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Documentário retrata revolução artística e sexual dos lendários “Dzi Croquettes”

Para chorar e sorrir. Assim pode ser definido o documentário "Dzi Croquettes", dirigido por Tatiana Issa, filha de Américo Issa, responsável pela cenografia do grupo. O longa foi exibido ontem, segunda-feira (22/03), no Cine Sesc da Consolação como parte da mostra competitiva do Ine-dit Festival de Documentários Musicais e será apresentado nesta quinta-feira na Galeria Olido.

As sensações que se sucedem durante as quase duas horas do filme são variadas e contraditórias. Mas algumas coisas ficam claras: como pode um grupo que tanto influenciou e contribuiu para aquilo que conhecemos como "comédia besteirol", e que previu toda uma cultura kitsch que iria estourar nos anos 80, tenha desaparecido, ou sequer conta com memória?

Em plena ditadura 13 homens se travestiram de seres andróginos – nem homem e nem mulher – e subiram ao palco. A partir de palcos de teatros ordinários levaram o seu brilho repleto de glitter, paetês e plataformas para subverter tudo aquilo que se tinha notícia dentro da arte em termos de questionamentos da sexualidade e dos limites entre masculino e feminino. Foi sucesso. Virou cultura e celebração.

Entramos na história da família Dzi, composta por 13 pessoas e divida entre pai, mãe, as filhas, as tias, as sobrinhas e a empregada, a partir dos depoimentos de artistas como Elke Maravilha, Miguel Falabella, Claudia Raia, Pedro Cardoso, Betty Faria, Liza Mineli, Ron Lewis, Gilberto Gil, Marília Pêra, Ney Matogrosso, Normal Bengell, Nelson Motta e outros que fizeram parte, direta ou indiretamente, da carreira do Dzi Croquettes.

Alguns depoimentos se destacam por revelar outras histórias que até então estavam (ainda estão) no esquecimento. Emocionamos-nos ao conhecer a relação da atriz Betty Faria com o grande mentor do grupo, o bailarino Lennie Daile (O Pai), que revolucionou ao misturar bossa nova e jazz – tanto na música quanto na dança.

É entusiástico quando Betty conta a respeito da "Dança da Maconha" e a maneira como ela descreve a sensação ao ver Lennie interpretar tal numero. "Era aquilo que eu buscava", diz em voz alta a atriz ao descrever a maneira como Lennie dançava. E ela chora ao se recordar dos últimos momentos vividos ao lado do amigo.

A transgressão contida na arte do grupo contagiava a todos que presenciavam aquela trupe. O grupo feminino "As Frenéticas", que tanto sucesso fez nos anos 80, surgiria a partir das "Dzi Croquettas", garotas tietes que acompanhavam os rapazes.  Também não deixa de ser irônico que, uma arte tão revolucionária que balançou as décadas de 60 e 70 e provocou a ira dos generais seja ainda tão atual.

A arte criada pelo Dzi Croquettes pode ser vista hoje em shows das drags queens e em seus números cômicos, esta arte que hoje encontra cada vez mais as portas fechadas, que tenta romper com o higienismo dominante no seio da cultura/comunidade gay. E era contra esse mesmo conservadorismo em torno da sexualidade que os Dzi lutaram e deram a cara. A sua arte foi/é tão forte no que diz respeito a (re) significação do masculino e do feminino que a Europa se rendeu e até ganharam uma madrinha de peso, a cantora Liza Mineli.

O grupo teve começo, meio e fim. Mas o ideal criado por eles não. Permeia até hoje na cultura. Porém, é desolador quando o documentário termina e ficamos com a sensação de que andamos para trás. A sociedade se padroniza cada vez mais e o masculino, enquanto norma social, se fortalece e expulsa a androginia.

Veja o trailer do documentário:
 

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