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Dyke no divã: A individualidade

É com grande satisfação que, mais uma vez, me encontro no papel de colunista deste espaço. Tenho tido um gratificante retorno ao perceber que a coluna está sendo cada vez mais bem utilizada por todas nós.

Gosto de me colocar nos textos na 2ª pessoa do plural (nós), porque me sinto tão lésbica e tão mulher como todas vocês. Afinal, no auge dos meus 36 anos, já vi, ouvi e vivenciei muitas histórias. Hoje decidi compartilhar com vocês a história de uma mulher que, para se assumir homossexual a si mesma, sofreu muitas humilhações devido ao preconceito de sua comunidade. Esta mulher é uma paciente, portanto, por motivos óbvios, não vou citar nomes. Entretanto, ela permitiu totalmente que eu falasse sobre ela neste espaço.

M. tem 33 anos e foi obrigada por seus pais a se casar com um homem que só conhecia por fotos. Atualmente, tem dois filhos e trabalha num restaurante típico da família. Procurou-me porque estava sofrendo de depressão profunda, que a impedia de trabalhar e cuidar do lar.

Por intermédio de uma cliente, ela chegou ao meu consultório tão abalada, abatida e retraída que pensei que ela havia sofrido algum tipo de violência física. À medida que as sessões transcorriam, fui percebendo que quando ela falava sobre sua vida sexual, parecia que estava relembrando momentos de tortura. Assim, pude perceber que o motivo de sua depressão era, também, algo que estava ligado diretamente com sua insatisfação enquanto mulher.

Com paciência e com a confiança estabelecida, ela relatou que desde pequena se via em relacionamentos com mulheres. Aos 9 anos, ela se apaixonou pela primeira vez por uma professora. Na adolescência já sabia que um dia teria que se casar com um homem e isso a incomodava profundamente. Nas vezes que tentou falar sobre o assunto com sua mãe, foi fisicamente castigada. Então, resignada, M. passou a aceitar a sua condição. Porém, o que a mente esconde, o corpo explicita.

Atualmente ela conseguiu restabelecer sua auto-estima e, com ajuda da esperança de se realizar, tenta conhecer pessoas fora de sua comunidade, para enfim ter a chance de conhecer uma mulher. Infelizmente ela não pode abrir mão de sua vida como é, pois do contrário seria proibida de ver os filhos e banida de seus direitos, não só como mãe, mas enquanto indivíduo.

Não vou entrar em mais detalhes sobre sua etnia e condição sócio-cultural, mesmo que isso seja de suma importância para o caso, porque a minha intenção é apenas demonstrar que nem todas nós vivemos em liberdade. É importante frisar o quanto, nos dias de hoje, a homossexualidade ainda é vista como doença ou algo religiosamente impuro, isso mostra como algumas culturas e sociedades se sentem ameaçadas pela mudança dos seus padrões, o que se configura no medo de não mais controlarem o que não pode ser controlado: a nossa individualidade.

Todas nós que podemos expressar com orgulho quem somos e as que sonham em poder fazê-lo um dia não devemos nunca esquecer que somente por meio da nossa união e solidariedade para com nós mesmas poderemos nos sentir verdadeiramente livres.

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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