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“É uó o preconceito do mundinho GLS; travesti não gosta de gay, que não gosta de lésbica, que não gosta de pintosas”

Silvetty Montilla já recebeu, informalmente, o título de “Rainha da Noite de Sampa”. Merecido. Com 19 anos de carreira, Silvio Cássio Bernardo, 39 anos, chega a fazer até dez shows numa única noite. O segredo para tantos anos de sucesso? “É ser profissional e ter muito talento”. Começou sua carreira participando de shows de miss em São Paulo (ganhou o título de Miss Cidade, Miss Brasil e Miss Primavera) e foi integrante do grupo de dança “Panther Boys” que fez muito sucesso na noite no início dos anos 90. Silvetty é famosa por seus bordões na noite como “to bunita”, “tá boa?”, “e aí?”, entre muitos outros. Todos pegaram e fazem parte do vocabulário gay. Essa drag está na boca do povo, do Centrão aos Jardins. Suas incursões pelo mundo da música produziram pérolas do cancioneiro popular gay: “Eu tô bunita/alguém comia? /Tô lindona?Alguém comia?/Tem gente que comia, viu?”. Seu terceiro CD, “Coisa boa pra você”, deve sair nos próximos meses e, tudo indica, será um sucesso como seus antecessores. “As músicas do novo CD já estão tocando nos shows e a recepção tem sido boa”. Vestindo um jeans básico, blusinha de linho e bolsa “Dolce & Gabanna”, Silvetty nos concedeu a entrevista abaixo: Quando começou Silvetty Montilla? Eu era auxiliar de promotoria no Ministério Público. No início, tentei conciliar o emprego de dia. Mas eu sempre fui boêmia. Quando a noite começou a compensar financeiramente, pedi exoneração do cargo. Hoje viajo o Brasil todo com meu show e trabalho muito. Seu show mantém, basicamente, o mesmo formato há alguns anos. Qual o segredo para o sucesso? Realmente o formato é o mesmo, mas o público é sempre diferente. Eu tento imprimir uma nova cor ao show, criar novos jargões e, principalmente, ter conhecimento do que acontece aqui e lá fora, e mostrar nosso cotidiano de uma forma mais divertida. Além da legião de fãs aqui no Brasil, você acabou de voltar de uma pequena turnê pela Europa. Como foi essa experiência? Não foi uma experiência nova. Já há cinco anos viajo para o exterior. A primeira foi como turista, até que alguns amigos que moram lá me convidaram para fazer shows; há pencas de brasileiros lá fora. Ano passado, meus shows aconteceram num pequeno pub em Londres. Este ano, minha amiga Batata conseguiu um lugar maior, a boite Álibi, e teve até divulgação em revistas. Fiz shows ainda em Milão, Roma (Itália) e Colônia (Alemanha). Recentemente, você participou do curta-metragem “Fuga em cativeiro”? Como foi essa experiência? É uma participação pequena, mas muito especial. Já tinha feito teatro e fazer cinema foi uma experiência legal. Fiz uma cabeleireira, chamada Silvetty, e contracenei com a atriz Patrícia Coelho. Essa oportunidade é fruto do meu trabalho nesses 19 anos de carreira e espero que apareçam novos desafios. Você acha que as paradas ajudam efetivamente a comunidade GLBT? Ajuda, sim. Ajuda as pessoas a tomarem consciência da nossa situação. É claro que acaba se transformando num imenso carnaval. Muitas pessoas vão pela causa e outras pela diversão. E há um grande número que nem ao menos sabem que a parada tem um tema, todos os anos. É necessário que a gente apareça na TV, na internet, no jornal, para que a sociedade saiba que estamos lutando pelos nossos direitos. O que é uó pra você? Puxar o tapete é úo. Tem muitos bons profissionais na noite e acho que ninguém precisa fazer isso pra chegar lá. Tudo tem um começo, e o começo não é fácil. Se você tem mesmo talento, não precisa puxar o tapete de ninguém. Outra coisa que eu acho uó é o preconceito que há no mundinho GLS. Travesti não gosta de gay, que não gosta de lésbica, que não gosta de pintosas. Não entendo isso. O que você faz nas horas vagas? Tenho pouco tempo pra descansar e fazer as coisas que gosto. Meu único dia de folga é a terça-feira. Gosto muito de sair pra jantar com amigos, ir ao teatro e sair pra papear. Como anda o coração? Batendo (risos). Meu coração está bem. Sempre estamos em busca da nossa alma gêmea, amando, sofrendo… amar e sofrer andam juntos. Silvetty Montilla por Silvetty Motilla. Muitas pessoas conhecem apenas a Silvetty Montilla, aquela personagem dos palcos. Mas poucos conhecem o Sílvio. Sou tímida. As pessoas pensam que minha vida acontece apenas no palco, com toda aquela purpurina. Tenho família, amigos, e uma vida normal também, como qualquer um.

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