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Drags que abrem mão do close e que se engajam (de verdade) na luta contra o preconceito

No último mês, a drag queen norte-americana Mama Tits surpreendeu ao enfrentar fundamentalistas religiosos durante a Parada LGBT de Seattle, nos Estados Unidos. Cheia de atitude e discurso afiado, ela encantou os brasileiros, que compartilharam o ato de coragem à revelia.

"Uau, uma drag militante", se surpreendiam. As palmas de fato são merecidas. E a história é uma boa oportunidade para lembrar as drags brasileiras que estão engajadas na militância, que usam do uniforme glamoroso e da maquiagem colorida para quebrar preconceitos – e que quase nunca são reconhecidas.

Um dos grandes marcos da história ocorreu na primeira Parada LGBT de São Paulo, há 18 anos, quando a polícia queria impedir a manifestação. De acordo com a veterana Kaká Di Polly (crédito: Edu Moraes) ela resolveu emprestar seu corpo de medidas fartas como barreira: deitou na Avenida Paulista, fechou o trânsito e possibilitou assim a caminhada.

Personagem de José Manoel, que tem 30 anos de carreira, Eula Rochard também é exemplo de militância. Participante de inúmeras manifestações e de atos políticos, ela é vice-presidente do grupo Diversidade, de Niterói, e conta que já foi arrastada pela polícia durante uma manifestação contra a homofobia, quando o prefeito da cidade quis proibir a Parada, há sete anos.

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Para a artista, todas deveriam ter consciência da força da peruca e sobretudo do poder do microfone. "Que façam um discurso diferente, uma piada inteligente ou uma paródia. Tenta incluir isso (a militância) de alguma maneira", sugere.

SOLDADA DO BEM


Com o Esquadrão das Drags, homenageado pela Câmara de SP

A drag Dindry Buck, personagem do jornalista Albert Roggenbuck, leva a máxima do cristianismo: "o amor ao próximo". Desde que começou a escrever para veículos LGBT, queria usar a palavra para mudar o mundo. Mas foi quando a personagem surgiu que ela descobriu que isso era possível.

Dindry está na Parada LGBT de SP desde a segunda edição e conta que já fez de tudo um pouco. "Na época, os shows realizados na Feira da Diversidade eram todos sem remuneração, pela causa mesmo", declara ela, que hoje ministra as oficinas "Na Cama com Dindry Buck – Diversidade Sexual e Sexo Seguro" e "Nasce uma Drag Queen", sobre a profissão.

A artista – que ganha a vida com telegramas animados – também é membro do Conselho Municipal de Atenção a Diversidade Sexual e faz parte do projeto Esquadrão das Drag Queens, que visa a cidadania, conscientização, formação e informação de jovens. E ainda atua voluntariamente – e até de drag – na paróquia cristã de Itaquera. 

"A drag tem o poder do lúdico e do humor nas mãos. A informação atinge o outro no fundo de uma forma despretensiosa", explica.

NÃO É SÓ A BONITA 


Lohren não quer que jovens sofram preconceito que viveu
 

Em Campinas, interior de São Paulo, a drag Lohren Beauty – do artista Chesller Moreira – conta que passou por muito preconceito em sua adolescência quando era o único gay assumido da cidade. Hoje, Lohren ajuda outros jovens em sua cidadania.

Ela é presidente do grupo E-Jovem, faz parte do Conselho Nacional LGBT, representando a juventude LGBT do país e é idealizadora da Escola Jovem LGT, mais conhecida como a primeira "escola gay" do Brasil.

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"Quando conheci (o meu marido) Deco Ribeiro e a Ong fundada por ele, decidi entrar para fazer trabalhos voluntários e contribuir para que outras pessoas não passem pelo que passei", declara. A drag leva ainda shows de dublagem para a praça pública com a finalidade de ajudar as artistas novatas.

Apesar do engajamento, Lohren afirma sofrer preconceito. "A militância é um dos caminhos para acabar com o preconceito, mas também tem muito preconceito e egocentrismo. Tem que ter a cabeça focada. Nela, eu aprendi o valor da palavra respeito, cresci como profissional e ser humano. Ah, e ainda encontrei o meu marido".
 

NOVA CARA-PINTADA


Tchaka sonha com travesti presidente do Brasil

A drag Tchaka – personagem do ator Valder Bastos – trabalha com telegramas animados. E nem por isso deixa de ir a 99,99% das manifestações, beijaços e festividades para os quais é convocada em São Paulo. Ela afirma que desde que criou a personagem, em 2005, percebeu que a sua figura aproximava as pessoas e começou a se preparar melhor para as respostas.

"Quis que o meu discurso fosse didático, mas sem perder o humor. A imprensa é cruel, quer sangue, barulho e procuram a gente para ver se soltamos 'aquelas' respostas. Com a Tchaka, posso até chamar atenção, mas quem está na direção do que falo sou eu, o Valder, e mostro que temos conteúdo, dados, estatísticas…", defende.

Ao comentar se a militância atrapalha a vida profissional, ela responde que não – "o público é exigente, tanto no figurino, dicção, discurso…" – e que ela é fundamental para os novos projetos. "No meu trabalho novo, que é de dar "Palestra Motivacional Lúdica", tenho ajudado empresas de grande porte a construir cidadãos melhores".

Tchaka sonha com uma travesti presidente do Brasil e que todas as siglas LGBTs tenham as mesmas oportunidades de emprego.

DRAG POTÁVEL


Em primeiro evento gay, Eddylene sofreu ameaças

Eddylene Água Suja – personagem de Rafael Menezes – foi criada ao mesmo tempo em que surgiu a vontade de militar. Ela revela que tentou organizar um fim de semana gay em Cabo Frio, Rio de Janeiro, mas que recebeu ameaças de um suposto grupo de extermínio.

"Isso foi parar na ONU, em todos os jornais e militantes, tais como a saudosa Hanna Suzart, vieram para Cabo Frio e incentivaram a nossa politização. Conseguimos reverter a situação, mas não foi fácil", revela ela, que utiliza do humor e da conscientização para chegar ao público.

"As pessoas escutam o que a Eddylene diz. No meio de uma piada, ela fala da importância do uso do preservativo, do voto consciente… Tudo do jeito dela e que o público entende. Ela se apresenta em todas as Paradas da Região dos Lagos, e eventos culturais das cidades da baixada litorânea".

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E, com cada uma fazendo a sua parte, o preconceito vai se tornando distante. E o riso da igualdade e do bom humor toma conta da vida de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e heterossexuais. É o drag power!
 


Eula: "As drags tem que entender que microfone tem poder"

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