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“Ele é feminino e casado com o pai”, diz Matheus Natchergaele sobre o personagem de seu filme

Foi entregue ontem o prêmio CineSesc Melhores 2008, que é dividido entre os preferidos da crítica e do público. Destaque para melhor filme estrangeiro, cujo prêmio foi entregue a "Vicky Christina e Barcelona". E o brasileiro "Linha de passe" foi o grande campeão da noite, com cinco prêmios, entre eles filme e direção.

A noite era pra ser de Daniela Thomas e Walter Salles (dupla que dirigiu "Linha de passe"), mas o centro da atenção foi o ator, e agora também diretor, Matheus Natchergaele. Para a abertura de retrospectiva do CineSesc, foi escolhido o filme que Matheus assina a direção, "A Festa da Menina Morta", que conta a história de Santinho (Daniel Oliveira), considerado um santo por ter achado o vestido de uma menina que foi assassinada.

Mas a história vai um pouco além e parte dela é focada nas particularidades dos personagens, como explica Matheus. "Procurei fazer um retrato íntimo das pessoas envolvidas com uma manifestação como essa", diz. O filme já causou impacto ao ser exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do ano passado, pois além da fé exarcebada, o longa retrata a relação incestuosa entre Santinho e seu pai (Jackson Antunes). "Ele é muito feminino, veste as roupas dela [a mãe] e é realmente casado com o pai" conta Matheus. O filme, que já foi resenhado pelo site A Capa, tem estreia marcada para o dia 12 de junho. Confira a seguir a entrevista com o ator e diretor. 

De onde veio a inspiração para a história do filme?
São muitas coisas que forjam um argumento e depois um roteiro. Uma delas é o fato de eu ter presenciado uma festa laico-religiosa no sertão da Paraíba em 1999, onde as pessoas adoravam os trapos rasgados de uma menina desaparecida que tinha morrido, mas o vestido tinha sido encontrado. E aquelas pessoas consideravam aquilo como um milagre. Isso me perturbou e comecei aos poucos a gestar um roteiro para o cinema inventando personagens que participassem dessa história.

Como surgiu Santinho?
O protagonista (Santinho) no filme é o cara que encontrou o vestido da menina e é considerado um milagreiro pelas pessoas da comunidade. Procurei fazer um retrato íntimo das pessoas envolvidas com uma manifestação como essa, procurando entender como a gente tem uma capacidade grande de inventar a fé, como o ser humano tem capacidade de dar sentido ao que não tem sentido.

Não é um filme fácil…
É um filme de arte, difícil, e que leva o seu tempo. Toma o seu tempo para contar a história e procura perguntar: será que não é o luto das coisas que faz a gente ter fé?

Santinho tem uma relação incestuosa com o pai. Há amor entre eles?
Santinho é filho de uma suicida, a mulher ausente é um dos temas do filme. Ele se transforma num santo por conta da ausência da mãe. Eu tenho certeza que ela cuidaria dele se estivesse viva, e não deixaria a comunidade fazer com ele o que fizeram. Santinho está apaixonado pelo seu pai, está no lugar da mãe, e o pai está casado com ele. E o Santinho, para recuperar a figura materna, é um pouco a mãe, veste as roupas dela. Ele é muito feminino, é realmente casado com o pai.

Como foi a experiência de dirigir?
Cara, isso é um programa inteiro de duas horas de duração. Foi muito difícil, muito prazeroso, e agora é a parte louca. Começar a aprender nos olhos dos espectadores o que é o filme de verdade.

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