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Notícias de uma casa suja

Adamastor acabara de vestir o seu uniforme, trabalha como faxineiro na Casa S. há 15 anos, muita coisa por lá viu, inúmeras eleições para a presidência da casa, porém, não lembrava de uma tão agitada com a atual, a casa estava cheia, muitas vozes e gritos eram escutados.

"Olha aqui, não quero saber de votação baixa, ao menos 42 votos e se souber de merdinha traidor…ai ai ai", dizia ao seu assessor o candidato Ney. Do outro lado, o seu forte opositor, o candidato Ana, considerado da ala um pouco mais progressista já estava com ar de derrotado, cansado, com olheiras e a procura de um café muito forte. "você se dedica anos da sua vida a questão partidária e os filhos da puta o abandonam".

O nobre faxineiro, o nosso amigo Adamastor, varria o corredor do 5º andar, que dava acesso ao plenário, onde nesse momento, por volta das 10 da manhã já começava as discussões finais e acordos iniciais para se decidir quem iria presidir. Ficou impressionado nesse momento, observava pessoas que até dois, ou três dias atrás se odiavam e se ameaçavam de morte trocando juras de amor. Claro que essas juras tinham lá o seu valor.

Resolveu ficar um pouco mais e ver quem iria nos próximos dois anos lidar com a grana das gentes que sustentam o país. Até simpatizou com um nobre parlamentar e corajoso, mas que, coitado, era uma voz no deserto. Enquanto esbraveja coisas do tipo, "cambada de porcos! Esquecem de seus direitos com o partido e com o povo para se venderem feito prostitutas", gritava enlouquecidamente, mas os companheiros de trabalho nem ligavam. Reinavam as conversas no pé do ouvido. Ah sim, e as risadas sustentadas em expansivas barrigas.

Adamastor sentiu o estômago doer. Pensou e acatou a idéia de que continuar a limpar os corredores era coisa mais interessante. Pensar na vida, na família e no cigarro. Foi até a salinha onde ficam os produtos de limpeza, acendeu o cigarro e curtiu cada tragada. Pensou um pouco na cena que acabara de ver, tentava entender, mas o estômago voltava a doer, se tentava pensar mais um poquinho no assunto, além de sentir pontadas na barriga, sentia azia. "O negócio é não pensar nessa gente estranha".

Por volta das 17h já se conhecia o candidato vencedor. E era Ney, como já se esperava, por um momento houve o temor que perdesse. Apenas um presságio. Todo extasiado chegou em casa, queria conversar com a sua mulher, contar a mais nova. "Bem, vou controlar quase 1 bilhão de verba! Vai todo mundo comer miúdo na minha mão". Ria sem parar e secava a garrafa de uísque.

O diálogo com esposa durante a janta continuava. "Ai amor você não acredita, no meio daquela tensão toda me aparece um jornalista, só recebi por que era da grande imprensa e você sabe né? Não pode despachar esses caras, são úteis. Mas, o infeliz vem e me pergunta se no meio das minhas propostas estavam as questão gays. Que vontade de cuspir na cara. Idiota. Hahahahahaha". Não cabia em si o novo presidente da casa.

Atenta, a mulher escutava. "E não é que veio um socialista de merda e metido a libertário me peitar? Falei na cara dele: olha aqui seu bosta, se eu perder meto bala na sua cara, seu merda! Aí ele foi no microfone falar… imbecil! Hahahahahahaha".  Continuaram a comer, ele a falar, a mulher a escutar e assim foi.

Adamastor acabara de chegar em casa, conversou rapidamente com o filho que fazia shows musicais em casas noturnas gays. "Toma cuidado meu filho, tem muita gente com raiva por aí", "pode deixar meu  pai", despediram-se e o filho se foi. Encontrou a mulher na cozinha terminando de arrumar a mesa para o jantar, ela sempre perguntava ao companheiro com havia sido o dia:

– então meu amor, como foi o seu dia?

– ah bem, é aquela coisa: eu varro, varro, mas a sujeira teima em não sair do lugar.

Deus é brasileiro e Jesus é carioca!

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