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Eleições – o retorno: mais alguns pontos

Legal os comentários que rolaram no post  do desabafo de não ter visto um único vereador gay se eleger em São Paulo. Sobre o assunto tem ainda alguns pontos que eu gostaria de abordar e colocar em discussão.

Alguém falou no Clodovil nos comentários, citando que não vale só colocar um cara gay lá no congresso ou nos legislativos. Acredito, ou pelo menos prefiro acreditar, que não foram os gays que elegeram este senhor deputado. É pra ficar inconformado que ele esteja lá, embora de certa forma a presença dele chama atenção de um público que geralmente não consome notícias sobre política.

Um outro leitor falou que uma candidata travesti em sua cidade declarou que não era a favor de manifestações de afeto entre homossexuais em locais públicos. Bom, se isso for verdade, é sim motivo para não votar em um candidato que se propõe a defender a comunidade. Mas, pelo menos aqui em São Paulo, não era bem esse o caso.

Claro, não estou aqui defendendo a candidatura gay como algo que vai resolver os problemas do mundo. Pelo contrário, até acho que se fossem eleitos, qualquer um dos candidatos a vereadores aqui não teria um desempenho satisfatório ou fantástico. Então, diante disso, porque votar em um gay, só por que é gay?

Oras, pela oportunidade de marcação de território político. Eles em Câmara trariam visibilidade e seria alguém brigando de fato pelos projetos, mesmo que não passassem. Fora que tem a questão proximidade. Até as gays mais fervidas e menos politizadas sabem onde e em que balada encontram Léo Áquilla, Marcos Fernandes, Jacque Chanel, Salete Campari e Kaká di Polly. E isso traz coisas positivas como saber de quem, como e onde cobrar.

Fora que é praticamente impossível esquecer que votou num candidato como eles. Quem sabe aquela estatística de que 60% dos eleitores não se lembram em quem votaram pudesse começar a mudar. Seria uma forma de quem sabe, promover uma mudança gradual na forma de fazer política e inclusive de as pessoas se aproximarem mais desse tema.

Ah, teve outro comentário que chamou atenção. Um leitor falou que eleger um gay seria botar alguém que não ia fazer nada de bom pela comunidade pra mamar nas tetas do governo. Como acredito que a mudança política é algo que acontecerá de forma gradual, pra falar a verdade não vejo problemas nisso. Pelo menos não hoje. Preferiria qualquer um dos candidatos assumidos "mamando nas tetas do governo" do que o Apolinário.

Até porque venhamos e convenhamos tem outras coisas que deviam valer naqueles cálculos de "quanto vale" um parlamentar. Sabemos que os representantes no legislativo ganham muito, até mais do que deveriam na maioria dos casos, e que tem uma série de regalias e benefícios – Ah como eu queria um décimo quarto ou um décimo quinto e auxílio moradia e vale-terno! – mas eu, pelo menos agora, preferia um senador (gay ou não) com vale terno e a homofobia criminalizada do que esse legislativo covarde que temos hoje, cheio de figurões e raposas velhas.

Percebe que o "custo" tinha que ser avaliado também pelo valor "não-material" das ações de um vereador, deputado, senador ou até prefeito, do que simplesmente o quanto aquilo me dói no bolso? Apanhar na rua porque é gay deve ser bem mais doloroso do que pagar alguns impostos e ter um Congresso como o atual.

E pode parecer que não, mas isso tem sim, muito a ver com a política e com o resultado das urnas nas últimas eleições. Se enquanto heteros desperdiçam sem medo de ser feliz seus votos em Dinei, Sergio Mallandro, quase os elegendo, muitos gays podiam "desperdiçar" elegendo também os nossos representantes "caricatos". Entre aspas mesmo, porque a consciência política de muita drag é até maior que de muita bicha dita séria.

E mais, não adianta vir com discursos reducionistas de que a Parada – de São Paulo ou qualquer lugar – virou lugar de pegação e não de reivindicação. Parece que o problema é sempre com o outro, mas quem é esse outro, se não nós mesmos?  A questão é o que cada um de nós fazemos em relação a isso, como vamos fazer as reivindicações ter eco em meio a festa no próximo ano ou na próxima Parada.

Até porque dá para ter consciência política e "catar" dez, vinte, ou beber cair e levantar. Uma coisa não anula a outra. Como cada um se satisfaz sexual ou emocionalmente não deve ser questão primária do quão politizada a pessoa é ou não. Algumas das pessoas mais inteligentes que conheço freqüentam cinemão, curtem banheirão, vivem relação abertas – ou seja, de certa forma distoam da dita norma – e mesmo assim não tem seu ativismo e inteligência prejudicado.

E pra finalizar, é importante lembrar que ainda assim gay não sabe votar. Não é possível termos perdidos parceiros importantes como Iara Bernardes, que criou o PLC 122 quando era deputada e não se reelegeu. É de ficar pasmo se, com o tanto de gente conservadora eleita, não tiver um dedinho das bichas no verde confirma.

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