Aconteceu neste final de semana, na cidade de Ilha Solteira, o I Encontro Inter-Regional LGBT Jovem do Estado de São Paulo. O objetivo do evento era discutir ações de prevenção e combate à epidemia de DST/Aids e elaborar propostas para o Estado, baseados no Plano nacional de enfrentamento da Epimedia entre Gays, HSH (Homens que fazem sexo com Homens) e Travestis.
Abertura
O encontro teve início às 20h00, após os cerca de 60 jovens dos mais diversos municípios do Estado terem chegado à cidade. A mesa de abertura contou com presença e fala de Mário Marcio Estremote, do grupo SEIVA de Ilha Solteira; Franco Felix, do Centro de Convivência Joana D’arc; Alessandro Melchior do GADA, de São José do Rio Preto; e Karine Corsiole Miguel, da Secretaria de Saúde de Ilha Solteira.
Karine declarou que "como agente de saúde, é importante que se planeje a atuação da luta contra a Aids à partir de encontros como esse. Para sabermos como devemos atuar". O encerramento da atividade do dia se seu 20 minutos após seu início. Depois, todos foram jantar. A organização disponibilizou uma kombi para fazer o transporte dos jovens do hotel Ilha Palace, onde ficaram hospedados até o local do encontro.
Mesas de Discussões
O sábado foi marcado por dois momentos importantes. As mesas de discussões e oficinas sobre o tema de DST/AIDS e os grupos de trabalho para elaboração de propostas. Na mesa que abriu as atividades do dia foi discutida a conjuntura estadual e nacional do movimento LGBT.
Os palestrantes eram Julian Rodrigues e Paulo Mariante.
Quem iniciou as falas foi Julian, do Instituto Edson Neris e do setorial LGBT do PT. O militante fez um panorama sobre os três eixos de atuação do movimento – no judiciário, no legislativo (pressionando pela aprovação do PLC 122/06 – que criminaliza a homofobia – e do PL 1151/95 – da União Civil) e na execução de políticas públicas.
Julian fez um breve histórico do movimento, falando sobre o levante de Stonewall, sobre a dispersão de lideranças que deu-se na década de 80 até meados dos anos 90 por conta do vírus da AIDS e do crescimento do movimento e das paradas após esse período. O militante afirmou que a luta contra a epidemia do HIV ajudou a articular novamente o movimento, através de financiamentos do Ministério da Sáude, para atividades de Ongs que atuam em prevenção. "Isso acarretou um ônus também, uma certa dependência do movimento de que ‘se não tiver um hotel, um lanche não dá para fazer nada’. Esse quadro está começando a mudar."
Paulo Mariante, advogado do grupo Identidade de Campinas iniciou seu discurso, pedindo que levantassem as mãos os presentes que já tinham ouvido falar no Fórum Paulista LGBT, na lei 10.948/01 – que pune administrativamente casos de discriminação, e na DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de intolerância; Por último pediu para que se manifestassem os que foram em alguma Parada do Orgulho LGBT. Esta última pergunta foi campeã de mãos para o alto.
A partir daí Mariante também citou fatos importantes na história do movimento, como o racha no grupo SOMOS na década de 80 e a criação do grupo CORSA, nos anos 90. O militante classificou o Judiciário do estado como um dos mais conservadores do país. "Foi o judiciário de São Paulo o responsável pela absolvição do coronel Ubiratan, responsável pelo Massacre do Carandiru. É um quadro difícil que temos". Para o advogado, no legislativo também não há muito a se comemorar. "Vejo mais hoje como um momento mais difícil de se passar um projeto como a Lei 10.948 do que há sete anos. Temos na presidência da Assembléia um evangélico que coloca outros evangélicos ferrenhos para relatar projetos contra-LGBT".
Um dos momentos mais marcantes foi depois que a mesa se abriu para perguntas da plenária. Questionado sobre como a virgindade e o não consumo de bebidas alcoólicas seria uma influência para a contenção da epidemia da AIDS, o militante Julian Rodrigues fez um discurso apaixonado criticando a onda da contracultura conservadora em meados dos anos 80 iniciada com o Papa João Paulo 2º e Margaret Tatcher que vêm até os dias atuais. "Acreditar que as pessoas não irão fazer uso de seus corpos e impor uma moralidade de virgindade ao invés de incentivar o uso da camisinha é assinar sentença de morte de milhares de pessoas."
A mesa seguinte, sobre políticas públicas para juventude, aconteceu com presença e fala de Deco Ribeiro, fundador do grupo E-Jovem de Campinas; Denilson Alves da União da Juventude Socialista; Ricky Ferreira, do encontro nacional universitário de diversidade sexual e Julian Rogues.
Oficinas
Com alteração da programação, após as mesas de debates, sucedeu-se a realização de três oficinas: Amor x tesão x Aids; Novas estratégias para trabalhar com LGBT jovem; e Aids nos tempos de Bareback.
Bareback
Luiz Eduardo dos Santos, do Centro de Convivência Joana D’arc e coordenador do programa DST/AIDS de Guarujá foi o ministrante da oficina de bareback – sexo sem camisinha. Sua fala foi pontuada em cima de uma apresentação de slide show, onde questionava sobre a prática. "Muitos não entraram na discussão porque não sabiam o que era o bareback", afirmou.
Entre os fatores que fazem com que os jovens de hoje não temam tanto o HIV, Luiz Eduardo cita por exemplos os filmes pornôs bareback. "A produção deste tipo responde a 60% do total filmado na Inglaterra". "As campanhas de prevenção até agora eram impositivas, e eu tenho uma série de críticas em relação a esse modelo. Eram do tipo ou use camisinha ou contraia Aids, uma coisa ‘ame-o ou deixe-o’ dos tempos da ditadura militar". Para o ativista, hoje a "AIDS não tem mais a cara do Cazuza" e, por isso, assusta menos os mais jovens.
Amor x tesão
Na oficina sobre amor, tesão e AIDS, os jovens falaram mais do que Mario Marcio Estremote, que coordenou o grupo de discussão. O debate girou em torno da importância de a prevenção ser trabalhada em aulas sobre educação sexual nas escolas. "Mas também temos que pensar que ainda é pouco o número de pessoas com aulas assim. Em escolas particulares principalmente".
Mario, do grupo SEIVA, reportou que as escolas particulares de Ilha Solteira usualmente se objetam a aulas de prevenção, mas quando estoura algum caso de gravidez na adolescência, procuram a ONG pedindo materiais informativos e preservativos.
Os jovens também falaram como está a questão de prevenção entre seus pares mais velhos e de mesma idade. "Quando saímos com um cara de 30 anos a primeira coisa que eles fazem é tirar uma camisinha da carteira. Os de 17 dizem que não vão usar camisinha", relatou um garoto.
Plano nacional e grupos de trabalho
Depois do almoço, a plenária do encontro assistiu à fala do ativista Anselmo Figueiredo, da CASVI, de Piracicaba. O militante explicou o conceito de vulnerabilidades e o plano de enfrentamento da epidemia entre gays, travestis e HSH do ministério da saúde.
O discurso do rapaz focou na importância de