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Documentário retrata vida de Anna Wintour, editora que inspirou “O Diabo Veste Prada”

"No geral as pessoas falam mal da moda por se sentirem excluídas de um mundo especial. Nos criticam por que nós gostamos de um Carolina Herrera ao invés de algo da CRAV (espécie de C&A norte-americana). A moda deixa as pessoas nervosas". É com esse pensamento de Anna Wintour que começa o documentário "The September Issue".

O filme retrata a confecção da clássica edição de setembro de 2007 da revista Vogue, a maior da história, com 840 páginas. Durante uma hora e meia você acompanha os bastidores do processeo de edição da publicação. Para se ter uma ideia da importância dessa edição, ela começa a ser pensada cinco meses antes. Candy Prats, diretora de moda da Vogue, resume seu significado. "Setembro é o mês de janeiro para o mundo da moda, é onde tudo muda".

Mais do que retratar como é feita a revista mais importante do mundo fashion, o documentário é um retrato de sua editora, a toda poderosa Anna Wintour. O adjetivo não é à toa. O publisher Tom Florio traduz o significado de Wintour para o mundo da moda. "Ela é a criadora desse mundo". Florio também conta que não há nada que aconteça no "universo Vogue" sem que Anna esteja envolvida.

A respeito da linha editorial da revista, Candy volta a dar outra aula sobre quem é a jornalista. "É sempre o ponto de vista de Anna que prevalece". Segundo Candy, Wintour é o "papa" do mundo fashion.

"A Anna já chegou?"

Se você assistiu ao filme "O Diabo Veste Prada", deve saber que a editora Miranda Priestly foi inspirada em Anna Wintour. Se achou que ali havia exageros a respeito de sua influência no mundo da moda, você está enganado. O poder dela vai até um pouco além do que é retratado na comédia.

Anna Wintour é convidada de honra para 99% dos desfiles, seja na Europa ou nos Estados Unidos. A câmera filma momentos antes de vários desfiles e em um deles é possível ver o estilista perguntar as pessoas: "A Anna já chegou?". Com a negativa da resposta pede para segurar a apresentação, que só tem inicio com a chegada da editora da Vogue.

Ainda na Europa, uma jornalista ousada pergunta a Anna Wintour, durante o Fashion Paris, o motivo de muitos a chamarem de "mulher de gelo" e o que ela tem a dizer sobre. Com muita elegância e tranquilidade, Anna responde: "Essa foi uma semana muito gelada. O que posso dizer?". Sorriso amarelo para todos os lados.

Outros momentos do documentário são um tanto constrangedores. Quando, a convite de Stefano Picati a jornalista vai vai conhecer a nova coleção da Yves Saint Laurent. Nervoso, Picati manda as meninas entrarem e desfilarem para Anna, que olha tudo e diz friamente que "não é bonito".

Grace Coddington

Anna Wintour é o grande nome por trás da Vogue America, mas ela não está sozinha. No documentário conhecemos Grace Coddington, diretora criativa da revista. Cerca de 90% dos ensaios realizados para a maior edição de setembro foram realizados por ela.

Se há alguém que consegue mudar a opinião de Anna é Grace. As duas começaram juntas na Vogue America. É uma parceria que já dura vinte anos. Ao fim do documentário Anna  diz que Grace "é um gênio" e que ao longo dessas duas décadas elas "aprenderam" a conviver uma com a outra.

Grace foi modelo famosa nos anos 60 e chegou a ser capa da Vogue Europa. Sofreu um acidente de carro e teve o rosto fraturado. Ela conta que a revista lhe ofereceu emprego e assim ela começou a sua carreira de editora de arte. Hoje é considerada a melhor stylist do mundo.

"Nos entendemos", é o que diz Grace sobre a sua relação com Anna Wintour. Ela também não poupa elogios à colega de trabalho. "Quando todos achavam que pele estava fora de moda, Anna colocou pele na capa da Vogue e a moda voltou", conta Grace. "Essa cultura de celebridades… Anna foi a primeira a perceber que sem as celebridades as revistas não iriam sobreviver e ela foi a primeira, nos anos 90, a colocar celebridade numa capa", disse Grace.

"Acho esse mundo da moda estranho"

Em "The september issue" nos perguntamos a certa altura se Anna Wintour possui vida particular. E sim, ela tem. É quando conhecemos a sua filha, Bee Shaffer, que ajuda a mãe a escolher a capa para a revista. Ironias a parte, a filha de Wintour revela ao câmera que não pretende trabalhar com o mundo da moda. Ela considera este universo "muito estranho".

Ao ver o documentário é impossível traduzir o tamanho do poder e influência de Anna Wintour. O que dá pra afirmar é que todos a reverenciam. Mais do que respeitam, a tem como uma conselheira. Como exemplo final: o famoso estilista Jean Paul Gaultier convida Anna e Grace para conhecerem os croquis de sua próxima coleção. Se a dupla disser que este não é o caminho, até mesmo Gaultier rasga seus desenhos e começa do zero.

Outra sensação que se tem é que, apesar das inúmeras dificuldades que as pessoas encontram para se relacionar com Anna Wintour, elas  continuam insistindo. É como se o mundo da moda fosse o oxigênio que mantém muitos personagens vivos. "Muita pessoas já entraram e saíram, é preciso ser forte, caso contrário, a culpa sempre cai em cima de você", diz Grace para um desesperado rapaz frente a uma negativa de Anna Wintour. Perto dela, Miranda é um doce.

Se você tem HBO poderá conferir este excelente documentário, que está em cartaz no canal pago. Infelizmente, não existe DVD nacional para o filme, apenas o importado.

Confira o trailer a seguir:
 
 

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