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É preciso saber viver a Parada!

Este ano, estive na minha sexta parada. Nas últimas edições tive o privilégio de ficar nas áreas vips, em carros e, este ano, na área reservada à imprensa. E tudo mudou, tanto a Parada quanto a minha visão sobre ela.

Houve sim mais organização, mais estrutura. Assim como houve menos gays, lésbicas e simpatizantes e muito mais heterossexuais que só estavam lá por acharem que o evento é uma micareta. Arrisco dizer que havia mais héteros do que homossexuais. E, assim, é claro que a Parada se descaracteriza e perde o “glamour” e o tom reivindicatório que apresentava até alguns anos.

Porém, acho ridícula a posição de algumas mídias GLBT que exigem que a Parada seja feita para um público “bonito” ($). Isso soa tão preconceituoso quanto o preconceito que eles desejam combater. Como se só os gays, as lésbicas, os bissexuais e os travestis, transexuais e transgêneros que correspondem ao padrão de beleza que reina no “status quo” tivessem direito a manifestar-se, divertir-se e lutar pelos seus direitos. É exatamente o contrário.

As pessoas citadas como “feias” por alguns são exatamente as mais marginalizadas, que sempre sofrem com agressões e atitudes homofóbicas, além de várias formas de exclusão social. As pessoas “bonitas” têm dinheiro e poder para se proteger disso. Puro discurso contraditório e hipócrita. Vejo também o nítido despreparo da mídia em geral na cobertura dos temas ligados aos GLBT. Predomina uma visão estreita, preconceituosa e cheia de sensos-comuns. Para cobrir eventos da magnitude dos que existiram nesta Semana do Orgulho deveria haver mais preparo, respeito e cuidado por parte da grande imprensa para que ela não reproduza e reforce, mesmo que implicitamente e inconscientemente, os preconceitos já existentes.

Clara é a visão do governo para a parada: retorno financeiro. Infelizmente é isso que esperam. Cabe ao setor GLBT dar à Parada o teor de festa e manifestação tão desejados por nós. Cabe a nós também a maturidade de nos unir e discutir de forma crítica e aberta o que fazer para tornar a Parada um exemplo, como já foi até alguns anos.

Não credito a perda do “glamour” e do tom reivindicatório aos GLBT, mas sim aos heterorossexuais que lá vão sem saber por que lá estão. Mas também não acho que a Parada tenha que ter só gente dita “bonita”. Se for para ser assim, fechemos a The Week e façamos a Parada lá, cobrando preço de balada.

Como resolver, como unir a reivindicação com diversão, glamour e beleza? Olhem para a Caminhada Lésbica, talvez algumas respostas estejam lá. Este ano, mulheres de vários grupos se uniram e discutiram durante meses a sua organização, e a Caminhada saiu às ruas sem sequer um patrocínio. Houve festa e protesto e a beleza estava na união e diversidade de pessoas. Funcionou, e muito bem.

Talvez a Parada exija de alguns GLBT uma democratização do olhar. Um pouco menos de visão fascista da beleza e da sociedade e mais visão social. Lutemos por direitos, não por exclusão e homogeinização pela “estética”. Um grande aprendizado, que deve ser construído e que, se concretizado, será pioneiro. Caminhemos.

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