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E quando o sexo se transforma em “bom dia”?

“Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em “bom dia””
(George Israel/Paula Toller)

Acabei de casar. Melhor dizendo, depois de 5 meses de namoro, minha namorada se mudou pra minha casa. È, eu sei, clichê total, mais ainda agora que estamos querendo pegar um gatinho… Mais lésbico, impossível.

Apesar dos pequenos ajustes a serem feitos na rotina e no espaço (que, por enquanto, é exíguo) tê-la ao meu lado todos os dias me faz um bem enorme. Mas a rotina, ao mesmo tempo que me maravilha, me assusta. Afinal, como manter a chama do tesão acesa depois de anos e anos morando junto?

A genial (e lindíssima) Paula Toller já lançava esta questão na música Grand Hotel. E assim eu fico pensando em como não deixar a rotina transformar o amor e o tesão em “bom dia”. E já tenho algumas pistas.

A primeira delas é ridiculamente óbvia: não deixar a rotina virar rotina. É muito comum as contas, o trabalho, a vacina do gatinho e a escola das crianças passarem a ser o foco das preocupações do casal, e assim o romance vai por água abaixo. A libido é esquecida, e não só no sentido sexual, mas na relação que temos com o nosso corpo e as coisas que nos dão prazer. Quando se atinge este ponto é importante lembrar daquilo que gostamos de fazer, principalmente uma com a outra. Dançar, cozinhar juntas, massagens, praticar um bom esporte, ir à praia são atividades simples que podem despertar a libido que andava esquecida no fundo do baú da vida cotidiana. Além disso, quando um casal estabelece uma rotina comum, o que acontece naturalmente, algumas ações passam a ser esperadas e isso pode apagar o fogo da surpresa, do inesperado.

É preciso saber surpreender uma à outra e deixar espaço para o tesão, seja com mimos, seja lendo um conto excitante (aqui no site tem vários muito bons), seja com uma lingerie sensual ou um jantar à luz de velas. Cada surpresa desperta um clima diferente, e cabe a nós saber o que a parceira gostaria e o que queremos para aquela noite. Mas também não vale, para as que são surpreendidas, soltar frases do tipo “Ai, por que isso hoje? Tô cansada e nem é uma data especial”. Isso broxa qualquer alma louca por manter a chama da paixão acesa (ih, hoje baixou uma coisa realmente clichê, meio Wando…).

A segunda pista talvez seja entender que os sentimentos mudam com o tempo, assim como a relação e as pessoas. Você a conhece mais profundamente, e ela a você, e isso gera às vezes transformações nos sentimentos e na relação, que pode chegar muito facilmente ao amor fraternal. Existem mulheres que não se importam com isso e conseguem viver numa relação assim, mas para aquelas para quem o sexo é importante, é preciso ficar atenta para trabalhar estas mudanças, inclusive na hora e na freqüência da transa.

A terceira está relacionada à segunda: quando você deixa de enxergar sua mulher como amante e a vê como esposa ou mãe, as relações sexuais podem esfriar e rarear. Isso é comum entre relacionamentos heterossexuais, mas acontece também entre as lésbicas. Para algumas pessoas a imagem de “esposa” e “mãe” ainda está relacionada à castidade, ou seja: é impossível continuar tendo tesão por uma mulher que você inconscientemente vê como casta. Um exemplo desta fase é quando Bette e Tina, de “The L Word”, depois de terem a filhinha, vão procurar uma terapeuta sexual para reavivar a relação.

Quando a mulher percebe que elas se tratam como “Mommy B” e “Mommy T” (Mamãe B e Mamãe T), ela ri e pergunta se elas estão se tratando sempre assim e lembra que esta forma de tratamento deixa a imagem de mãe se sobrepor à imagem de mulher e amante. Quando isso acontece é preciso reconhecer nela, novamente, a mulher que te fazia subir pelas paredes, e talvez relembrar algumas experiências inesquecíveis que tiveram juntas ou mesmo criar novas. Mas é necessário um esforço de ambas as partes, pois quando uma não quer…

Em resumo, acho que o cuidado é não deixar de ver sua namorada ou esposa como uma mulher que lhe desperta desejo, não deixar a rotina ditar as regras da vida do casal, sempre enxergar seu corpo como fonte de prazer e saber conviver e aproveitar as mudanças de sentimento… Não parece fácil. Mas quem disse que amar é?

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