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Do primeiro encontro a lua-de-mel, entenda tudo sobre arrumar marido

Civil ou religioso, aberto ou fechado, reconhecido pelo governo ou não – o fato é: casamento é uma delícia. Ter alguém para compartilhar a vida, dividir alegrias e despesas da casa, dormir abraçadinho nessas noites frias – quem não gosta? Por isso, A Capa resolveu ir à luta, conversar com especialistas e pesquisar o que há de melhor para você juntar os panos com a cara-metade, a tampa da sua panela, a metade da sua laranja. Ah, você só vai ter o trabalho de arranjá-lo.

Preparativos O namoro está rolando, as coisas ficaram sérias e o bofe concordou com o casamento? Beleza! Agora, começa a parte gostosa de preparar a cerimônia. O planejamento é fundamental para o sucesso de um casamento. Por isso, reserve algum tempo para decidir: vai ter assinatura de termo de união estável (única possibilidade legal de se registrar um casamento gay no Brasil)? Onde e como será a festa? Quem vai ser convidado? E a lua-de-mel? 

Para não correr o risco de ganhar cacarecos inúteis, deixe a lista de presentes em alguma loja especializada. Não fique constrangido: a maioria nem se importa se o casal é gay ou não. Perguntamos sobre isso nas principais lojas de São Paulo e todas disseram que fazem questão de ter gays como clientes: Camicado, Cecília Dale, Imaginarium, Ponto Frio, Spicy, Tok Stok. 

Casamento é um evento muito importante e merece ser pomposo. Por isso, nem pense em chamar as pessoas por e-mail! Envie convites impressos em uma boa gráfica. O publicitário e artista plástico Vitor Rolim sugere aquarelas. “Eu faria à mão, usando tons claros. A aquarela é uma técnica delicada e com o uso certo da cor posso fazer uma bonita ilustração de dois homens de smoking”. Na mesma linha, a designer Priscila Gurski, da Árvore Estúdio, pensa em convites de bom gosto. “Mas como o casal é gay, pode sair do tradicional, com alguma coisa brilhante, por exemplo, nada careta”. Priscila sugere algo chique e masculino.

A festa

Festa de casamento não é balada. Como se trata de um evento que reúne amigos e familiares de diferentes tribos, é importante encontrar um meio-termo que agrade a todos. “Eu tentaria reproduzir algo próximo ao casamento hétero porque, afinal, é por isso que os gays estão se casando”, sugere André Bianchinni, que organiza a festa E-Joy. “O primeiro passo seria conhecer bem o casal e saber o que eles querem”.

Mas, claro, a festa não pode deixar de ter um toque gay. “Eu pensaria em arquétipos que remetam ao universo GLS”, diz o produtor de eventos Luciano Menezes. “Dependendo da ousadia do casal, colocaria até go-go boys dançando com véus”. Ele também diz que gostaria de decorar a festa com marias-sem-vergonha. “Eu trocaria a tradicional flor de laranjeira pelas marias-sem-vergonha porque são bonitas e têm várias cores, representando a diversidade”.

Fábio Cardoso, especialista em eventos de grande porte, sugere os mesmos procedimentos de um casamento tradicional, com valsa, bem-casados, bolo e champanhe. “Mas faria uma lembrancinha diferenciada, para marcar que é um casal gay”.

Se a festa vai virar balada ou não, depende do casal. Nesse caso, um bom DJ pode sugerir o line-up adequado.

Noite de núpcias

Tá, você provavelmente não vai casar virgem, mas uma noite de núpcias inesquecível vai marcar a data. Para ajudar, alguns hotéis têm pacotes especiais para os casais – e você pode ter certeza que vão receber gays sem nenhum constrangimento. 

No Sofitel, o pacote Romântico inclui jantar no restaurante P.Verger para o casal, com menu especial. No quarto, flores, uma garrafa de espumante e petit fours. Além disso, o café da manhã é servido no quarto, para o casal não desperdice nem um minuto do tempo juntos. Afinal, você não vai querer ver crianças e turistas depois da noite de núpcias, né? Por enquanto, esse pacote está disponível em São Paulo, Rio, Costa do Sauípe e Salvador, mas em breve chegará aos Sofitel Florianópolis e Guarujá.

No Grand Hyatt, há quatro pacotes para o casal. O Grand Dreams inclui champagne Veuve Clicquot, flores, chocolate, roupões Trousseau, frutas da estação e late check out. O Grand Dreams com Massagem tem tratamentos com aromaterapia e pedras quentes no Amanary Spa. Para quem não está podendo tanto assim, os pacotes Romance e Romance com Massagem saem mais em conta, com champagne Chandon.

Quer viajar para fora? Não se preocupe. O mercado de turismo brasileiro cresce a passos largos e as agências de viagens segmentadas ou não oferecem bons destinos para uma lua de mel gay. Franco Reinaudo, presidente da Associação Brasileira de Turismo GLS, recomenda alguns paraísos exóticos. “Existem excelentes opções para quem procurar lugares diferentes e lindos. Como o hotel K Club, na ilha de Barbuda no Caribe, ou o Victoria Falls Hotel, localizado na Victoria Falls, na Zâmbia”. As recomendações do especialista em turismo gay custam em média de US$  350 a US$ 1.500, valor por pessoas por noite. 

“Um destino paradisíaco e para poucos é o Le Taha’a private island & Spa. É uma ilha privada só com o hotel. O local é lindo”, revela Franco. No site do hotel, as tarifas indicam a exclusividade do destino: US$ 1.700 por noite. Um destino mais econômico? Franco indica nossos vizinhos: Bueno Aires ou Santiago.

Modelos

A vida a dois começa mesmo depois da lua-de-mel. Até os anos 50, só havia um modelo de casamento: o homem e a mulher hétero se uniam para constituir família com filhos, pets e eletrodomésticos. Depois da revolução sexual, muita coisa apareceu e a chamada “nova família” é uma realidade. Com parâmetros definidos pelo próprio casal – e não pela Igreja, pela tradição ou qualquer outra influência externa – valem várias possibilidades. 

“Não é fácil construir uma relação que não tem modelos”, diz o casadíssimo militante Beto de Jesus, do Instituto Édson Néris. Segundo a antropóloga Maria Luiza Helborn, autora do livro Dois é par (Editora Garamond), os casais gays em geral tendem a repetir o padrão hétero tradicional, enquanto as lésbicas conseguem ser mais igualitárias na relação.

Outra tendência que ganha cada vez mais adeptos entre os gays é o relacionamento aberto, com os cônjuges podendo manter parceiros sexuais paralelos ao casamento. Nesse caso, cada casal precisa decidir como será esse arranjo e se a abertura é emocionalmente confortável para ambos. É necessário muita conversa e uma boa análise das próprias emoções.

Por fim, o que vale é ser feliz com a pessoa que se ama. Seja homem ou uma mulher. Ou mesmo os dois.

O casamento gay no mundo
O casamento entre pessoas do mesmo sexo já não é mais novidade no Primeiro Mundo. Na Espanha, um dos países mais católicos do mundo, a permissão para se casar foi celebrada pelos homossexuais. No Reino Unido, até o Elton John já experimentou. Veja como é a situação em outras nacionalidades:

África do Sul: os casais gays têm o mesmo direito que os heterossexuais.

Alemanha: admite o “contrato de vida comum” para pessoas do mesmo sexo, o que garante direitos de herança e patrimônio, além de permitir a inclusão de parceiros do mesmo sexo em planos de saúde. Os cônjuges gays podem adotar o sobrenome do parceiro. No entanto, não reconhece direitos fiscais e não permite a adoção.

Argentina: a cidade de Buenos Aires reconhece a união civil, com os mesmo direitos que dos casais héteros.

Bélgica: pelo menos um dos cônjuges tem de ser belga ou residir na Bélgica. Casais gays têm os mesmos direitos que héteros, exceto o de adoção.

Canadá: permite o casamento e a adoção.

Croácia: casais gays gozam dos mesmos direitos de quem vivem em união estável.

Dinamarca: foi o primeiro país que reconheceu legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em outubro de 1989. Reconhece os mesmos direitos, exceto inseminação artificial e adoção. Noruega, Islândia e Finlândia seguiram o modelo dinamarquês.

Estados Unidos: Em Massachusetts, o casamento é permitido. Vermount e Connecticut reconhecem as uniões estáveis e outorgam alguns direitos.

França: O Pacto de Solidariedade permite que casais não casados, de qualquer orientação sexual, sejam reconhecidos legalmente. Com isso, têm direito a benefícios fiscais e sociais. Não é permitida a adoção.

Holanda: reconhece o casamento e o direito de adoção para casais do mesmo sexo, desde que ambos sejam de nacionalidade holandesa.

Nova Zelândia: casais gays em união estável têm os mesmos direitos que os héteros, mas não podem oficialmente se declararem casados.

Portugal: reconhece a união estável de casais que estão juntos há mais de dois anos e reconhece direitos fiscais.

Suécia: reconhece os mesmos direitos, inclusive o de adoção.

Suíça: reconhece a união estável, mas não permite a adoção nem a fertilização assistida para casais de lésbicas.

Ir à Parada Gay é muito mais do que uma festa. É um orgulho!

No Café Uranos, o começo da semana tem muita risada