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Do que você gosta?

Em certo momento, no início do filme Milk – A Voz da Igualdade, o personagem-título comenta com seu namorado o fato de estar com 40 anos e não ter feito nada de que pudesse se orgulhar na vida. O comentário surgiu do diálogo em que o namorado sugeriu à Harvey Milk mudar de ares, conhecer novos ambientes.

Em mais uma notável interpretação de Sean Penn, é sabido que o filme veio num bom momento, em que apesar da crise que, justificadamente, rouba espaço na mídia, o mundo todo aspira por modernização em várias frentes, que vão desde a gestão dos governos e empresas, até as relações familiares, interpessoais.

É óbvia e urgente a necessidade de ações pontuais que colaborem para que minorias possam se sentir à vontade em desejar a felicidade, e mais, possam construi-la ao longo da vida como qualquer outro indivíduo.

O filme conta a trajetória de um político bastante militante que fez o que pôde para chamar a atenção ao tema (e não à causa porque este termo coloca a VIDA destas pessoas sob uma perspectiva bastante simplista, como alertou Harvey Milk em um de seus inflamados diálogos).

Entre outras coisas, uma das batalhas travadas por ele foi a mobilização contra a Proposição 6, que determinaria a expulsão de professores gays e seus ‘simpatizantes’ das escolas públicas.
Toda a mobilização e engajamento mostrados no filme me lembraram a recente discussão sobre a Proposição 8.

Rebobinando: em maio do ano passado, a Suprema Corte da Califórnia legalizou o casamento homossexual e, depois disso, cerca de 36 mil casais gays oficializaram sua união. No entanto, no dia 4 de novembro do mesmo ano, mesmo com forte apoio financeiro e de ‘imagem’ de celebridades do porte de Steven Spielberg, Brad Pitt e Ellen DeGeneres, uma das mais populares apresentadoras dos EUA, foi votada e aprovada a Proposição 8, tornando novamente ilegal a união destes casais. Um vergonhoso passo para trás em uma das mais corajosas, inclusivas e inteligentes decisões já tomadas naquele País nos últimos anos.

Enfim. na tangente do assunto e durante discussões ‘pós-filme’, ouvi alguns comentários sobre o mundo não ter mudado nada de lá pra cá. Pode não ter mudado ‘tanto’, mas de qualquer forma, dizer que nada mudou me parece um pouco ingênuo e muito desinformado.

Até onde consigo ver, é fato que as mudanças acontecem a passos de lesmas aleijadas, mas apenas a existência do filme em questão (e tantos outros), além do espaço que a mídia destina para o tema, comprovam que estamos distantes daquele momento repressivo retratado no filme. São filmes, músicas, livros, peças de teatro, quadros, um séquito de expressões. Caso você não leia nada a respeito porque se prende apenas às notícias sobre economia e assuntos ‘mais relevantes’ (!), tente dar uma volta na região da Avenida Paulista. Você vai ver que esta realidade está mais perto do que imagina.

É claro que liberdade como a vista nos grandes centros urbanos do País e, especialmente em São Paulo, ainda não pode ser considerada padrão, de forma alguma. Também não é assim. Sem desenhar um mundo colorido que não é real, óbvio! Mas, não vamos esquecer que tudo se trata de processo, de um árduo e longo processo, sempre iniciado por quem tem coragem de se expor sem medo ou que tem um ambiente que torne seguro o caminho para fora do armário.

E, acreditem, ainda surpreende muita coisa que, na minha cabeça, é comportamento de séculos anteriores, como fazer do gay amigo uma espécie de bobo da corte, a figura engraçada da roda, sabe? Ou colocar sua sexualidade sempre como ‘adjetivo’ e nunca como parte de sua personalidade num contexto mais amplo, sua vida mesmo, entende?

Isso tudo também tem parcela de culpa destes gays que, embora se assumam, aceitam ser ‘respeitados’ desta forma. E, vez ou outra, até levo puxões de orelha quando critico um amigo que se coloca desta maneira. ele sempre argumenta que alguém tem que começar e que é melhor isso que ter que fazer de conta. e, contra este argumento, eu realmente não tenho força!

Enfim, vai de cada um. Eu super respeito quem quer se preservar porque entende que ainda falta muito para existir uma aceitação desprovida de qualquer ‘valor agregado’. E também super respeito quem quer se assumir, independente do momento e de como a coisa toda vai se configurar a partir deste ato. Acho tudo muito válido.

Mas, quando você ouve de uma pessoa inteligente e articulada que todos os gays são infelizes porque não estão dispostos a levar uma vida mais ‘regrada’ e que o que precisam é ‘se encontrar’, surpreende a percepção de que grau de instrução, escolaridade e até acesso aos diferentes perfis de pessoas não tem qualquer relação com a ausência de preconceito ou o puro ‘desapego da necessidade de se preocupar’ com o que cada um faz da sua vida, seja na cama, na rua de mãos dadas ou em qualquer outro momento típico de casal. É impressionante.

Enfim, o post é apenas para abrir a discussão, caso isso se transforme em uma, e também para dizer a minha opinião sobre certas comparações homofóbicas (que cada vez justificam mais a postura heterofóbica que tenho visto por aí).

Comparar os ‘gostos’, tipo. dizer que uma coisa é melhor que outra me parece tão ESTÚPIDO quanto comparar maçã com abobrinha e tão BURRO quanto tentar fazer brigadeiro com os ingredientes de uma torta de frango.

A maçã, a abobrinha, o brigadeiro ou a torta podem ser uma delícia. Ou não! Você pode gostar exclusivamente de um, exclusivamente do outro ou de tudo.

Tudo depende do seu gosto particular. É ou não é?

O que vocês acham?

* Mariana Lemos é colaboradora do site Diversidade Global – www.diversidadeglobal.com.br.

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