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Dykerama.com entrevista Carmen e Noyr

As professoras Carmen e Noyr, ao assumirem seu relacionamento homossexual, foram demitidas da escola rural onde lecionavam, em Mato Grosso do Sul. O Dykerama.com acompanha a história desde o início (veja matérias aqui e aqui) e entrevistou as duas professoras. Veja abaixo:

Dykerama: Como está o andamento do processo de vocês?

Carmen e Noyr: Sabemos da lentidão do Judiciário, em específico nesse caso, aqui no Mato Grosso do Sul, onde tudo deixa de acontecer, a 24ª Vara do Trabalho é inexperiente e tem deixado a desejar quanto a processos com esse teor.

Num primeiro momento, o Ministério do Trabalho alegou que tal processo não era de sua competência, e queria transferir para Justiça Comum. Diante de tal indecisão, pudemos constatar que ele era tido como uma batata quente na mãos desses doutores, afinal ninguém queria, com decisões favoráveis às professoras, decepcionar o tão poderoso prefeito, Nelson Trad Filho.

Após idas e vindas, chegou-se à conclusão de que o processo era mesmo de responsabilidade da 24ª Vara do Trabalho.

Porém, nas duas instâncias iniciais, não fomos vitoriosas. O que pudemos mais uma vez perceber é que muitos não leem o processo, decidem ali sem antes analisar todos os documentos. Existe a necessidade de discutir mais entre eles, na tentativa de obter um melhor resultado, e realmente serem merecedores do cargo e função que ocupam, e a importância desses resultados para a sociedade. As buscas constantes de respostas e processos intermináveis são uma constante no Judiciário brasileiro.

Meu processo agora será encaminhado para Brasília, pois aqui não conseguimos vitória. Acreditamos que por lá teremos outras mentes, com visibilidade maior para essas questões tão atuais.

Dykerama: Como as instâncias judiciais consideraram a ata?

Carmen e Noyr: Tivemos que ouvir de um certo desembargador que o teor da ata em nenhum momento foi preconceituoso. Imaginem, caso realmente o município e seus gestores pudessem agir com descarada discriminação, talvez seríamos queimadas vivas, retornaríamos à Inquisição.

Para nós, pessoas politizadas e que estudamos com profundidade sobre Direitos Humanos e LGBTs, fica muito difícil dar crédito ao Judiciário. Nada foi levado a sério pelos juízes, e eu, Prof. Noyr, não consegui a punição dos responsáveis, por toda essa discriminação e desrespeito aos Direitos Humanos. Quem sabe em Brasília?

Dykerama: Caso a Justiça não se posicione, o que vocês pretendem fazer?

Carmen e Noyr: Deixamos claro que continuaremos a buscar em todas as instâncias. Continuaremos lutando, a fim de que a geração LGBT vindoura tenha mais paz, respeito e não conheça as várias formas e manifestações de violências praticadas (atualmente) contra LGBTs.

Dykerama: Que tipo de políticas públicas poderiam ser desenvolvidas para evitar casos como esse?

Carmen e Noyr: Bom, penso que algumas coisas já estão em andamento, porém, demorarão a se tornar realidade. Participamos do V Encontro Regional (Centro Oeste) de Travestis, e uma representante do municípío teve a ousadia de dizer, a todos e todas, que desconhecia sobre o nome social a ser utilizado nas escolas. Ainda disse que aqui não tínhamos alunas travestis que reivindicassem tais direitos. Com isso, temos a certeza de que, apesar de fortes e novas conquistas diárias dos LGBTs, o desconhecimento por parte dos órgãos envolvidos ainda é grande, não conseguem acompanhar todas as mudanças.

Dykerama: Levando em conta a experiência de vocês, como a educação básica lida com a homossexualidade em sala de aula? Existe algum programa de atualização que trate do assunto?

Carmen e Noyr: Temos participado de vários debates, em diversos estados, alguns tidos como referências e outros que ainda têm muito a debater na construção de metodologias e abordagens sobre a homossexualidade dentro do ambiente escolar. Mas, para nós, a escolas são espelhos de seus administradores, e podem ser excludentes a partir do olhar de seu gestor. A escola tem um papel importante na vida do indivíduo, talvez o mesmo peso que a família.

Acreditamos que fora as políticas educacionais sobre o tema, é necessário a sensibilização dos professores, pois eles são as ferramentas para o sucesso dessa construção. Ocorre que devido a questões religiosas, e também certo “mal estar” na abordagem, faz com que a grande maioria dos professores e também todos e todas da comunidade escolar ainda não se sintam à vontade com o debate acerca desse tema.

Estive em Recife-PE, como conferencista, numa capacitação para professores, através de uma parceria entre as Secretarias Municipal e Estadual de Educação e UFPE, que objetiva derrubar preconceitos e conseguir aliados, e principalmente preparar o professor na acolhida e inclusão dos alunos LGBTs. É uma batalha muito árdua. Mas o resultado desse segundo encontro, a participação dos professores e projetos que elaboraram com seus alunos, entre a realização do primeiro e segundo encontro foi maravilhoso, e o resultado é uma escola de mais qualidade.

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