O jornal Estado de São Paulo publicou hoje uma pesquisa inédita, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, órgãos do Ministério da Educação (MEC), onde mostra que a escola é recheada de preconceitos, entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários.
O estudo, realizado em 501 escolas com 18.599 estudantes, conclui que 99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. Do total, 96,5% têm preconceito em relação a pessoas com deficiência e 94,2% na questão racial.
Sobre o bullying, a pesquisa apontou também que 10% dos alunos relataram ter conhecimento de situações em que alunos, professores ou funcionários foram humilhados, agredidos ou acusados injustamente apenas por fazer parte de algum grupo social discriminado. O fator homossexualidade aparece em terceiro lugar, com 17,4%, a maior parte é motivada pelo fato de o aluno ser negro (19%). Em segundo lugar aparecem os pobres, com 18,2%.
No caso dos professores, o bullying é mais associado ao fato de ser idoso (8,9%). Entre funcionários, o maior fator para ser vítima de algum tipo de violência – verbal ou física – é a pobreza (7,9%).
De acordo com o estudo, os alunos que sofrem agressões mais intensas têm desempenho menor na Prova Brasil. "É lamentável e preocupante verificar que isso ocorre, mas os dados servem como alerta para que a escola possa refletir e agir para modificar esse cenário", disse Anna Helena Altenfelder, educadora do Cenpec ao Estado. "As pessoas não são preconceituosas por natureza. O preconceito é construído nas relações sociais. Isso pode ser modificado."
O responsável pelo estudo, o economista José Afonso Mazzon, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA), afirma que "a pesquisa mostra que o preconceito não é isolado. A sociedade é preconceituosa, logo a escola também será. Esses preconceitos são tão amplos e profundos que quase caracterizam a nossa cultura".
Para Daniel Ximenez, diretor de estudos e acompanhamento da secretaria, os resultados vão embasar projetos que possam combater preconceitos que a escola não consegue desconstruir. "É possível pensarmos em cursos específicos para a equipe escolar. Mas são ações que demoram para ter resultados efetivos."