O pastor e deputado federal Marco Feliciano levou na quarta-feira (24) pessoas que se consideram "ex-gays" em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, em Brasília. E acabou sendo confrontado pelo vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério de Oliveira Silva.
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Rogério classificou a audiência como uma tentativa de mudar a resolução da entidade, que desde 1999, deixou de considerar a homossexualidade doença. E também uma estratégia política para desenterrar projetos, intitulados de "cura gay", para voltar a tramitar na Câmara.
Para ele, a psicologia "acolhe toda forma de sofrimento", mas o problema daquela discussão deve-se a um grupo de pastores e políticos que querem "moldar o mundo a sua convicção religiosa ou ideológica". "O que está colocado aqui é uma estratégia de um grupo de deputados que querem reacender esse debate para derrubar essa resolução que trata da forma como nós, da psicologia, entendemos que o exercício deva ser colocado. A psicologia não pode coadunar com isso", afirmou.
Durante o encontro, Feliciano chamou a homossexualidade de "modismo" e trouxe cinco pessoas que declaram ser "ex-LGBT". Detalhe: todos fazem parte de algum grupo religioso, sendo quatro pastores e uma estudante de psicologia. De acordo com Feliciano, o encontro com "ex-gays" é uma maneira de reduzir o preconceito de héteros e da comunidade LGBT.
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O pastor Robson dos Santos Alves, por exemplo, declarou que após sofrer um abuso sexual se tornou "viciado na prática homossexual". Ele disse que tentou ajuda psicológica, mas que não encontrou apoio na decisão de deixar de ser gay. "É uma fábrica de homossexuais, você não tem apoio, te incentivam a sair do armário", declarou ele, que afirma ter deixado de ser gay pela "força de vontade" e pela "fé".
O pastor Joide Pinto Miranda relatou que foi travesti durante muitos anos. "Cheguei a ser o terceiro travesti mais belo da cidade", declarou ele, que levou uma foto antiga de biquíni para o encontro. "Decidi mudar e fui ajudado por uma psicóloga, sim. Na verdade, eu nunca fui gay, eu nasci hétero, mas a vida me levou a ser gay. Hoje, sou casado há 17 anos e tenho um filho de cinco".
Vale lembrar que em 2013, ano em que a Comissão de Direitos Humanos era presidida por Feliciano, foi colocado em discussão um projeto de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), que pretendia autorizar técnicas que visam mudar a sexualidade de uma pessoa. Em junho, após muitos debates e manifestações, os deputados decidiram arquivar a proposta.