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Dyke no divã: A paixão

Olá, mulheres iluminadas! As reflexões que recebi de vocês a respeito do meu último texto me fizeram pensar muito. Parece que algumas de nós precisam somente de um empurrãozinho para se decidirem e irem à luta, seja com relação à sexualidade ou com a própria vida de um modo geral. Realmente fomos oprimidas por muitos anos e nossa hora é agora. O grito de liberdade então vai para todas nós, independente de auto-afirmações particulares: Amo ser mulher!

Com tanto amor para dar, vou falar um pouquinho sobre um sentimento que todas já devem ter sentido: a paixão. Aquele estado emocional em que não temos mais sono, fome ou querer. Imaginamos o objeto de nosso desejo em todos os segundos das nossas vidas, e que vidas são essas se não podemos ter quem desejamos? É assim que o ser apaixonado se sente. Como se não houvesse mais razão para existir, a paixão é quase como uma dor: dor na alma. Mas, o que o outro tem que nos faz sentirmos tão “enfeitiçados”?

Sim, porque parece um feitiço mesmo: é como se fechássemos os olhos e só víssemos a pessoa que desejamos na nossa frente. Essa pessoa não tem defeitos, é perfeita, tudo que ela representa a nós apaixonados é o que completa nossa existência. Do que vem essa completude? O que queremos? Podemos dizer que a paixão é uma fantasia, já que não temos a mínima ideia se a pessoa em questão é realmente tudo que imaginamos.

Então, compreendamos o que essa fantasia nos causa: ao fantasiarmos estamos sujeitos a nos frustrarmos quando descobrimos que tudo o que idealizamos era apenas uma fantasia. Assim, as paixões que mais duram são aquelas que não se realizam concretamente, ou as que se realizam e são unilaterais, ou seja, somente uma pessoa na relação é completamente feliz e essa pessoa é inevitavelmente o ser apaixonado. Quando olhamos para o outro e idealizamos quem ele é, na verdade, estamos projetando na pessoa aquilo que gostaríamos de ser e não somos simplesmente porque nos falta coragem.

O vazio que sentimos ao nos vermos sem o objeto de nosso desejo remete ao vazio que sentimos quando éramos abandonados por nosso primeiro amor que é, na maioria das vezes, a mãe. Percebem como é primitivo esse sentimento? Como ele está ligado ao nosso inconsciente profundo?

Falar sobre a paixão não é fácil, portanto, pretendo desenvolver mais o tema nos próximos textos. Por ora, gostaria de deixar claro que não estou propondo para não se apaixonar nunca mais, só quero mostrar como seria mais fácil se, ao invés de fantasiarmos uma pessoa maravilhosa, olhássemos para quem está próximo de nós e nos ama de verdade ou mesmo para quem nunca imaginamos “dar uma chance”. A chance será dada a nós mesmas que, em vez de buscar o amor perfeito, buscaremos apenas amar e ser amadas, com defeitos e acertos. Além disso, poderemos encontrar todas as potencialidades que a tal da paixão representa dentro de nós mesmas. Afinal, temos que ganhar o mundo, não é?

Outra coisinha, que fica como comentário paralelo e mais uma vez remete ao texto da semana anterior: o Max ter ganhado o Big Brother foi pura manipulação machista, não?

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e escreve semanalmente neste espaço. Participe, envie perguntas ou comentários para o e-mail claudia@dykerama.com.

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