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Efervescência da vida

O primeiro filme lésbico que assisti foi “Desejo Proibido”, com a Sharon Stone. Contam-se três diferentes histórias, sendo que uma delas é sobre um casal lésbico na terceira idade.

Desde que o assisti fico imaginando como será minha velhice. E é claro que uma lésbica pensa nisso! Estarei elétrica e realizando mil atividades, mas será que estarei casada? Viúva? Sozinha?

No mundo gay – quando digo mundo gay me refiro a homens e mulheres – a velhice é encarada como solidão. Só que isso está mudando. Achei um asilo gay na internet. O anúncio diz o seguinte:

“O primeiro asilo voltado para o atendimento à comunidade de gays e lésbicas foi inaugurado em Berlim com o propósito de oferecer acolhimento e uma velhice digna aos homossexuais alemães. São 28 vagas, sendo cinco suítes de casal, preparadas para atender companheiros e companheiras que queiram viver juntos a maturidade do amor homossexual na terceira idade. Apesar de voltado para o público gay, o asilo aceitará heterossexuais que se interessa em viver lá.”

Mas não adianta existir asilo gay se a mentalidade das pessoas com relação ao envelhecimento continua a mesma. Todo mundo esquece que é um percurso natural da vida: nascer, crescer e envelhecer. Engana-se quem pensa: “Ah, eu não vou ficar igual àquela velhinha que mora perto da minha casa!”

Sabe-se que a população brasileira ficou mais velha e a medicina quadruplicou os estudos voltados para a velhice, apesar da assistência médica a idosos ser muito cara para o padrão econômico brasileiro.

E o que há de belo em envelhecer? Envelhecer é aquela velha frase batida de “enriquecer com sabedoria”. Ter tempo para ler, para ver mais filmes e DVDs, tomar sol todas as manhãs, fazer um almoço gostoso sem se preocupar em voltar correndo para o trabalho. É o momento de agradecer a Chronos ou Saturno, o deus do tempo, por tal benção. Ter tempo hoje em dia para uma boa vida é um luxo. Mesmo quem não tem aposentaria para desfrutar destes pequenos prazeres trabalhará menos e assim reorganizará sua vida para desfrutar de bons momentos outrora não vividos.

É ter tempo para si e para ver/analisar a evolução da vida. Por exemplo, jovens homossexuais em 1969 deram início a essa nova visão dos gays, como cidadãos providos de direitos, e marcaram a história com o enfrentamento aos policiais diante do bar Stonewall Inn, em Nova York. Esses jovens são os gays idosos de hoje. Talvez a primeira geração de gays conscientes de seus direitos como homossexuais que chega à terceira idade.

É também o momento de se orgulhar de ser chamada de “tia”, pois isso nada mais é que o reconhecimento da maturidade intelectual de uma pessoa com experiências incríveis de vida, disponível para compartilhar com as meninas mais novas. Ser “tia” não é o fim de carreira de uma mulher, mas o começo do auge.

Nossa realidade também nos proporciona outra face da moeda, a discriminação. Berlim possui uma população de 1,3 mil homossexuais idosos vivendo em asilos despreparados para lidar com sua orientação sexual. Muitas vezes são obrigados a se ocultarem de volta no velho armário, contra o qual lutaram tanto. É comum relatos de velhinhos gays e lésbicas que, ao revelarem sua homossexualidade nesses asilos ou casas de repouso ou centros de vida assistida, passam a ser excluídos das conversas e deixam de ser bem-vindos às refeições. Vivem sob a ameaça de um dia dependerem de estranhos para suas necessidades pessoais e acabarem sendo vítimas de maus tratos, insultos e desrespeito. Muitos acabam vítimas de depressão e chegam a cometer suicídio.

Discrimina-se porque morreu algo, mais especificamente a juventude. Aí é o momento dos indivíduos maduros conviverem com a morte. E, quando falo em morte, não me refiro somente à perda da juventude, ou apenas ao sentido literal da palavra, mas às diversas “mortes” ou perdas que permeiam nossa vida. No entanto, quando a pessoa não é suficientemente forte, ela prefere não viver para não ter que encarar o fim.

Por isso, também as relações tendem a se tornarem superficiais sem contato mais profundo, seja amoroso ou uma simples amizade. E para piorar a situação muita gente prefere viver menos para não ter que morrer tanto. Porém, o segredo da juventude é este: vida quer dizer arriscar-se à morte, e o fervor de viver quer dizer viver a dificuldade.

PS: No meu blog há os textos na íntegra do Dr. Roberto Shinyashiki – “Transforme sua vida” e também do Dr. Paulo Valzacchi – “Você sabe o que quer da vida?”, que são alguns pontos base deste texto. Acessem: http://teandcookie.wordpress.com/

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