Meu final de 2008 foi triste… Minha sogra já estava doente e desde que piorou, em novembro, não saiu mais do hospital. Acabou falecendo no dia 29 de dezembro quase à meia-noite. Eu era a única pessoa em condições de dirigir, de ir pra lá e pra cá, acompanhando minha mulher e as duas irmãs dela.
Claro, era a única coisa que eu podia fazer por elas naquele momento tão duro e único de suas vidas. Faltei no trabalho na terça-feira, dia 30, para dormir um pouco, antes de partir para o velório, já que não tinhamos pregado o olho a noite inteira. Ao retornar ao serviço, com a declaração de acompanhamento de familiares, assinada pelo médico da UTI e atestado de óbito em mãos, ouço a fatídica pergunta: “É sua parente?” Não… para o resto do mundo não era.
É isso. Não tive coragem o suficiente para assumir minha relação para a chefe, apesar de ter quase certeza de que a maioria ali já sacou minha orientação sexual só pela minha aparência. Pesquisei na internet e vi que eu poderia ter os mesmos direitos (licença nojo, luto) de um genro que perde a sogra, caso eu tivesse um documento de relação estável feito em cartório, ou mesmo algo que comprovasse que moramos no mesmo endereço.
Eu tive receios que eu não sabia que eu ainda guardava dentro de mim. Medo disso virar o assunto do setor, por não saberem lidar com tal situação, dos comentários, do preconceito que agora seria aberto. Bom, o fato é que iriam descontar do meu pagamento esse dia e pronto. Meu coração não se abalou, pois fiz o que era certo e não tinha como eu ir trabalhar e largar minha mulher sozinha.
Depois acabaram conversando melhor comigo e a nossa coordenadora acabou justificando minha falta, sem questionar nada. Disse que eu merecia e ponto final. Pensei bem sobre tudo isso e cheguei à conclusão de que não podemos nos esconder se estamos querendo o reconhecimento de que somos iguais, de que merecemos ter os mesmos direitos de qualquer cidadão heterossexual. Prometi para mim mesma que da próxima vez que eu tiver que faltar por qualquer motivo que envolva a minha mulher, eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para ter os mesmos direitos de um cônjuge. E vou começar agora, com a festa do meu casamento marcada para fevereiro, com ritual, amigos e muita música, numa praia bem tranquila… O cartório está incluso, e será depois da festa, aqui em São Paulo.
Não há como viver uma relação pela metade. Não há mais como fugir e dar lugar para o medo. Se você ama uma pessoa do mesmo sexo, levante a cabeça e vá atrás da vida que gostaria de ter.
P.S.: Moro com ela há quase um ano, mas nunca festejamos nossa união. Agora é a hora e será inesquecível como a primeira vez em que a vi.
Link sobre licença nojo para relações homoafetivas: