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Dyke no divã: A negação

Olá meninas! Mais uma vez digo que fiquei muito feliz em saber que a coluna está servindo como porta de acesso a muitas de vocês para resolução de conflitos.

Recebi muitos e-mails de mulheres casadas com homens que dizem sempre terem sentido atração por mulheres, mas por conta da forma como foram criadas ou do medo de não serem aceitas socialmente, reprimem seus desejos e por conta disso são infelizes.

Na semana passada falei como o preconceito pode ser uma defesa contra aquilo que desconhecemos, mas que nos atrai enquanto imaginário e, por isso, de antemão excluímos de nossas vidas como algo altamente errado, pelo próprio medo de não sabermos lidar com essa atração-repulsão. As defesas se mostram sob várias formas e nomes, mas uma em particular reflete um pouco do que essas mulheres passam, essa defesa é a negação.

Quantos anos algumas dessas mulheres ficaram se enganando e tentando provar a si mesmas que sentiam prazer com seus parceiros, que essa atração por mulheres era algo errado, ou que era algo passageiro, como uma fase, ou ainda que era algo demoníaco. Sim, dependendo de como fomos criadas a religião interfere e muito na nossa visão de quem somos e do próprio mundo, mas esse é outro assunto que podemos abordar em outra semana, quem sabe?

Mas o que acontece é chamado puramente de negação. A pessoa vive anos negando quem é até não suportar mais. Muitas têm a possibilidade de resolver esse conflito à medida em que abrem suas mentes para a compreensão de si mesmas. Isso pode ser feito através do encontro fortuito com amigas que lhes são confidentes e que são, por sua vez, mais resolvidas sentimentalmente. Pode ser conseguido através da descoberta e vivência de uma paixão; por meio de uma crise, que pode ser depressiva ou mesmo autodestrutiva ou através de terapia, seja está qual for, contanto que resolva. A questão é que quando estamos fechadas num mundo interior opressivo, é difícil sairmos dele sem a ajuda de pessoas ou acontecimentos exteriores a nós.

Pretendo aqui hoje mostrar que a felicidade não é um adjetivo só pra ser escrito, ela pode ser real, vivida e sentida como deve. Ninguém nasceu pra ser infeliz, muito menos para se fazer infeliz negando a si mesma desejos e sentimentos de amor. A não ser que a infelicidade lhes traga compensações que somente você pode saber quais são, porém tais compensações são doentias e vão lhe fazer mal mais cedo ou mais tarde, mas isso também é uma discussão para um próximo capitulo.

Não tenham medo amigas, olhem para si mesmas com vontade. Olhem para seus corpos, percebam o que eles necessitam. Olhem para seus pensamentos, reflitam sobre o que pensam. Olhem para a vida e notem como ela pode ser intensa. Vocês são quem vocês desejam ou vocês são o que desejam de vocês?

Meu falar aqui pode muitas vezes parecer despretensioso, e talvez o seja, afinal, não é realmente com poucas palavras que deixamos de ser aquilo que fomos durante todo um tempo de vida, porém, quero que esse falar sirva como meio de intervenção. Quero cada vez mais lhes atender e compreender, é meu trabalho, é minha vida. Como eu disse em outro texto, a troca é um caminho compensador e torna esse mesmo caminho mais suave quando a ela nos permitimos.

Assim, termino com a frase deste pensador maravilhoso: “Torna-te aquilo que és.” (Friedrich Nietzsche).

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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