, a perda que se transforma em glória. Aos poucos, a dor cede lugar à cumplicidade entre Thomás e Francisco, que se despem sob um foco de luz, numa cena que destoa com o restante do filme porque parece demasiadamente teatral e porque não tem a mesma delicadeza de outros momentos.

A partir desse ponto, a trama de "Do Começo ao Fim" dá uma reviravolta quando Thomás, que virou nadador, é convidado para treinar na Rússia. Perdido, Francisco aceita a partida do irmão, não sem antes entregar a ele uma aliança. Longe de Thomás, o médico se joga em festas para tentar encontrar algum motivo para sua existência. Pelo contrário, o que encontra é apenas angústia e mágoa por ter deixado Thomás viajar para tão longe.

Um problema do roteiro deste longa-metragem de Aluizio Abranches são as costuras entre as cenas, que, soltas e com diálogos rápidos e curtos, poucas vezes geram tensão ou expectativa. Quanto ao elenco, o destaque é Julia Lemmertz, que domina os diálogos mesmo em silêncio. Já Fábio Assunção não convence como pai de Thomás. Afetado e cheio de maneirismos, o ator não dá peso a seu personagem que, aparentemente, faz vista grossa à intimidade entre os irmãos.

Quando crianças ou adultos, os intérpretes de Thomás e Francisco imprimem verdade à história desse incesto inusitado. Os novatos Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcelos respondem bem à trama complexa, arriscam-se em beijos e abraços explícitos e dão chance a um roteiro que sem um bom elenco corria o risco de naufragar.

"Do Começo ao Fim" pode aparentar oportunista, apelativo ou enfadonho. Thomás e Francisco vivem em um mundo paralelo, perfeito, intocável. Estão imunes à homofobia latente da sociedade, à resistência da família, são bem-sucedidos, bonitos e vivem confortavelmente em uma bela casa. Mas, como diz Thomás ao irmão, para entender o amor que existe entre eles "é preciso virar o mundo de cabeça para baixo". Só assim, talvez, o filme possa fazer sentido.

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